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Hic Svnt Leones

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Núcleo Semanal

De cerveja na mão, com um amigo que fiz através do grupo, dava mais uma volta pela sala. Senti que era a centésima, mas havia sempre tanto para ver. Vasculhava as paredes de alto a baixo, sem conseguir vislumbrar um único ponto de tinta branca, tantos eram os cachecóis, camisolas e fotografias penduradas. “Filipe, o que quer isto dizer?”

Parei à frente de uma que me chamou particularmente a atenção. Já tinha visto aquela frase tanta vez sem nunca saber o seu significado. Agora, deparava-me com ela na fotografia de uma tarja da Torcida Verde, na «casinha».

Não foi o Filipe que me respondeu. Prontamente se virou para trás o chefe da claque, que falava com outro membro. “«Hic Svnt Leones»? Significa «Aqui há Leões». E esta aqui – apontou um pano gigante de um leão, exatamente por baixo da tarja na fotografia – é uma bandeira que oferecemos a uma claque com quem temos amizade. Não cabia no nosso setor, então oferecemos-lhes”.

claques
Foi o primeiro minuto de conhecimento de uma hora que se encheu de histórias ultras: a dos italianos, fãs de basquetebol, que como claque trabalharam para reerguer um clube falido e com jogadores amadores o devolveram aos escalões profissionais; a das inúmeras amizades leoninas com outras claques como a da Fiorentina, Hammarby e Rapid Viena; a que pairava por detrás do pó de cada foto, umas em Celtic Park com os Leões de Portugal, outras em Dortmund com os fanáticos adeptos do Borussia. Naquelas paredes estão penduradas décadas de história para contar e os que perdem uns minutos a descrevê-la deixam transparecer nos olhos o brilho de um grande amor.

Na semana anterior tinha ali levado o meu pai, como já antes levei o meu irmão, namorada e amigos, tanto àquela «casinha» como a outras de Alvalade. Quando saí, disse-lhe “são pessoas normais, vês?”. Respondeu-me com um “oh, claro!”, como se fosse a verdade mais absoluta deste Mundo. Infelizmente, não é. Dói-me ver a facilidade com que a ignorância leva as pessoas a atacar as claques. Eu, por estar de pé na bancada a gritar pelo clube que amo, sou apelidado de delinquente, criminoso e de pessoa que incita à violência quando, na verdade, os únicos desaguisados que tive na vida foram com o meu irmão, em miúdo, por termos mau perder no PES.

Não me venham dizer que eu sou uma exceção. Não! Eu sou a regra! Os delinquentes sim, são as exceções que nos confirmam como regra. Não nego que haja pessoas com objetivos condenatórios no seio das claques. Mas há nas claques como há em todos os grupos – seja nas associações de estudantes ou em simples conjuntos de amigos. Desde os meus 15 anos que vejo os jogos do Sporting no seio dos grupos organizados, tanto em casa como fora, e posso dizer que hoje, com 21 anos, vi mais pancadaria nos jogos do Atlético da Malveira que no meio da Juventude Leonina. E não, não foram encapuzados com tochas na mão, mas «senhores» de camisa, sapatos de vela e chaves de um Mercedes no bolso.

Como diz a maior e mais antiga, “isso que diz toda a gente, que somos violentos e somos delinquentes, não lhes faço caso, vou a todo o lado”. Porquê? Porque todos queremos ter aquele brilho nos olhos, daqui a uns anos, quando tivermos centenas de histórias para contar. Porque desejamos trocar de cachecol com um adepto do Celtic em plena Escócia. Porque aqui há leões. Hic Svnt Leones. Sempre.

Há jornadas assim

cab hoquei

Há dias menos bons para o hóquei português, e o passado fim-de-semana foi um desses dias. Em fim-de-semana de provas europeias, os resultados não foram os melhores para alguns, dois clubes foram mesmo eliminados, mas nada ainda está perdido.

Costuma dizer-se que à terceira é de vez. Mas, desta vez, foi à quarta. Depois de três derrotas frente ao Benfica, o Vendrell derrotou o Benfica à quarta tentativa. No Pavilhão da Luz, o Benfica até entrou melhor, com um golo de Diogo Rafael, aos 17 minutos, mas um guarda-redes do clube espanhol bastante inspirado impediu o Benfica de aumentar a vantagem. Como um azar nunca vem só, num minuto o Benfica deixou de estar a ganhar para estar a perder por 2-1. O Benfica fez tudo para empatar, chegou a atirar uma bola ao poste, mas quem foi feliz foi o Vendrell, que, nos minutos finais, marcou o terceiro. Foi um jogo infeliz para o Benfica, que não teve a sorte do seu lado. Com este resultado, os campeões europeus dividem a liderança com os espanhóis, mas a hipótese de acabar em 1º lugar ainda não está perdida.

