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Para a eternidade, Deco

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Mal o pisaram, o novo relvado do Dragão sentiu-se o mais feliz de todos os relvados de todos os estádios de todos os mundos. As doses desmesuradas de magia, personificadas num nome com quatro letras, atravessou homens de todas as nacionalidades e fê-los juntar-se num final de uma sexta-feira quente de Julho para, revisitando duas equipas que fizeram história no futebol europeu da era moderna, materializarem o mais nobre dos sentimentos. Mesmo em futebol. A gratidão.

Deco quis, o homem sonhou, a (merecidíssima) homenagem nasceu. A instituição FC Porto, que em tantos outros momentos negligenciou aqueles que lhe ofereceram a glória, demonstrou ter memória e proporcionou o aplauso que há uma década estava injustamente por ser dado à equipa dos sonhos impossíveis, ao FC Porto de 2004, na pessoa do mais genial e influente jogador daquele conjunto que venceu, venceu e venceu, como mais nenhuma outra equipa portuguesa – Deco.

Para o comum adepto, é incomensurável o prazer de ter o Mágico de novo com o seu ‘10’ vestido, o manto sagrado patenteado pelas quatro letras que fizeram sempre do FC Porto algo maior e mais grandioso. Por isso toda a gratidão. Por isso toda a memória. Por isso o sentimento de nostalgia, reacendido a cada nome chamado por Deco, também ele percebendo que a época que marcou tem aliado a si Vítor Baía, Paulo Ferreira, Jorge Costa, Ricardo Carvalho, Pedro Emanuel, Nuno Valente, Costinha, Maniche, Pedro Mendes, Alenitchev, Derlei, Benni McCarthy, Jankauskas, Sérgio Conceição, Carlos Alberto e outros mais. Aqueles que, com ele, ganharam tudo e que, passados dez anos, de novo juntos, perfilados, ao som do hino do clube que elevaram, como que se preparando para derrotar o Celtic ou o Man Utd, a Lazio ou o Mónaco, lhe prestaram a devida vénia.

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FC Porto e FC Barcelona unidos na homenagem a Deco
Fonte: mundodeportivo.com

A festa foi bonita, conjugando surpresa com emoção, brilhantismo com sorriso. Fez-se de um confronto entre o FC Porto 2004 e o FC Barcelona de 2006 – duas equipas campeãs da Europa, duas equipas marcadas pelo toque de Deco –, onde os diversos protagonistas não se coibiram de demonstrar belos pormenores. Porque se, hoje, há barriga, a qualidade técnica também por lá anda, mesmo que os anos para alguns já pesem.

Com Deco à cabeça, houve um FC Porto mais forte na 1ª parte, com jogadas bem desenhadas, como se José Mourinho ainda treinasse todos os dias, no Olival, Derlei e McCarthy para estes descobrirem o golo (os dois primeiros são prova disso mesmo); como se o losango do meio-campo nunca tivesse sido desfeito e Maniche continuasse a ser o mesmo potente motor de uma equipa equilibrada por Costinha e com a categoria de Alenitchev; como se Baía ainda alimentasse o sonho de ir à Selecção e Jorge Costa comandasse uma defesa que agora se mexe pouco mas que se mexe sempre bem. Como se o tempo tivesse andado para trás. Ao intervalo, com várias substituições e uma declaração via vídeo do ‘Special One’ pelo meio, Derlei e McCarthy (‘magrinho’ mas com jeito para ainda fazer o golo, como diz ainda a sua música) assinavam o 2-0 favorável ao Dragão.

Sempre aplaudido, sempre acarinhado, Deco despiu a camisola que se lhe colou à pele para a eternidade, e colocou o ‘20’ culé, dando corpo a um trio completado por Messi e Eto’o, desleal para com Jorge Andrade – um central que ocupa, hoje, o espaço como poucos. O jogo facilmente virou para a equipa catalã com golos destes três e com a impotência sorridente da equipa do Dragão. Longe de estar a brincar e por certo imaginando-se ainda no Brasil, e no prolongamento diante da Costa Rica, Fernando Santos gesticulava, insatisfeito com a incapacidade, por exemplo, de Sérgio Conceição de acertar senão na trave da baliza do Barça (guardada por Baía, na 2ª parte). Como em tantas outras ocasiões, a solução estava, afinal, ali à mão. Deco queria passar os últimos minutos da sua brilhante história com a camisola azul e branca e, por isso, foi ao balneário trocar-se e voltou para, tal como Mourinho um dia disse dele, ser aquele que ordena “dá cá a bola que eu resolvo”. No último lance, no último toque, no último pormenor, com um chapéu apenas ao alcance dos ungidos pela força criadora, assinou o derradeiro golo que não mais foi do que o paradigma da sua carreira: suprema classe.

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Ontem como hoje, Deco serviu de bandeja McCarthy e Derlei
Fonte: jn.pt

O 4-4 final foi o mais democrático dos resultados e, simultaneamente, o menos importante numa noite que roçou a perfeição. A perturbar apenas, por um lado, a invasão pacifica de uma minoria de aficionados sedentos por um contacto mais próximo com alguns dos seus ídolos e que impediu outro final de festa, e, por outro, a incompreensível reacção de uns quaisquer adeptos que decidiram assobiar aquele que era ontem um convidado de honra, alguém que interrompeu as suas férias para homenagear quem todos nós queríamos que fosse reconhecido da forma mais calorosa possível. Ah, e que, por acaso, é só o jogador mais fantástico do Mundo. Felizmente, os assobios foram rapidamente suplantados por aplausos e Messi voltou a sorrir no palco que o viu estrear-se há quase onze anos.

Enfim, se o tempo é cruel e a despedida inevitável, Deco pôde, ontem, revisitar os mais belos momentos da sua carreira, rever colegas que o reverenciam – as palavras de Jorge Costa, Belletti, Eto’o, Derlei mas especialmente de Messi terão de o deixar orgulhoso – e até ter uma declaração tão surpreendente quanto repleta de admiração, como a de Luís Figo. Mas pôde, sobretudo, constatar que o orgulho que diz sentir quando veste a camisola do FC Porto é incomparavelmente inferior à vaidade que o comum adepto portista tem em dizer que viu tamanho génio jogar com as suas cores. Como disse Costinha, aquela equipa de 2004 só ganhou tanto e tudo porque era uma “equipa de amigos” – e ontem os amigos estiveram lá todos. Eram 50 mil!