Quem também não foi feliz foi a AD Valongo. Num jogo com alguma polémica, os líderes do campeonato perderam, na Corunha, frente ao Liceo. Miguel Viterbo ainda colocou a formação portuguesa em vantagem, mas não impediu a derrota por 8-3, que deixa o Valongo em 2º lugar. Foi a primeira derrota da temporada, logo frente a um dos favoritos na prova. E não será esta derrota a manchar a boa imagem causada pelo surpreendente Valongo na Liga Europeia e a pôr em perigo o apuramento para a próxima ronda. Nada está perdido se o Valongo continuar a jogar como tem jogado. Este jogo também teve incidentes que em nada contribuem para o espectáculo que é o hóquei. Telmo Pinto sofreu um traumatismo craniano durante o jogo, um acto propositado, infeliz e sem razão, por parte dos jogadores do Liceo. Mas o Valongo respondeu na mesma letra, ao lesionar um jogador espanhol. Uma acção não justifica a outra e, onde o Valongo podia ter-se mostrado superior, desceu ao mesmo nível do Liceo.

Mas também houve bons resultados para os clubes portugueses na Liga Europeia. Porto e Oliveirense ganharam os seus jogos, que eram importantes para o futuro das equipas na prova. Os campeões nacionais garantiram o apuramento ao ganharem por 6-2 no terreno do SHG Herrigen. Ao contrário do que o resultado possa mostrar, foi um jogo complicado, principalmente na primeira parte, onde os alemães bateram o pé ao Porto, com os azuis e brancos a estarem a ganhar só por 3-2. Na segunda parte, o poderio dos comandos de Tó Neves veio ao de cima e o Porto venceu com naturalidade.

A Oliveirense também venceu o seu jogo. Era decisivo para as contas do apuramento e só a vitória interessava. Na recepção aos alemães do Iserlohn, os homens de Nuno Resende golearam por 8-1 e voltam a estar na luta pelo apuramento. A três pontos do líder, Valdagno, e empatado na segunda posição com o Reus, pede-se uma Oliveirense ao seu mais alto nível para conseguir o apuramento.

Na Taça CERS, só o Turquel é que sorriu. O Braga não conseguiu anular a derrota que sofreu, em Espanha, frente ao Noia, por 4-3, e voltou a perder em casa por 1-0. O mesmo aconteceu com o Óquei de Barcelos. Depois da derrota em casa por 5-3, frente ao Hockey Breganze, os barcelenses tinham a muito complicada missão de, em Itália, dar a volta ao resultado. Mas com outra derrota, por 6-4, despediram-se da Taça CERS. O único representante português em prova é o Turquel. Depois da vitória fora por 4-5 frente aos italianos do Follonica Hockey, em casa, conseguiram outra vitória, desta vez por 1-0, que bastou para se apurarem para os quartos de final. A esperança portuguesa na Taça CERS reside, portanto, no Turquel.

Turquel
Turquel, o unico clube português na Taça CERS
Fonte: http://www.hct.pt

Terminada a jornada europeia, é tempo de voltar as atenções para o campeonato. O Benfica venceu o Candelária por 5-2 e reduziu a distância para Porto e Oliveirense, com 30 pontos, e Valongo, com 33. O Benfica vs Porto está ai.

FC Porto: o que mudou em meia época?

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dragaoaopeito

A 18 de Agosto de 2013 jogava-se o Setúbal-Porto no Bonfim. Quinze jogos depois jogou-se o Porto-Setúbal no Dragão, com a equipa azul e branca a manter-se no 3ºlugar (a 3 pontos de Benfica e a 1 do Sporting) através de uma exibição bastante melhor do que aquela efectuada na 1ª jogada do campeonato.

Fazendo um paralelismo, em ambos os jogos são evidentes as diferenças encontradas na equipa de Paulo Fonseca:

Onze do Porto na 1ª jornada: Helton; Danilo, Otamendi, Mangala e Alex Sandro; Fernando, Defour e Lucho; Licá, Josué e Jackson Martinez.
Onze do Porto na 16ª jornada: Helton; Danilo, Maicon, Mangala e Alex Sandro; Fernando, Lucho e Carlos Eduardo; Varela, Ricardo Quaresma e Jackson Martinez.

Parecidos? Não. Não é que tudo tenha mudado, mas a verdade é que as dinâmicas da equipa alteraram-se por completo. Na defesa a única mexida foi a troca de Otamendi por Maicon. A explicação, já referida em outros artigos meus, é a sucessão de erros cometidos pelo central argentino em inúmeros jogos para o campeonato, Taça de Portugal e Liga dos Campeões, levando a que Maicon fosse aos poucos marcando pontos na competição por um lugar na equipa. O problema é que o novo titular da defesa do Porto também comete bastantes erros (no jogo contra o Setúbal obrigou a uma saída de Helton que teve como consequência um cartão amarelo para o guarda-redes brasileiro) e parece-me que até ao fim da época continuará a haver muita competição pelo lugar.

No meio-campo, além da provável inversão de triângulo, Defour foi saindo da equipa, cedendo o seu lugar a Herrera e, nos últimos tempos, a Carlos Eduardo. O centro-campista belga, sedento de estar no Mundial, não só está descontente no Porto como teceu algumas críticas ao campeonato português, sendo a sua saída do clube uma mera questão de tempo (possivelmente só em Junho, já que não há interesse por parte do seu empresário em emprestar o jogador).