Porque será sempre o nº 10, porque fintará sempre com os dois pés, porque será sempre melhor do que o Pele. Porque é o Deco.

E esta casa nunca deixará de ser tua.

Obrigado, Mágico.

O que esperar do novo Porto?

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atodososdesportistas

Terminou o Mundial, acabaram as férias. Ainda há muitas indefinições quanto à formação dos planteis, mas já temos algumas indicações do que poderá vir a ser a próxima época desportiva. Relativamente aos dragões, podemos desde já concluir que teremos um plantel muito jovem e com mais soluções do que no passado.

Neste momento, segundo o site do clube, o plantel tem à sua disposição 28 jogadores na equipa principal, aos quais devemos ainda juntar os “B’s” Victor Garcia, Igor Lichnovsky (que não está no site como jogador da equipa “A” mas que todavia ainda não foi relegado aos “B”), Rúben Neves, João Graça, Kayembe e Gonçalo Paciência. Devemos lembrar que João Graça e Rúben Neves têm idades de júnior e juvenil, respectivamente, estando no plantel apenas para colmatar a ausência dos internacionais que ainda se encontram de férias e de Mikel. Victor Garcia e Lichnovsky serão certamente enviados para a equipa secundária dos dragões para ganhar minutos (no caso do lateral – que nem seguiu para o estágio -, mais cedo ou mais tarde acabará por sair sem vingar nos dragões, parece-me, ao passo que o central tem uma enorme margem de progressão) e Kayembe e Paciência serão os “meninos da cantera” a espreitar por uma possível vaga no plantel principal, embora se espere que joguem muito na equipa B. Infelizmente, Mikel, o jogador jovem mais bem cotado para ficar com o plantel principal, lesionou-se com gravidade (fractura da tíbia no primeiro treino), o que o impede, para já, de integrar a equipa ao comando de Lopetegui.

O FC Porto tem, neste momento, uma média de idades de 23,68 anos (segundo o zerozero.pt), o que me leva a uma conclusão: este plantel será uma aposta no futuro, uma aposta para “abanar a estrutura” e apontar baterias ao título!

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Tello é apenas uma das várias caras novas deste FC Porto
Fonte: fcporto.pt

Porquê? Ainda com o plantel por fechar, ouvimos falar de jogadores cada vez mais perto dos azuis-e-brancos, e nomes como Marcano e Clasie vêm todos os dias “à baila”. No caso de Clasie, seria uma contratação de luxo (a par da de Brahimi) que nos daria a certeza de que os cofres estão recheados para atacar o mercado. Já no caso de Marcano, seria para colmatar a já certa saída de Abdoulaye. A confirmarem-se estas contratações, os jogadores mais avançados serão a priori jogadores com condições de serem titulares no xadrez do Porto: Clasie pode fazer qualquer posição do meio-campo ofensivo e Brahimi ocupará uma das alas, precavendo assim o possível desgaste a que jogadores como Quaresma ou Varela (caso fique) estarão sujeitos, visto já não serem jovens.

Sendo assim, teremos de ter um Porto capaz de resistir às tentações de mercado na época 2015/16, evitando outra incursão de milhões e mantendo a estabilidade. Lembro que a última vez que isso não aconteceu foi no Porto de José Mourinho – saiu o treinador e alguns jogadores basilares da equipa e nem com a contratação de estrelas como Diego ou Luís Fabiano foi possível ter uma equipa a lutar verdadeiramente pelo título. Veja-se, também, o caso do ano que passou… Aí, mais por contratações falhadas do que por falta de qualidade no plantel.

Eu defendo a estabilidade que o Porto tem conseguido manter ao longo dos tempos, tal como defendo uma aposta em jovens com futuro, e este ano parece que isso vai acontecer!

Depois temos o caso dos “excedentários” – Rolando, Licá, Josué, Defour (o médio com a porta de saída mais do que aberta – fala-se inclusive de uma saída iminente para o Feyenoord a troco de alguns milhões mais do passe do jovem Bakkali, de 18 anos) – e dos “transferíveis” – Maicon, Mangala, Varela, Kelvin ou Jackson. No primeiro caso, ainda sou da opinião de que Licá só deve sair por empréstimo (continuo a achá-lo um jogador muito interessante para certos momentos do jogo, que necessita – muito – de amadurecer). Já os restantes podem seguir o seu percurso noutro lugar. Quanto aos “transferíveis”, percebo que todos tenham milhões à porta, mas gostaria que a SAD portista mantivesse Jackson e Varela (jogador que já não é o que era, mas que é experiente e muito útil), visto que Mangala alegadamente já efectuou os exames médicos no Manchester City. Para o lugar de Maicon temos Lichnovsky e Martins Indi (recentemente confirmado por 7,7 milhões de euros); se Kelvin sair (também por empréstimo), espero ver Kayembe entre as equipas “A” e “B”.

A recém-chegada de Casemiro à Invicta veio dissipar as dúvidas que tinha quanto ao sistema táctico dos dragões (que oscilaria entre 1-4-2-3-1 e 1-4-3-3). Sendo assim, no meu entender e até ao momento, teríamos um plantel inicial formado por cerca de 26 jogadores (que irá forçosamente diminuir com a saída de pelo menos um ponta-de-lança e talvez um extremo) que encaixariam melhor num sistema de 1-4-3-3, pese embora o facto de só termos Casemiro como verdadeiro médio-defensivo.

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Plantel FC Porto 2014/2015
(? – Jogadores que não têm ainda o futuro definido no Dragão)

Assumidamente teremos de jogar com um “nº10” quando atacamos. A qualidade é tanta que até jogadores de fino recorte técnico como Evandro (e mesmo Carlos Eduardo) deverão ter de adaptar o seu estilo de jogo e assumir-se como box-to-box, construindo jogo a partir de trás e deixando espaço para Quintero ou Óliver Torres pegarem na batuta de uma orquestra que terá certamente em Quaresma e Tello os seus principais músicos (até a confirmação oficial de mais jogadores).

Sami parece-me ser um jogador interessante e que promete nesta sua “nova” posição de homem-golo e Ricardo pode muito bem ter perdido o seu espaço como lateral ofensivo, tendo de se limitar a ser terceira opção para as alas ou, quiçá, a ser emprestado. No caso dos avançados, a possível saída de Jackson pode levar a que outro sul-americano assuma a posição de homem-golo: o mexicano Raúl Jiménez, assim diz a imprensa.

Ainda assim, com a contratação de Adrián Lopez ao Atlético de Madrid, terei de perguntar o seguinte: será que Lopetegui pensa num Porto à imagem da sua selecção espanhola, com um bloco muito compacto que privilegia a posse de bola e que ofensivamente se desdobra num 1-3-6-1 onde não se sabe quem é o ponta-de-lança, pois qualquer jogador pode aparecer na zona de finalização? O avançado espanhol é um finalizador-nato, um jogador de classe que, mesmo tapado por Villa e Diego Costa, somou vários minutos e golos (entre os quais ao Chelsea, na meia-final da Champions) no Atlético de Madrid, mas nunca poderá jogar como ponta-de-lança isolado, visto que não tem características para tal. Neste sistema, Óliver pode muito bem jogar mais recuado no terreno e vir buscar jogo aos centrais, à imagem do que fazia (e bem!) na rojita, assumindo-se como o estratega na primeira fase de construção do jogo ofensivo dos dragões. Algo facilmente comprovável neste vídeo.

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O FC Porto reforçou-se e Quaresma terá, esta época, concorrência apertada
Fonte: fcporto.pt

Seria uma táctica arrojada (Herrera/Casemiro, Óliver e Quintero a “10” – abdicando, em certos jogos, de um médio defensivo) e por isso apenas possível nas competições internas. Em jogos de maior dimensão teria de ser revista, pois ai qualquer erro pode custar caro. Certo é que isto não passa de especulação e que as próximas semanas nos irão dar mais certezas em relação àquilo que será a nova cara do clube da invicta.

De resto, parece-me que temos um plantel bastante mais equilibrado e com mais soluções, o que nos dá a garantia de não precisar de jogar com um central encostado à linha, um Ghilas a ala direito ou um Herrera a trinco. Espero mais mexidas no mercado, mas pelo que estou a ver só posso estar contente e optimista com a formação do grupo que vai certamente atacar o título na época 2014/15. Existe mais critério, mais clareza e menos aventureirismo nas escolhas para a época que se avizinha. Mas é no campo que isso terá de se provar. E os 9-0 ao Valadares (com todo o respeito pelo clube), os 2-6 ao Venlo e os 1-3 ao Genk não me chegam para deitar foguetes, até porque na época anterior Paulo Fonseca realizou das melhores pré-epocas de sempre do Futebol Clube do Porto…

Eu acredito no potencial desta equipa!

A essência do Futebol de Praia

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É com particular orgulho que faço a primeira publicação relativa a Futebol de Praia no Bola na Rede. Bem sei que esta não é uma modalidade consensual entre os amantes do desporto, por ser excessivamente direcionada para o espetáculo, mas é importante que se tenha noção da enorme evolução que esta sofreu ao longo dos tempos. No meu caso em particular, sou do tempo em que Madjer – ver a sua entrevista ao Bola na Rede AQUI – estava no início de carreira e que fazia com o luso-brasileiro Alan uma dupla absolutamente terrível no ataque. Na defesa, lembro-me bem das enormes defesas do guarda-redes Zé Miguel (que até há bem pouco tempo era o selecionador nacional), da raça de Nunes e do enorme espírito de liderança de Hernâni. Este foi o 5 inicial que marcou a minha juventude e que me fez vibrar, durante o verão, com esta modalidade. Tantas foram as vezes em que os dias de praia foram substituídos por uma bela tarde a ver alguns duelos épicos com a França de Cantona, a Espanha de Amarelle ou o Brasil de Jorginho.

No entanto, os tempos mudaram, a modalidade profissionalizou-se e os intervenientes envelheceram. No futebol de praia atual, Portugal já não é a única seleção a fazer concorrência ao Brasil como grandes potências do desporto. Os últimos anos viram a Espanha crescer (já sem o lendário Amarelle) e uma surpreende Rússia, que até é bi-campeã do mundo de Futebol de Praia. Mudaram-se os tempos, mas a essência da modalidade não mudou. Portugal viu crescer Belchior, formou talentos como Jordan, Torres, Bruno Novo ou José Maria e soube acolher Alan e Madjer na sua equipa como elementos mais experientes do seu plantel.

Madjer e Belchior são as maiores figuras da seleção nacional Fonte: FPF
Madjer e Belchior são as maiores figuras da seleção nacional
Fonte: FPF

Nesta edição do Mundialito de Futebol de Praia, que se disputa em Espinho na Praia da Baía, Portugal entra em campo frente às seleções da Hungria, Japão e E.U.A., fator que me faz duvidar do verdadeiro objetivo dos responsáveis da organização. Antigamente, entravam em campo as 4 melhores seleções do mundo. Neste caso, para além de Portugal, teria de lá estar o Brasil, a Espanha e a Rússia. Mas não. Foram escolhidas 3 seleções muito inferiores à nossa, o que me faz entender que este Mundialito foi organizado apenas para dar motivação aos jogadores portugueses e disfarçar quaisquer tipo de fragilidades que a nossa equipa possa ter, quando falta apenas um ano para a organização do Mundial da FIFA, cá em Portugal.

Sem divagar muito mais sobre este início de Mundialito, Portugal bateu, como se previa, sem dificuldades a Hungria por 5-0, com 3 golos de Belchior, 1 de Jordan e outro de Bruno Novo. Portugal apresentou-se com Nuno Hidalgo na baliza (onde anda Paulo Graça?), Torres e Jordan mais recuados, e Madjer no apoio ao único avançado, Belchior. Em destaque na partida, esteve, obviamente Belchior, que, fruto do envelhecimento de Madjer, se assume cada vez mais como a grande figura desta equipa. Os 3 golos são apenas uma amostra das potencialidades que ele oferece à equipa de Mário Narciso. Numa partida frente a uma equipa praticamente amadora, que se estreava num Mundialito de Futebol de Praia, pouca história há para contar. Portugal dominou por completo, deu espetáculo e soube gerir a partida a seu gosto.

Não termino este texto sem antes deixar a pergunta para os dirigentes da FPF: se não querem matar a modalidade, por que raio é que foram estas as seleções escolhidas para disputar a competição? Nós, portugueses, gostamos de ganhar. Mas sem facilitismos.

Que papel para Isco?