Carlos Eduardo, que começou na B sem grande alarido (sempre se criticou o facto de Kelvin, Herrera e Reyes estarem no Porto B mas pouco se falou do médio brasileiro), aproveitou da melhor forma as oportunidades que lhe foram sido dadas por Paulo Fonseca, levando inclusive a que o treinador do Porto descesse Lucho e atribuísse a posição de (falso) 10 ao número 20 do Porto. Ainda que em jogos de maior dificuldade, nomeadamente contra Benfica e Sporting, tenha estado algo apagado, o brasileiro fez por merecer um lugar cativo no relvado no Dragão.

parabens lucho
El Comandante divide opiniões mas nunca corações
Fonte: FCPorto

Ainda no meio-campo do Porto, a prestação que Fernando Reges teve nas últimas 16 jornadas grita por uma renovação que tarda em chegar. Como já defendi noutras semanas, a prioridade desta renovação deveria anteceder qualquer outra e todos os portistas, jogo após jogo, pedem ao Presidente que algo seja feito. Quanto a Lucho Gonzalez, ultimo elemento cativo neste meio-campo e que completou 33 anos no passado Domingo, assumo existir um “conflito” entre Razão e a Emoção no que toca às suas prestações. Parece-me evidente que o seu nível exibicional baixou consideravelmente nas últimas jornadas; contudo, Lucho é sempre Lucho, e a sua saída no onze não me parece provável nas mãos de um treinador que teme efectuar qualquer decisão. Dada a escassez de soluções, acredito apenas que Josué, Herrera e Defour alternarão a titularidade em jogos das Taças, em que o argentino se sentará no banco para “descansar”.

No trio ofensivo, à excepção do intocável Jackson Martinez, que, ainda que tenha 20 jogos sem marcar vai manter a sua titularidade absoluta no plantel (mesmo existindo o argelino Ghilas, que nem nas Taças joga), as restantes posições alteraram-se por completo em comparação com a 1ª jornada do campeonato, com as saídas de Josué e Licá (é incompreensível que estes tenham sido os extremos do Porto) para as entradas de Varela e Quaresma.
Josué jogava fora da sua posição. O seu talento era claramente desaproveitado a falso-extremo e as suas exibições no meio-campo têm provado isso mesmo. Quanto a Licá, o esforçado ala português passou do “titular de Paulo Fonseca” a não convocado alguns meses depois, provavelmente as decisões mais estranha e mais correcta do treinador português.

Quaresma, o mal-amado de todos os que não gostam de futebol mas que apenas vêm as suas cores clubísticas, aquele a que todos apontam o dedo por tudo e por nada e cuja carreira reduzem a um ano no Dubai, chegou ao Porto há 15 dias e já agarrou o lugar, assumindo a responsabilidade e a iniciativa de várias jogadas individuais e colectivas nos últimos 2 jogos. Claramente ainda lhe falta maior entrosamento e melhor condição física, mas com o tempo tudo vai melhorar e, além da equipa e do próprio jogador, também Paulo Bento fica a ganhar (não neste momento, por enquanto) com mais uma opção para a selecção.

Lucho e Quaresma; Jackson e Carlos Eduardo: duas gerações portistas
Lucho e Quaresma; Jackson e Carlos Eduardo: duas gerações portistas
Fonte: FC Porto

Quanto ao “Drogba da Caparica”, Varela, parece-me poder fazer uma época ao nível da da conquista da Liga Europa. Passando a ter menor responsabilidade (Ricardo Quaresma passa a ser a “estrela” da equipa, aquele que tem mais “obrigação” desequilibrar), tem mais espaço e menos pressão para desenvolver as suas jogadas, podendo assim melhorar o seu nível exibicional ao longo da época e garantir o visto para o Brasil.

Por fim, importa ainda salientar o facto de em Agosto Kelvin andar pela B e Quintero se apresentar como a nova arma secreta do Porto e agora, em Janeiro, ser o brasileiro do minuto 92 que tem direito à titularidade em jogos da Taça e a 30 minutos no campeonato. O colombiano foi remetido pela equipa técnica para um estatuto de jogador quase dispensável, sendo que nem na Taça joga e apenas entra em jogo para figurar nas estatísticas da partida, estando numa situação completamente incompreensível.

Após mais de 150 dias do primeiro jogo contra o Setúbal, o Porto mudou, tendo aparentemente sido encontrado o melhor onze da equipa azul-e-branca à 16ª jornada. Contra uma apática equipa a jogar de “pantufas” (palavras do sábio Luís Freitas Lobo), o Porto apresentou um domínio absoluto. Importa agora saber não só como estará contra equipas de maior valor, como a regularidade que apresentará nos próximos meses.

Até onde pode chegar o Wolfsburg?

Juntar-se ao Borussia Dortmund e ao Bayer Leverkusen na perseguição ao Bayern München parece ser o objectivo.

Com os 40 milhões de Euros gastos em Kevin de Bruyne e em Luiz Gustavo (25M€ e 15M€, respectivamente), o Wolfsburg torna claro que ambiciona algo mais do que o meio da tabela.
Depois de se ter sagrado campeão alemão, na época de 2008/09, a equipa, que tinha em Grafite a sua principal referência, desceu de rendimento, tendo ficado apenas dois pontos acima da linha de água, em 2010/11. O Wolfsburg é conhecido por ter sempre grandes avançados, nos últimos anos, como é o caso de Grafite, Dzeko, Dejagah, Obafemi Martins, Mandzukic e, agora, Olic.

Dzeko e Grafite formaram uma dupla demolidora
Dzeko e Grafite formaram uma dupla demolidora / Fonte: futebolalemao.ig.com.br

Dieter Hecking é o actual comandante de uma equipa com velhos conhecidos dos portugueses, como é o caso do guarda-redes e capitão Diego Benaglio. A restante defesa é um misto de juventude (Knoche e Ricardo Rodríguez) e experiência (Naldo e Ochs). A defesa é claramente um dos pontos fracos desta equipa, que sofreu 19 golos em 20 jogos realizados esta época.

O meio campo é fenomenal! Medojevic, Luiz Gustavo e ainda Polak garantem segurança, quer a defender, quer a distribuir, na primeira fase de construção de jogo. Têm à sua frente mais um velho conhecido dos relvados portugueses, Diego, o brasileiro que leva já seis golos em 15 jogos, sem contar com as suas assistências e fintas habituais. Má sorte teve o português Vieirinha, que rasgou o ligamento cruzado do joelho esquerdo e ainda não é conhecida a data de regresso à competição, mas os alemães não deixam de contar com grandes peças para os flancos. Ivan Perisic, de 24 anos, junta no seu currículo passagens pelo Borussia Dortmund e Club Brugges, clubes que são conhecidos pela sua fantástica escola de talentos. Maximilian Arnold, uma das maiores promessas alemãs, tem apenas 19 anos mas já leva quatro golos em apenas 11 jogos; é um jogador a ter em conta para os próximos anos. Mas, apesar de ainda não ter realizado qualquer minuto como jogador do Wolfsburg, a cereja em cima do bolo será a inclusão do belga Kevin de Bruyne. O jogador tem tudo para triunfar nos Wölfes, e bem terá de justificar o investimento!

Diego e Olic entendem-se às mil maravilhas no ataque / Fonte: vfl-wolfsburg.de
Diego e Olic entendem-se às mil maravilhas no ataque / Fonte: vfl-wolfsburg.de

Olic é o nome do goleador desta equipa. Apesar dos seus 34 anos, o experiente croata parece manter a eficácia, demonstrada anteriormente na Bundesliga ao serviço do Hamburgo e do Bayer München.
Alcançar o 3º lugar seria um resultado excelente, e já só estão a três pontos da posição que é actualmente ocupada pelo Borussia Monchengladbach, que joga contra o Bayern, de Guardiola, na próxima jornada. Mas, para lá chegar, têm de ultrapassar também o Borussia Dortmund, que está a apenas dois pontos. Pode facilmente dizer-se que o Wolfsburg atravessa o seu melhor momento: estão invictos há 10 jornadas e, na próxima, recebem o Hannover 96.
Com a chegada de Kevin de Bruyne e de, provavelmente, mais um avançado de qualidade e um defesa, é provável que continuem o bom campeonato que têm feito, o que lhes permitá alcançar o tão desejado lugar que dá acesso à UEFA Champions League.

Feita esta análise, deixo a pergunta: até onde pode ir o Wolfsburg?

Urge reflectir acerca do Futebol de Formação

futebol de formação cabeçalho

“Temos de encontrar uma solução, seja onde for. Com o valor do Matic não é fácil. É o melhor médio defensivo do Mundo. Soluções para o Matic na formação? Tinham de nascer 10 vezes”. Foi este o comentário irónico que Jorge Jesus teceu após ter sido questionado acerca da possibilidade de se encontrar na formação do clube um substituto para Matic no meio-campo do Benfica.

A verdade é que formar um jogador com a mesma qualidade de Matic, um dos melhores médios do mundo, recente candidato ao prémio de melhor golo na cerimónia da FIFA, leva tempo. Certamente Matic, tal como Messi, ou Zlatan, ou Ribéry ou até mesmo Cristiano Ronaldo, sofreu um processo de evolução, processo esse que se desenrolou na formação. Matic terá nascido também 10 vezes até chegar onde chegou? Neste momento, Jorge Jesus vê numa miragem um possível “substituto” para Matic, mas não será um erro o técnico do Benfica pensar nesta perspectiva? Na altura em que Eusébio e Pelé estavam na berra, talvez os seus treinadores tenham tido o mesmo sentimento de frustração, mas esse pico de qualidade nessa geração não impediu as gerações seguintes, incluindo a actual, de terem uma montra de ouro para exibir mundo fora.

A ironia utilizada por Jorge Jesus acaba por ser, ela própria, irónica. Principalmente quando, bem pouco tempo antes desta declaração, Luís Filipe Vieira tinha salientado a importância das equipas da formação no clube, falando até de um “Benfica made in Benfica”. Dia 17, Jorge Jesus afirmou estar em consonância com Luís Filipe Vieira na crença de que em 2020, 60 ou 70 por cento do plantel será da formação… Acreditam? Hoje, o Benfica joga contra o Marítimo e no 11 inicial estão exactamente, e se as minhas contas não falham, zero portugueses. Assim sendo, para este objectivo de 2020 do Benfica se concretizar, só vejo duas hipóteses: ou o Benfica já está a tratar da contratação de miúdos argentinos e sérvios para os seus escalões de formação actuais ou daqui a seis anos o treinador já não é o mesmo.