Desde que Florentino Pérez é presidente do Real Madrid, o clube merengue não perde uma oportunidade de aliar a qualidade futebolística ao mediatismo que os jogadores têm fora dos relvados. Na ressaca do Mundial 2014, não há nenhum jogador mais na moda do que James Rodríguez. Depois das exibições que o colombiano fez no Brasil, e tendo em conta a política de contratações habitual do emblema espanhol, não era difícil prever que “El Bandido” iria aterrar no Santiago Bernabéu. Contudo, sem pôr em causa o talento de James, que é indiscutível, é um reforço de que o Real não necessitava minimamente. Ainda falta perceber se esta contratação significará a saída de Di María, peça absolutamente fundamental na última época, mas já há uma certeza: Isco, também ele um predestinado, não terá grandes hipóteses de figurar no onze titular. Atendendo a este cenário, a saída de Madrid seria a melhor solução para a carreira do craque espanhol.

O Golden Boy de 2012, prémio que recebeu após uma temporada sensacional ao serviço do Málaga, vê o seu espaço reduzir-se ainda mais com a chegada de James Rodríguez. O colombiano joga na mesma posição de Isco e, tendo custado 80 milhões de euros, certamente não será suplente. Haveria a possibilidade de o espanhol actuar descaído sobre uma ala, mas aí há Ronaldo e Bale, ambos imprescindíveis. Depois de ter tido um arranque auspicioso na última temporada, Isco começou a ser comparado com Zidane – de forma ridícula, diga-se – e, talvez acusando a pressão, perdeu o fulgor inicial e foi relegado para o banco de suplentes (o recuo de Di María também não o ajudou).

O papel de Isco é uma incógnita no Real Madrid Fonte: Bleach Report
O papel de Isco é uma incógnita no Real Madrid
Fonte: Bleach Report

Apesar de não ter estado totalmente à altura das expectativas, Isco tem um talento fora do comum e seria titular na grande maioria das equipas do futebol europeu. Aos 22 anos, parece evidente que, para poder evoluir e exibir a sua excepcional qualidade técnica, visão de jogo e capacidade de decisão, terá de sair do Bernabéu. O Liverpool e o Milan, segundo o que tem sido noticiado, já mostraram interesse na sua contratação, mas não é claro que o Real esteja disposto a abdicar de um jovem – espanhol, ainda por cima – com tanto potencial. O mais provável é que Isco faça parte dos planos do campeão europeu para a nova temporada Ainda mais provável é que não passe de um substituto de James. E assim, com tanta facilidade, pode passar de Zidane a Guti.

Será possível ter o melhor de dois mundos?

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eternamocidade

Com a final do Campeonato do Mundo, chegou a tristeza pelo fim de uma competição que, durante cerca de um mês, prendeu o mundo do futebol ao ecrã. Mas, com a vitória da Alemanha, simbolicamente deu-se o “tiro de partida” para a pré-época 2014-2015. Apesar das equipas já estarem a trabalhar desde o início de julho, o certo é que, para a maioria dos adeptos, só na última segunda-feira é que chegou à altura de virar a página, deixando para trás as terras de Vera Cruz, voltando a concentrar baterias para uma nova época desportiva.

No que ao campeonato português diz respeito, as últimas semanas têm trazido, como já é apanágio durante esta altura, páginas de jornais sobre reforços e possíveis contratações dos três grandes do futebol português. No campeão nacional SL Benfica, a debandada continua e já são 5 os jogadores que saíram da Luz: Oblak, Garay, Siqueira, A. Gomes e Markovic, com Rodrigo na porta de saída e Enzo e Gaitán com o futuro indefinido. No Sporting, a entrada de Marco Silva é o grande registo até agora, pois não há ainda registo de saídas importantes, com William, Rojo, Slimani e Rui Patrício como jogadores apetecíveis no mercado internacional.

Contudo, e porque este é um espaço destinado ao FC Porto, naturalmente que é sobre os portistas que recai a minha maior atenção durante a pré-época. Depois de uma temporada completamente desastrada, com Paulo Fonseca e Luís Castro a serem apenas alguns dos rostos do descalabro portista, era altura de uma revolução a nível técnico. Por isso, Pinto da Costa optou por surpreender tudo e todos, e quando muitos esperavam pela chegada de um técnico com experiência de clubes a nível internacional, eis que surgiu o nome de Julén Lopetegui, um completo desconhecido para a esmagadora maioria dos adeptos portistas. Apesar do passado nas seleções jovens de Espanha, com resultados mais do que esclarecedores, o nome do espanhol trouxe de volta os fantasmas do passado e as suspeitas de se começar mais uma época atrás dos principais rivais, Benfica e Sporting. Esta foi no entanto uma perspetiva que cedo desapareceu da mente dos adeptos e para que isso tenha acontecido bastou que surgissem os primeiros nomes sonantes para o plantel 2014-2015. As entradas de Martins Indi, Casemiro, Óliver Torres, Adrián Lopez, Cristian Tello e Brahimi foram motivo suficiente para que, num curto espaço de tempo, os adeptos azuis e brancos tenham passado do 8 ao 80. De facto, o surgimento de jogadores desta craveira (acima da média do campeonato português) veio mostrar a primeira diferença que Lopetegui trouxe ao clube portista. Mais do que um simples treinador, que se “limitava” a dizer o tipo de jogador que queria, deixando à direção do clube a missão de trazer reforços, Lopetegui tem-se revelado um autêntico manager, sendo a sua influência no recheio do plantel portista por demais evidente.

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Adrián foi a transferência mais cara do Porto de Lopetegui até agora
Fonte: blogfutgoal.wordpress.com/

Por isso, não é de estranhar que por entre as conversas nas redes sociais, já se volte a apelidar Pinto da Costa de “visionário” por ter apostado num homem que, ao que parece, voltou a trazer o selo de qualidade garantida ao relvado do Dragão. Ainda assim, e porque eu prefiro manter-se sempre cauteloso, opto por não dar, ao contrário do que já li, por garantida a conquistado título ainda antes de começar o campeonato. De facto, o campeonato apenas chega daqui a 4 semanas, mas o “histerismo” que paira devido à “parada de estrelas” que vem chegando ao Dragão faz com que para muitos seja apenas uma formalidade a conquista do próximo campeonato nacional. Nada de mais errado, na minha opinião, pois a chegada destes reforços, apesar da qualidade que trazem, não vêm trazer vitórias antecipadas. Por isso, acredito que a tarefa de Lopetegui se adivinha extremamente complicada. Depois de uma temporada onde Paulo Fonseca e Luís Castro olhavam para as suas costas e viam jogadores como Licá, Josué e Carlos Eduardo como opções, chegou a vez de Lopetegui começar a deparar-se com jogadores como Adrián, Varela, Óliver Torres, Quintero e companhia, que podem ter que ser remetidos para o banco. Há quem diga que ter este tipo de jogadores num banco de suplentes só traz competitividade ao plantel e que por isso só traz “boas dores de cabeça” aos treinadores. Mas a pergunta que faço é a seguinte: será expectável que jogadores como Casemiro, Óliver, Tello e Adrián, que vieram “por intermédio” de Lopetegui, aceitem de bom grado serem suplentes do FC Porto quando vieram de clubes maiores como Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid?