Jorge Jesus podia estar frustrado com a “venda” mal concretizada de Matic (valor da cláusula de rescisão: 50 milhões, valor executado: 25 milhões), mas isso não é desculpa para o técnico não pensar antes de falar. Se a perda de Matic lhe ia causar tanto transtorno, devia ter pensado nisso quando o Benfica não passou aos oitavos-de-final da Champions, passagem que iria garantir muito dinheiro que, certamente, iria preencher a lacuna financeira e evitar a necessidade de vender de imediato o talento sérvio.

Será que o treinador do Benfica, antes de ser o que é actualmente, nunca foi um jovem com sonhos e ambições? Será que nunca frequentou um curso de treinadores, onde realçam a importância que um treinador tem no percurso dos atletas? O seu comentário, da forma como foi dito e construído, independentemente da mensagem subjacente que queria supostamente transmitir, foi desagradável. Conseguiu, em poucas frases, descredibilizar o trabalho de jovens futebolistas e de técnicos da formação. Mas igualmente desagradável foi a forma como a imprensa usou as reacções de dois jogadores da formação do Benfica. Os jornais tinham duas hipóteses: criar polémica (como fizeram) ou fazer uma notícia que espelhasse a garra destes jovens dispostos a lutar para responder ao “desafio” hercúleo de Jorge Jesus. Tanto Filipe Nascimento como Bernardo Silva tiveram reacções legítimas, dignas do orgulho benfiquista, com potencial de informação bastante positiva para uma abordagem séria sobre a problemática do futebol formação. São benfiquistas de gema, jogam há já muitas épocas de águia ao peito e representam o resultado real do investimento na formação. A águia é o emblema que melhor conhecem, daí ser natural ambicionarem um lugar na equipa principal do seu clube. A imprensa não deveria ter optado por mostrar que a falta de incentivo de Jorge Jesus não derrota “a raça, o crer e a ambição” dos atletas da formação que todos os dias estão dispostos a abdicar de regalias normais de jovens das suas idades e a “morrer nove vezes” para atingirem o “sonho de uma vida”?

Surpresa na Taça

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cab futsal

Eis os resultados da Quarta Eliminatória da Taça de Portugal:

18/1/2014

AM Portela 6-4 Vila Verde
AMSAC 6-2 Lameirinhas
GD Fabril 9-10 Dramático Cascais (após penalties)
Rio Ave 2-5 Sp. Braga
Quiaios 3-4 ACR Vale de Cambra (após prolongamento)
Vinhais 5-8 Leões de Porto Salvo (após prolongamento)
Igreja Velha 4-2 SL Olivais
Burinhosa 5-3 Póvoa Futsal
GS Loures 2-3 SL Benfica

19/1/2014
Gualtar 4-0 Fonsecas Calçada
Sporting CP 5-7 Fundão (após penalties)
Arsenal Parada 5-4 AJAB Tabuaço
Unidos Pinheirense 6-2 Académica
Unidos Leceia 4-5 Feirense
Modicus 1-0 Boavista
Montes Alvorense 1-5 Belenenses

Uma coisa é certa, após se disputarem os 16 jogos referentes à quarta eliminatória da Taça de Portugal em Futsal: vamos ter um vencedor diferente daquele verificado na época passada. Isto porque o campeão em título, Sporting CP, caiu aos pés do Fundão. Mesmo jogando em casa, a equipa de Nuno Dias não conseguiu levar a melhor sobre um Fundão em claro crescimento, comparando com a fase inicial da época. Após os 40 minutos regulamentares, verificava-se um 3-3, sendo que o último golo foi marcado a 30 segundos do fim do tempo regulamentar, por intermédio de Noé Pardo (Fundão). No prolongamento, cada equipa marcou um golo, levando a decisão para a lotaria das grandes penalidades. Aí, a equipa forasteira sorriu e chocou o Pavilhão Paz e Amizade, cuja moldura humana não esperava este desfecho.

Joel Rocha, treinador do Fundão / Fonte: ZeroZero
Joel Rocha, treinador do Fundão / Fonte: ZeroZero

Longe do brilhantismo esteve também o Benfica. Passou, é certo, mas sofreu bastante na visita a Loures, para jogar com o clube local, oriundo do segundo escalão. Um parcial final de 3-2 catapultou a equipa encarnada para os oitavos-de-final, num jogo onde o Benfica jogou “q.b.” para assegurar o apuramento, deixando a nota artística para outra ocasião. Fica também a referência para um Loures extremamente combativo, que esteve a vencer 1-0 e 2-1, tendo o jogo chegado ao intervalo empatado a uma bola.

Em grande plano continua o Braga. Dos três primeiros classificados na tabela, era aquele que aparentava ter a tarefa mais complicada, a par do Sporting, com a agravante de ter de ir jogar fora, no complicado pavilhão de Vila do Conde, para jogar com o Rio Ave. No entanto, um parcial claro de 5-2 serviu para manter o clube minhoto na luta pela conquista do troféu. O principal favorito (Sporting) já não pode reconquistar a taça, e cada vez mais o Braga se perfila como um forte candidato à conquista da Taça de Portugal, estando na “pole position”, a par do Benfica, LPS e, eventualmente, o Fundão.

Do principal escalão, sinal verde para mais quatro equipas: o Leões de Porto Salvo, como é seu apanágio, viveu mais um jogo onde não faltaram golos. Precisou do prolongamento, mas venceu na deslocação a Trás-os-Montes, onde derrotou o Vinhais por 8-5; o Modicus Sandim, que apenas precisou de um golo sem resposta para eliminar o também primodivisionário Boavista; o Belenenses/El Pozo, que venceu tranquilamente em Alvor, no Algarve, por 5-1; e, finalmente, o Dramático de Cascais, que, na deslocação ao Barreiro, eliminou o Fabril por 10-9, após penalties.