Esta talvez seja uma das maiores dificuldades que se antevêem a Lopetegui: a dificuldade de gerir egos e de conseguir fazer com que o balneário não seja “pequeno demais” para tantas figuras. Digo isto porque ao olhar para a ficha com o plantel provisório dos portistas, vejo Defour, Herrera, Josué, Carlos Eduardo, Quintero, Óliver, Brahimi, Evandro, Varela, Quaresma, Tello, Adrián, Jackson e Ghilas, sem falar da promessa Rúben Neves e dos fiáveis Sami e Ricardo. Não quero parecer injusto, e por isso antes de mais permita-me que elogie o trabalho feito até agora por Lopetegui: as contratações são sonantes, e não tenho dúvidas que trarão mais qualidade à equipa e ao campeonato nacional. Contra o Genk, viram-se bons pormenores de Rúben Neves, Sami, Tello e Óliver, contrastando com os erros que parecem ainda pairar sobre a defensiva portista. Duas semanas depois do início da pré-época, este FC Porto parece estar de boa saúde, a nível de aquisições e no que à ideia de jogo diz respeito. Mas depois de uma época tão má, nem mesmo tantas “estrelas” me fazem sossegar e antever um título conquistado ainda antes de ser disputado. Isto porque os grandes nomes não fazem uma grande equipa e não ganham jogos a priori. Eu quero acreditar que o FC Porto e Lopetegui sabem isso.

Le Tour: Vamos cruzar os dedos!

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Chegámos à última semana de Tour. Normalmente é quando se vê um maior espetáculo nas estradas e este ano não tem sido excepção. O pelotão já chegou aos Pirinéus e ainda há muito para decidir. É verdade que a camisola amarela parece já estar entregue a Nibali (a não ser que aconteça alguma tragédia igual à de Froome ou Contador, mas, por favor, já chega…), mas ainda há muito para se ganhar. A luta pelos dois lugares restantes no pódio está ao rubro, cinco ciclistas para dois lugares! Valverde, Pinot, Péraud, Bardet e Van Garderen estão separados por cerca de 5 minutos e será divertido ver esse jogo das cadeiras Pirinéus acima. Quem irá arriscar, quem irá defender e quem irá falhar? Será que ainda algum sonha conseguir o primeiro lugar e atacará ao ponto de arriscar uma quebra que o atirará definitivamente para fora do pódio? Isto são questões muito interessantes e que criam muito expectativa e ansiedade relativamente a esta última semana.

Paralelamente a esta luta existe um segmento especial. O segmento nacional. Pela primeira vez em muitos anos existem neste momento quatro franceses no top10 e três deles na luta por um lugar no pódio. Com este sucesso dos franceses começa a criar-se a pressão de um país inteiro e, como nenhum desdes três corredores está habituado a estas andanças, será curioso verificar quem se vai apresentar à altura. Está aberta a candidatura ao lugar de melhor ciclista francês, ao lugar da grande esprança do futuro da modalidade e sabe-se como o franceses desejam há muitos anos ter alguém para apoiar com legítimas esperanças de uma vitória no Tour. A pressão é muita, quem se chegará à frente?

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Relativamente à camisola amarela, eu sei que já disse que está practicamente entegue, mas ainda há uma maneira de a roubar ao Nibali. E um amante da modalidade pode sonhar, não pode? Não que tenha nada contra o italiano, mas quero ver o maior espétaculo possível! Já se viu que a Astana não está particularmente forte no acompanhamento ao líder, Nibali é que tem estado fortíssimo. Assim sendo, só um ataque de muito longe poderá fazer com que Nibali tenha de trabalhar excessivamente durante muitos quilómetros, quebrar (que é algo que até agora parece muito difícil, mas o ciclismo é também a arte de saber esconder fraquezas) e assim algum ciclista roubar a camisola ou aproximar-se o suficiente da liderança para o contra-relógio começar a preocupar Nibali. É isto que eu e todos os amantes da modalidade querem ver. Ou um roubo fantástico ou uma defesa fantástica. O problema é que esta estratégia é muito arriscada, já que atacar de longe e ganhar não é propriamente fácil. Em vez de acontecer a quebra no camisola amarela, pode acontecer a quebra no fugitivo e aí até um lugar no top10 fica em perigo. Se houvesse Froome e Contador acreditava que isto poderia acontecer. Afinal de contas, para estes dois corredores, o segundo lugar é o primeiro dos últimos e, por isso, iriam arriscar todas as possibilidades de vencer o Tour. O problema é que todos os ciclistas que estão na luta irão ficar muito felizes com um lugar no pódio – será a sua melhor classificação de sempre na prova, portanto dificilmente alguém irá arriscar um lugar no pódio por uma missão quase impossível de chegar à amarela. Malditas quedas…

Nibali, o italiano que sonha levar a amarela para casa 16 anos depois de Pantani  fast.swide.com
Nibali, o italiano que sonha levar a amarela para casa 16 anos depois de Pantani
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Temos ainda também a luta pela “camisola das bolinhas”, o prémio da montanha. Majka está em primeiro lugar e tem Rodríguez a 37 pontos de distância na terceira posição. Nibali está em segundo, mas evidentementenão está preocupado com este prémio. Serão Rodriguez e Majka a lutarem por ele (e que dois trepadores fantásticos para esta luta, qualidade garantida!!!), mas o tubarão siciliano continua a ganha nos Pirinéus como ganhou nos Alpes e arrisca-se mesmo a ficar com mais do que uma camisola de recordação.

Resumindo, é verdade que a camisola amarela está quase ganha, mas ainda há muito para se disputar nesta prova. Resta saber se vamos ter uma corrida de ambiciosos ou de calculistas, de atacantes ou de defensores, de coragem ou de medo. Depois de todas as quedas horríveis que nos tiraram tanto do que esta Volta à França nos prometia, acho que merecemos que estejam todos ao ataque. Vamos cruzar os dedos!

Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa: o Benfica insuficiente

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Pelo segundo ano consecutivo, o Sporting venceu o Benfica na final da Taça de Honra, deixando a nu algumas das fragilidades atuais do plantel benfiquista. Mais do que falar no resultado em si, interessa, sim, analisar a prestação global da equipa e perceber de que forma as novas aquisições podem ser reforços – no sentido mais puro do termo.

No jogo das meias-finais, frente ao Estoril, Jorge Jesus apresentou um 4-4-2 em tudo semelhante ao da época passada, mas com protagonistas totalmente diferentes. No primeiro onze da pré-época das águias não constou nenhum jogador do onze base que ganhou o triplete na temporada anterior. Pelo contrário, foram seis as caras novas que os adeptos benfiquistas puderam ver desde o primeiro minuto: César, Luís Filipe, Benito, Talisca, Derley e Candeias. Curiosamente, foi com os novos jogadores que o Benfica praticou o seu melhor futebol e chegou, aliás, ao golo da vitória. Com João Teixeira a trinco e Talisca a médio centro, o Benfica demonstrou bons níveis de entrosamento e dinâmica, apesar do escasso período de treino. Talisca, que acabaria por ser nomeado o melhor jogador do torneio, marcou o único golo do encontro ao minuto 31, depois de uma excelente combinação entre Ola John e Benito. O extremo holandês foi um dos grandes destaques no torneio. Rápido, fortíssimo e imprevisível no um para um, Ola John veio com ambição de agarrar um lugar no plantel de JJ.  Na segunda parte, e já com Salvio, Gaitán, Cardozo e Lima, o Benfica desceu de qualidade exibicional e permitiu que o Estoril criasse várias ocasiões de golo (Tozé foi um perigo na ofensiva estorilista). O golo do brasileiro Talisca, porém, foi suficiente para o Benfica agarrar o lugar na final, frente ao Sporting, que nessa mesma noite bateu o Belenenses por 2-1.

Talisca esteve bem frente ao Estoril Fonte:ZeroZero
Talisca esteve bem frente ao Estoril
Fonte:ZeroZero

No jogo da final, Jorge Jesus optou por iniciar a partida com um onze teoricamente mais forte do que aquele que foi apresentado frente ao Estoril. A aposta era lógica e justificada: o Sporting, para além de ser um adversário mais forte, exibiu um onze muito rotinado, com jogadores provenientes da época anterior. Ainda assim, rapidamente se notou que o Benfica não tinha, nem de perto, o mesmo entrosamento que a equipa de Alvalade. Aqui e ali, os jogadores do Benfica deram um cheirinho do futebol que Jorge Jesus pretende praticar. Mas os processos são, ainda, demasiado forçados e lentos. Talisca e João Teixeira foram completamente dominados pelo trio do meio-campo leonino (Rosell, André Martins e Adrien). Foi precisamente um erro do Benfica no centro do terreno que permitiu ao Sporting chegar ao golo da vitória (42’), com João Teixeira a ficar muito mal na fotografia. Sem capacidade para jogar pelo centro do terreno, o Benfica tentou desesperadamente atacar pelas alas, mas nem Gaitán, nem Ola John (ou Candeias, na segunda parte) foram suficientemente eficazes. Os laterais também não davam a profundidade necessária para criar desequilíbrios (dos quais vive constantemente o Benfica), e o futebol encarnado estava literalmente preso. O golo de André Martins, na primeira parte, foi suficiente para coroar o justo vencedor. Jorge Jesus disse, na conferência de imprensa pós-jogo, que “esta não é a equipa do Benfica”. Apesar de deselegante, o treinador português deixou uma mensagem fácil de entender: este Benfica não é suficiente. E tem razão.

Como jogaram:

Os novos:

César – uma das surpresas dos novos jogadores do Benfica. Veloz, forte e intenso no corte, o central brasileiro deixou boas indicações. Contudo, tem de ter mais atenção ao sentido posicional.

Benito – o lateral esquerdo que veio do FC Zurich é… um relógio suíço. Comete poucos erros, demonstrou boa cultura tática e disponibilidade física. Precisa apenas de oferecer maior profundidade ao ataque encarnado.

Luís Filipe – completamente fora de forma. Tem, visivelmente, peso a mais, e isso influencia o seu rendimento. Lento, deu demasiado espaço aos extremos adversários. Tem de melhorar muito se quiser ser aposta.

Talisca – joga de cabeça levantada, tem um bom toque de bola e uma boa visão de jogo, é certo. No entanto, é obrigatório que apareça mais vezes entre linhas e “coma metros” com a bola. No jogo frente ao Sporting esteve completamente ausente.

Candeias – apesar da assinalável rapidez, mostrou-se muito inconsequente nas suas ações. Tem de arriscar mais vezes o um para um. De realçar o espírito coletivo nas várias vezes em que baixou no terreno para auxiliar o defesa-direito.

Derley – procurou incessantemente o primeiro golo de águia ao peito. Joga bem de costas para a baliza e deixou boas indicações nos movimentos de desmarcação.

Os antigos:

Artur – comete os mesmos erros de sempre: precipitado na reposição de bola e péssimo nas saídas. Dentro dos postes continua um guarda-redes seguro.

Paulo Lopes – nas poucas ações em que foi chamado a intervir mostrou-se seguro.

Jardel – muito seguro, rápido e intenso. Limpou quase todas as bolas com uma assinalável eficácia.

João Cancelo – nas duas partidas, entrou para substituir Luís Filipe mas a verdade é que pouco mais ofereceu à equipa. Excessivamente individualista para um lateral, perdeu bolas desnecessárias. Tem muito para crescer.

João Teixeira – o canterano benfiquista foi uma das grandes surpresas do torneio. Raçudo e sem medo, o jovem médio esteve sempre muito interventivo. Sabe quando soltar a bola e tem um jogo vertical impressionante para a idade. A exibição no torneio fica apenas manchada pelo erro que causou o golo da vitória leonina.

Bernardo Silva – nos poucos minutos de que dispôs, complicou o que era fácil. Tem de ser mais rápido a soltar a bola.