Para concluir a análise da participação das equipas da Liga Sport Zone, destaque pela negativa para as quatro formações eliminadas por equipas de escalões inferiores. Em primeiro lugar, a eliminação do SL Olivais, perante uma equipa do escalão distrital da AF Leiria, a Igreja Velha. Um parcial de 4-2 ditou o afastamento da equipa Lisboeta da prova. Depois, a Académica, que foi implacavelmente derrotada no campo do Unidos Pinheirense, por 6-2. A equipa de Coimbra está a passar por uma fase extremamente complicada, com a saída do treinador Tó Coelho e respetivo adjunto, e pela rescisão em massa de jogadores do plantel principal, de onde se destacam Jander e Eskerda, ambos contratados pelo Rio Ave. O “lanterna-vermelha” da competição, Vila Verde, também perdeu na deslocação a Loures, para jogar com a AM Portela (6-4). Por último, o Póvoa Futsal, que perdeu 5-3 no campo da Burinhosa, em Alcobaça.

Devolvam o futebol ao povo!

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O Sexto Violino

Desde os seus primórdios, em meados do séc. XIX, o futebol tem sido uma actividade de lazer e entretenimento que une gerações e quebra barreiras sociais. Ainda que nunca tenha sido exclusivo dos mais desfavorecidos, nos bairros pobres este desporto constituía muitas vezes o único foco de alegria de quem, depois de uma semana de trabalho árduo nas fábricas ou nas oficinas, podia finalmente descomprimir a jogar ou a assistir a um jogo.

De então para cá, a enorme popularidade do futebol levou ao surgimento de uma indústria gigantesca: hoje em dia as bolas e as botas já não são de camurça, mas sim de materiais sintéticos e aerodinâmicos; os clubes foram sendo transformados em empresas e tratam os adeptos como clientes; comercializa-se um sem-número de artigos desportivos, confeccionados por marcas que se tornaram gigantes multinacionais; os jogadores já não jogam por amor à camisola, e são agora profissionais em busca de contratos milionários. A este respeito, Manuel Sérgio, filósofo e ex-professor de José Mourinho, escreveu recentemente que “o espectáculo desportivo pouco mais é do que uma empresa capitalista, onde a mercantilização do desporto se processa em vários níveis: (…) até os campeões, os heróis de que o sistema capitalista diz orgulhar-se, são mercadoria que se compra e se vende”. Esta mercantilização, ou seja, esta forma de olhar para tudo o que envolve o futebol sob a perspectiva do lucro, também afecta, como não podia deixar de ser, aqueles sem os quais não havia nem futebol nem a tal indústria adjacente: os adeptos. Estes, seja através dos preços dos bilhetes seja através da transmissão dos campeonatos em sinal fechado, vêem-se hoje muitas vezes privados da possibilidade de ver jogos de futebol – algo a que sempre tiveram direito desde que este desporto existe.

É normal que os pequenos clubes aproveitem as oportunidades que têm para fazer um pouco mais de dinheiro do que o normal, mas não podem ser os adeptos a pagar essa factura. Quem vai ao futebol são os mesmos que estão actualmente a sofrer sérios cortes nos seus vencimentos, que vêem os seus impostos aumentar, que têm empréstimos para pagar e todos os meses deitam contas à vida. Como se justifica, por exemplo, que um bilhete para o Estoril-Sporting ou para o Arouca-Sporting custe 25€? Chegámos ao ridículo de, na 15ª jornada, ter havido ingressos para o Benfica-Porto mais baratos do que para o jogo da Amoreira. Não podem ser os adeptos a financiar a ambição dos clubes mais pequenos, ou a pagar as dívidas que estes contraíram.

Falo dos clubes pequenos devido ao aproveitamento que eles fazem do bom momento das equipas grandes (e cujos prejudicados são os adeptos), mas podia também falar do Sporting. Aqui não há clubismos, há sim uma realidade que tem de mudar quanto antes. Que sentido faz haver jogos a mais de 30€ num campeonato como o nosso, como acontece semanalmente em Alvalade? Será que devia ser permitido os preços poderem atingir os 75€, como acontecerá no Benfica-Sporting do próximo mês? E se uma pessoa não quiser ou não puder fazer-se sócia? Vão privá-la de ver um jogo de futebol?

Enquanto não se procede a uma mudança mais global que acabe com os valores astronómicos do futebol, podem ir-se alterando pequenas coisas que fazem a diferença. No campeonato espanhol, por exemplo, os clubes mais modestos mantêm um braço-de-ferro com Real Madrid e Barcelona relativamente aos direitos televisivos. Os dois colossos recebem 120 milhões/época cada um, enquanto que qualquer uma das outras equipas recebe menos de metade disso. Em 2011/2012, o Granada, 17º classificado, recebeu 12M. Isto levou a que Francisco Roca, responsável da La Liga, tenha feito um comentário curioso em Abril de 2013: “somos a única Liga europeia, juntamente com a portuguesa, que ainda vende os direitos televisivos de forma individual (…). Há duas grandes equipas que obtêm mais de 50% das receitas e temos de combater isso”. Espanha poderá adoptar o modelo inglês, país onde o City, campeão em 2012, recebeu 60,6M e o último classificado Wolverhampton arrecadou 39,1M. Era bom que o futebol português optasse pelo mesmo caminho, no sentido de reduzir o fosso entre os clubes. Esta seria apenas uma de muitas possíveis medidas, que não me cabe a mim enunciar. O que não pode continuar a acontecer é os clubes alhearem-se da realidade que os rodeia e cobrarem preços altíssimos, como hoje acontece em Portugal. Os adeptos representam mais do que à primeira vista possa parecer. Sem eles, a médio prazo não haverá futebol. A curto prazo até pode haver, mas os estádios terão sempre o aspecto desolador de um Arouca-Rio Ave.

Visão de Mercado

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A Fiorentina é um clube que está a meio caminho entre os “novos ricos”, dispostos a gastar balúrdios em contratações, e os emblemas com orçamentos menores, sem grandes possibilidades de investir. Ter dinheiro é, obviamente, uma condição muito importante para construir uma equipa capaz de lutar por objectivos ambiciosos; contudo, por vezes não chega. Os italianos são, neste momento, um dos melhores exemplos de como se deve abordar o mercado: contratam jogadores que, na maior parte dos casos, acrescentam qualidade ao plantel (sendo certo que é impossível ter 100% de sucesso) e aproveitam oportunidades de negócio. Os resultados estão à vista.

Na última semana, a formação viola reforçou o seu elenco com Anderson, à procura de um novo rumo para a sua carreira, e Matri, sem espaço em Milão. Já tinha defendido a saída do brasileiro do United e estou bastante curioso para perceber se voltará a jogar como médio ofensivo e, especialmente, se será capaz de confirmar todo o potencial que lhe era reconhecido. Tem até ao final da época para convencer a Fiorentina a desembolsar 6,5 milhões de euros para o adquirir em definitivo, mas para já tem de garantir um lugar no 11, o que pode não acontecer de imediato. Borja Valero é um indiscutível e um médio de grande nivel, Aquilani e Pizarro são bastante utilizados por Montella, Matias Fernández tem sido titular nos últimos jogos e ainda há o experiente Ambrosini (se se pode criticar uma contratação do emblema de Florença, terá de ser a do ex-Milan). No que diz respeito a Matri, é um negócio que beneficia ambas as partes. O avançado, que certamente tem como objectivo ir ao Mundial, estava tapado por Balotelli e a Fiorentina viu-se obrigada a ir ao mercado devido a (mais) uma lesão de Giuseppe Rossi. O substituto do melhor marcador do campeonato teve uma estreia auspiciosa, ao marcar dois golos no triunfo sobre o Catania.

O miserável 13º lugar na época 2011/2012 foi a gota de água para os dirigentes do clube viola, que decidiram investir em grande no reforço do plantel. Chegaram a Florença jogadores como Savic, Gonzalo Rodríguez, Borja Valero, Aquilani, entre outros, e os resultados foram significativamente melhores (4º lugar na Serie A). Para este ano, o investimento que foi feito à partida mostrou claramente que a Fiorentina tinha a intenção de, pelo menos, chegar à Champions. Mario Gómez foi a contratação mais sonante (e inesperada). O panzer alemão era pretendido por meia Europa, mas acabou por rumar ao Artemio Franchi por 16 milhões de euros. Apesar de não estar a ter o impacto que se previa (devido a problemas físicos), quando estiver na melhor forma será titular no ataque. Joaquín, ala experiente que renasceu no Málaga, e Ilicic, espectacular médio ofensivo que se destacou no Palermo, foram outros reforços de enorme qualidade. Ainda assim, o espanhol está bem longe do nível que apresentou na última temporada. Já o esloveno vai começando, finalmente, a ter mais tempo de jogo, actuando surpreendentemente como avançado.

Num ano em que a Roma e o Nápoles também investiram muitos milhões de euros no reforço dos seus plantéis, o quarto lugar provisório da Fiorentina é um indicador claro da capacidade dos jogadores que Montella tem à disposição. O emblema de Florença ainda está em todas as competições e a hipótese de chegar ao terceiro lugar mantém-se em aberto. Caso o apuramento para a Champions se confirme (o que não é fácil, dada a valia dos adversários), o clube viola, onde brilhou Rui Costa, poderá assumir a candidatura ao título já na próxima temporada. Tem, nesta fase, um plantel vasto em quantidade e qualidade, ainda com margem de progressão – jovens como Rebic, potente avançado croata, Wolski e Zohore têm talento para se afirmarem – e que, com alguns reforços cirúrgicos, sobretudo no sector defensivo, pode tornar-se numa equipa capaz de lutar por títulos todos os anos.

A confiança cega de Fonseca

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eternamocidade

“Tenho uma confiança cega de que seremos campeões”: foi assim que Paulo Fonseca confrontou os jornalistas presentes na conferência de imprensa de rescaldo da derrota portista no Estádio da Luz do último domingo. A “confiança cega” de Fonseca foi alvo das mais diversas interpretações, e até de uma representação teatral num programa televisivo nacional. Mas, bom, mais do que tudo isso, escolhi esta expressão de Paulo Fonseca porque me parece reveladora do estado atual do navio azul e branco.