Rúben Pinto – entrou melhor no jogo do que Bernardo Silva, mas teve poucos minutos para mostrar serviço.

Gaitán – a capacidade para desequilibrar e fugir dos adversários é a imagem de marca do talentoso argentino. Porém, tudo muito forçado.

Salvio – longe dos melhores índices físicos, Salvio pecou por ser demasiado individualista.

Ola John – apareceu em grande plano nesta pré-época. Muito rápido e explosivo, o extremo holandês foi o grande desequilibrador do Benfica no torneio. Nota ainda para o bom entendimento com Benito na lateral esquerda.

Lima – sempre muito disponível, a oferecer linhas de passe aos colegas, Lima não mudou desde maio: combativo e a pensar no coletivo.

Cardozo – péssimo na receção, péssimo no passe, o avançado paraguaio simplesmente não jogou. Não me lembro de um único remate nos dois períodos de quarenta e cinco minutos em que atuou, e isso diz tudo sobre a sua prestação.

Jara – muito participativo no(s) jogo(s) mas pouco eficaz. Perdeu bolas com uma facilidade incrível e mostrou-se demasiado individualista.

Ivan Cavaleiro – dos poucos minutos que jogou tentou impor alguma irreverência e intensidade no ataque encarnado mas sem grandes consequências.

Euro’2014 de Sub-19: Transformar o potencial em qualidade

cab seleçao nacional portugal

Portugal acaba de se qualificar para as meias-finais do Europeu de Sub-19 e para a fase final do Mundial de Sub-20, que se irá disputar no próximo ano, na Nova Zelândia. Com vitórias robustas de 3-0 sobre Israel e de 6-1 sobre a anfitriã, Hungria, a equipa comandada por Hélio Sousa deu um passo importante na continuação da solidificação e crescimento das camadas jovens nacionais, nas suas mais variadas vertentes.

Depois do descalabro que foi o último Mundial de seniores, era importante olhar para os jogadores que querem aparecer e sentir alguma confiança  na matéria-prima que está para aparecer. O primeiro grande teste era este Euro’14 de sub-19 e, pelo que vi, há imenso potencial e jogadores que podem (e devem) ser trabalhados para serem opções regulares no futuro.
Começando pelo grande destaque desta competição, até ao momento: André Silva tem futebol nos pés para vir a ser o grande ponta-de-lança de Portugal no futuro. Depois do descalabro com as opções de Paulo Bento para essa posição no Mundial’2014, eis que aparece um jogador que demonstra verdadeiros argumentos para ser uma boa opção para o futuro próximo da nossa seleção. Os cinco golos apontados nestes dois jogos são apenas uma pequena amostra representativa do que pode dar este jogador a Portugal. Rápido, com boa compleição física e uma facilidade tremenda para arranjar espaços e rematar. Pode melhorar o seu jogo de cabeça, mas, no geral, tem excelentes argumentos para singrar no futebol português. Não será um novo Nélson Oliveira, até porque este tem mesmo as características adequadas para ser um grande ponta-de-lança! Tem Lopetegui, treinador do FC Porto, a responsabilidade de cuidar do seu processo de evolução. Pelo pouco que se conhece do passado do treinador espanhol, dá para perceber que não tem receio de apostar nos mais novos. E os portugueses (principalmente os portistas) esperam que assim continue.

André Silva já apontou 5 golos e tem sido um dos destaques do Europeu de Sub-19 Fonte: Site Oficial do FC Porto
André Silva já apontou 5 golos e tem sido um dos destaques deste Europeu de Sub-19
Fonte: Site Oficial do FC Porto

Mas não só de André Silva se faz esta seleção. Há muito mais talento nesta equipa. Em primeiro lugar, confesso que tive alguma tristeza por não ver Nuno Santos, jovem extremo do Benfica, nesta equipa. Já o tinha acompanhado na Youth Cup e é pena que, pela lesão que contraiu, não esteja nas opções de Hélio Sousa. Ainda assim, e para compensar essa perda, Portugal tem Ivo Rodrigues e Gelson Martins, que têm demonstrado ser opções muito válidas nesta equipa. Mais até Gelson, extremo rapidíssimo do Sporting, que tem uma capacidade tremenda para desequilibrar no um para um. O grande golo que marcou hoje foi um pequeno exemplo daquilo que este jogador pode oferecer a Portugal.

Na zona do meio-campo, gostaria de destacar dois jogadores: Tomás Podstawski e Marcos Lopes. O segundo, creio, dispensa qualquer tipo de apresentações. É “só” o jogador mais novo de sempre a marcar um golo em jogos oficiais com a camisola do Manchester City e este ano, no Lille, tem todas as condições para ser uma opção regular na equipa de René Girard, que disputa a Liga dos Campeões. Não engana: é mesmo craque. A par de André Silva, é aquele que me parece ter um caminho mais curto a percorrer rumo à equipa sénior de Portugal. Quanto a Podstawski (outro jogador do Porto), é um médio com uma maturidade acima da média, com uma forte capacidade de recuperar bolas e iniciar situações de ataque. É, talvez, a peça mais importante deste meio-campo e é o jogador que equilibra a equipa. Sabe gerir os ritmos de jogo e parece ser a voz de comando de Portugal. Finalmente, apesar da boa exibição de ambos, nota-se, claramente, que há um defesa-central superior ao outro. João Nunes, do Benfica, é o maior destaque da zona mais recuada desta equipa e aquele que apresenta maior margem de progressão. O maior elogio que se lhe pode dar é mesmo dizer que parece um jogador de Primeira Liga. Forte no jogo aéreo, grande sentido posicional e, pese embora o facto de ser um jogador muito robusto,  muito ágil e rápido na antecipação. Um valor seguro que deveria ser aproveitado pelo Benfica.

A competição ainda não acabou e Portugal até pode nem ganhar nada. Mas o mais importante já ninguém nos tira: o valor individual dos nossos jogadores. Há jogadores com um potencial tremendo e que fogem muito à regra comum do típico atleta português: a falta de intensidade. Todos estes jogadores que aqui apontei podem vir a ser importantes para Portugal. Agora é ter coragem e apostar neles.

Uma boa geração

basquetebol feminino

O basket português vive um momento algo preocupante pela falta de equipas e pelo desequilíbrio existente entre as mesmas, como se pode ver de forma fácil, mais no lado masculino do que no feminino.