Ao longo dos últimos anos, o FC Porto sempre foi passando por alturas de maiores dificuldades, fosse por questões exibicionais, fosse por questões de arbitragem. Relativamente ao segundo ponto, parece-me mais ou menos consensual que, em matéria futebolística, quando um clube grande não consegue aquilo que quer, ou dito de outra forma, quando não ganha quando o deveria fazer, tende a colocar a culpa nas arbitragens. Não, não é só coisa dos portistas, como disse, porque quer Benfica quer Sporting também foram, ao longo das últimas décadas, fazendo com que a culpa não morresse nos seus ombros, mas sim em terreno alheio.

Chegamos por isso ao jogo do último domingo no Estádio da Luz, o qual, se bem se recorda, afirmei que seria uma autêntica “prova dos nove” para Paulo Fonseca e para os seus jogadores. Como o resultado facilmente comprova, a equipa falhou, e por consequência o treinador também, ao mostrar, como em tantas outras ocasiões, limitações tácticas que me fazem novamente questionar se Fonseca está já preparado para ter nas mãos uma equipa desta envergadura. Não foi por isso surpresa que, também porque Artur Soares Dias se pôs a jeito para isso, o FC Porto desviasse a atenção da exibição paupérrima na Luz para uma arbitragem “vergonhosa”, apelidada assim por Pinto da Costa e apelido subscrito por Paulo Fonseca. Sim, o Porto pode-se queixar da arbitragem de Soares Dias, mas não foi por isso que perdeu. Sim, a equipa também foi prejudicada no Estoril, mas não foi por isso que perdeu 12 pontos numa volta de campeonato. Afinal de contas, o discurso não é novo. O FC Porto tem-no feito algumas vezes nos últimos anos para proteger o treinador e a equipa e para enviar um recado a quem dirige o futebol.

Por estes dias, tenho a certeza de que a ida de Pinto da Costa ao balneário da Luz depois da derrota no último domingo não foi para dizer aos jogadores que a culpa do desaire foi do árbitro. Tenho, pois, a certeza de que o presidente foi ao balneário para, como em tantas outras vezes, lembrar que o símbolo na camisola é mais importante do que o nome que os jogadores envergam. Tenho a certeza de que os jogadores sabem disso e Paulo Fonseca, subscritor das mensagens, também o sabe. Essa é a minha “confiança cega”.

O novo sorriso de Adebayor

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Há cerca de um mês, escrevi um artigo sobre o despedimento de André Villas-Boas, no qual referi que o manager português não conseguiu dotar este Tottenham de um futebol atractivo e de elevada qualidade. Contudo, não se pode dizer o mesmo do muito inexperiente Tim Sherwood.

O treinador britânico parece ter dado uma nova vida ao Tottenham. Referi na altura que a chicotada psicológica poderia dar uma nova carga anímica aos jogadores e parece que estava mesmo certo.

Emmanuel Adebayor é, porventura, o grande exemplo de como tudo mudou desde a saída do treinador português. De jogador arredado do plantel passou a aposta do novo manager, que se verificou certeira. Os spurs não tiveram necessidade de se reforçar fora do plantel para encontrar alguém que completasse Soldado e a solução passou pelo jogador togolês. Desde a saída de AVB foram oito os jogos protagonizados por Adebayor, nos quais marcou seis golos. É de realçar que, desde que entrou Sherwood, Adebayor foi sempre titular em todos os encontros da equipa londrina.

Os resultados da transformação do plantel estão à vista: contabilizam-se apenas duas derrotas para a Taça da Liga (frente ao West Ham) e para a Taça Inglesa (frente ao Arsenal), um empate para a Premier League (frente ao West Brom) e cinco vitórias na mesma competição (onde se incluem deslocações aos redutos do Southampton e Man United). Acho que devo ainda informar que a derrota para a Taça da Liga aconteceu apenas dois dias depois de AVB ter sido despedido e Tim Sherwood ter sido apontado como manager interino dos spurs.

Tim Sherwood, timoneiro do Tottenham / Fonte: Telegraph
Tim Sherwood, timoneiro do Tottenham / Fonte: Telegraph

Ontem, frente ao Swansea, ficou bem claro que Adebayor é um jogador revitalizado e com sede de golos. Bisou na partida e voltou a mostrar a perícia que o notabilizou no Arsenal. Sherwood afirmou que é fantástico não só para o Ade, como para quem gosta de futebol vê-lo jogar tão bem. Não podia estar mais de acordo com o treinador e, com muita pena minha, é óptimo ver o Tottenham com um estilo muito mais britânico e mais alegre do que nos tempos de AVB. O resultado disso mesmo são os catorze golos em apenas seis jornadas, quase tantos como em todos os jogos para a Premier League com o português ao leme.

O Tottenham leva já os mesmos pontos do Liverpool, ocupando o 5º lugar, estando à espera do resultado do Everton para manter a posição. O grande objectivo passa pelo acesso à Liga dos Campeões e, verdade seja dita, estão no bom caminho.

PS: Queria ainda mencionar mais uma derrota do Manchester United, frente ao Chelsea de Mourinho. Os blues ganharam por 3-1, com um hat-trick de Eto’o, que rubricou uma exibição absolutamente fenomenal.