É precisamente sobre o basket feminino português que vou opinar, visto que este tem neste momento uma das melhores gerações de sempre, conseguindo obter bons resultados nas campanhas existentes. O ano passado tivemos a equipa de sub-16 a conquistar um segundo lugar no Europeu B, em competição que decorreu em Matosinhos, e no passado fim de semana a equipa de sub-20 conquistou um brilhante terceiro lugar, também na Divisão B, que lhe garantiu a subida à principal divisão europeia. Começa esta semana, dia 17, em Matosinhos, o Europeu Divisão A de sub-18, em que Portugal compete devido à fantástica participação no ano passado.

Na competição, que vai decorrer até dia 27 de julho, e apesar da grande geração de que neste momento Portugal dispõe, é totalmente impensável pensar num título europeu, mesmo jogando em casa. A luta pela manutenção tem de ser o objetivo definido, já que mesmo este será sempre difícil de alcançar. Mas aí o fator casa pode ser importante; no ano passado, as assistências nos jogos realizados em Matosinhos foram comentadas pela Europa fora, pois não é normal haver tanta gente nos Europeus de formação e ainda por cima numa segunda divisão europeia. Repetir as boas casas e apoiar as nossas jogadoras é fundamental para que os bons resultados continuem a aparecer. Para já, as adversárias lusas são a Suécia, República Checa e a Itália. Adversárias complicadas mas em que nada é impossível.

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Repetir assistências como esta será muito importante para a seleção
Fonte: matosinhosport.com

A crise financeira que Portugal atravessa tem sido um problema, por diminuir as capacidades dos clubes em contratar atletas estrangeiros. Tem sido também um pouco por isso que a formação tem sido levada mais a sério, pois é uma forma mais barata de tentar continuar a ter qualidade nos plantéis, já que os atletas custam menos do que mandar vir estrangeiros – que, sendo mais valias claras, acabam por ocupar vagas dos atletas portugueses. Os resultados começam a aparecer, e as três equipas femininas estão neste momento na principal divisão europeia, sabendo que duas ainda não entraram em competição (sub-18 e sub-16) e que a seleção de sub-20 esta temporada jogou na divisão secundária, mas tendo a subida sido assegurada.

Para terminar, quero apenas lamentar que a competição, que vai decorrer em Portugal, não tenha nenhum acompanhamento televisivo por parte do canal público, quando eventos recentes de futebol em escalões mais jovens tiveram. Coisas que não mudam no nosso país.

Extinção do ’10’

internacional cabeçalho

Findo o Mundial, a atenção dos fãs do futebol passa para as fases de preparação dos clubes dos principais campeonatos europeus. A “troca” não é suficiente para nos alimentar o vício: é como se se trocasse um cigarro por pastilhas de nicotina. Não conseguimos viver sem a “droga” que nos aproxima do prazer de cada bafo – nem sem a antecipação de cenários para a nova época, nem sem as “novelas” do mercado de transferências –, mas fica sempre a faltar aquele momento em que fazemos pausa no mundo e nos abstraímos dele – a competição. Faltam os golos com significado histórico, o peso de uma substituição num encontro, a descoberta da identidade de jogo de uma equipa e as exibições de jogadores emergentes que confirmam ou superam as expectativas sobre eles criadas.

Nós, viciados, procuramos aproximar-nos daquilo de que realmente gostamos. Tentamos imaginar a competição como se ela se estivesse a desenrolar, puxando temas que estão relacionados com a competição. Para além das discussões sobre o preço pago por aquele internacional holandês ou do quão se ressentirá aquela equipa da razia de que foi alvo, vêm à tona questões mais profundas e que atingem todo o mundo do futebol. Questões tácticas.

Semi-final Portugal v France - World Cup 2006
Zinedine Zidane foi um dos últimos desta espécie em vias de extinção
Fonte: theepochtimes.com

Dei por mim a tropeçar numa delas depois de ler Rui Pedro, recém-chegado à Académica, lamentar-se pelo facto de já não existir a posição na qual se sente mais cómodo – número 10. Das páginas do jornal para a mesa da esplanada foi um instantinho, e todos suspirámos com o jogador português pela extinção da posição do maestro que tantos nomes consagrou desde os anos 70 a esta parte. Johan Cruyff, Ronaldinho, Rui Costa, Pablo Aimar, Kaká, Gheorghe Hagi, Zinedine Zidane, Michell Platini, Rivaldo e Totti são alguns dos nomes que, pelo talento, tiveram o privilégio de ter, por debaixo dos seus nomes, o número que a maior parte dos miúdos ambiciona(va) vir a ter um dia, pelo simbolismo que carrega (Pelé, Eusébio, Maradona, Di Stéfano ou George Best, por exemplo, usaram-no) e pelo significado que representa para o jogo. Para além de o 10 ser o jogador a quem estão entregues as maiores responsabilidades, pois é ele quem carrega a manobra ofensiva da equipa (autêntico playmaker), definindo a forma como o conjunto vai visar as redes contrárias, é também dos pés dele que saem as jogadas vistosas – os passes majestosos, os pormenores técnicos deliciosos, e não raras vezes, golos estonteantes (quase sempre mais em jeito do que em força) de fazer abrir a boca a um estádio inteiro.

Ainda há jogadores assim, com criatividade e talento para a usar de forma objectiva. Retirados do Mundial, saem-me da cabeça, de forma mais flagrante, os nomes de Pjanic (claramente talhado para essa posição), Ozil, Sneijder ou James Rodríguez. Mas nenhum deles ocupou, declaradamente, essa posição. Todos os treinadores estavam cientes do quão ineficaz poderia ser um número 10.

É que para uma equipa jogar com um “maestro” os processos ofensivos de jogo têm, obrigatoriamente, de ser trabalhados à volta deste jogador de uma forma exaustiva, ficando quase hipotecadas alternativas como a maior incidência nos flancos ou o recuo do número 9 para “pegar” no jogo. No futebol actual, a dinâmica de um esquema táctico e o recurso a várias formas ditas funcionais de visar as redes contrárias (já não há só uma) é algo fundamental para se conseguir atacar com maiores probabilidades de sucesso, e a utilização de uma só estratégia seria algo facílimo de anular pela defesa contrária, com o recurso à “velhinha” marcação individual.

É curioso verificar que algo tão feio possa estar a matar uma das coisas mais bonitas que o futebol conheceu.