Início Site Página 9631

FC Porto 3-0 Rio Ave: Vitória com carimbo colombiano

eternamocidade

O FC Porto confirmou esta noite o terceiro lugar e respetiva presença no play-off de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões ao vencer no Estádio do Dragão o Rio Ave por 3-0.

Com pouco mais de 17 500 espetadores nas bancadas do anfiteatro portista, o FC Porto apresentou Maicon, Josué e Ricardo nos lugares de Diego Reyes, Fernando e Quaresma. Na equipa de Nuno Espírito Santo, destaque para a presença de Rúben Ribeiro em detrimento de Diego Lopes. Durante os primeiros 45 minutos, a qualidade do futebol esteve longe do esperado, e por isso não foram de estranhar os muitos assobios ouvidos. Ainda assim, o FC Porto podia ter chegado ao golo em três ocasiões durante a primeira parte: primeiro foi Herrera a obrigar Ederson a uma boa defesa; logo a seguir foi a vez de Mangala, de cabeça, a fazer com que o guarda-redes mostrasse ter bons reflexos; a última grande situação para marcar por parte dos dragões foi da autoria de Ricardo, que rematou com força para defesa de Ederson. Do lado do Rio Ave, destaque para um bom remate de Tarantini que passou perto da baliza de Fabiano Freitas.

A entrada de Quintero mudou o jogo Fonte: Catarina Morais/Zerozero.pt
A entrada de Quintero mudou o jogo
Fonte: Catarina Morais/ZeroZero

Depois de uma primeira parte com pouca intensidade por parte dos dragões, tudo mudou no segundo tempo, e muito devido à entrada de Juan Quintero ao intervalo. A equipa comandada esta noite por Folha não precisou de muito tempo para chegar com perigo à baliza vila-condense e, depois do primeiro aviso num bom remate de Danilo, Jackson Martinez acabou por fazer o primeiro golo dos portistas, após uma grande penalidade cometida por Marcelo sobre o avançado colombiano. Quinze minutos mais tarde, depois de ter feito a assistência para a grande penalidade, Quintero voltou a ser decisivo, ao colocar uma bola com conta, peso e medida para Herrera, que, perante Ederson, fez aos 72 minutos o 2-0 para os portistas.

Até ao final da partida, FC Porto e Rio Ave foram repartindo oportunidades, e os azuis e brancos acabaram mesmo por fazer o terceiro da partida, num remate de Danilo que bateu em Hassan e traiu o guarda-redes visitante. Com este triunfo, o FC Porto garante matematicamente o terceiro lugar e ganha um novo ânimo para o único objetivo que lhe resta esta época, a Taça da Liga.

 

A Figura

Quintero – A entrada do colombiano veio revolucionar o futebol portista, tendo contribuído para dois dos três golos do FC Porto.

O Fora-de-Jogo

Josué – O médio portista nunca conseguiu entrar da melhor forma na partida e acabou por ser substituído ao intervalo.

De Rossi: o capitão do futuro

Daniele De Rossi faz 31 anos este ano. Para muitos passou ao lado de uma carreira fenomenal, principalmente em termos de conquistas, muito por causa do seu amor incondicional à AS Roma – situação parecida com a de Francesco Totti. Não me verão a mim proferir uma palavra de desagrado com esta situação, pois folgo em saber que ainda existem jogadores que preferem o amor ao clube e à camisola ao dinheiro, isto apesar de De Rossi ser o jogador mais bem pago a actuar na Serie A, auferindo um salário anual de 6,5 milhões de euros. Já o pai de De Rossi, Alberto, foi jogador da Roma e subsequentemente treinador dos escalões de formação do clube, logo a paixão pela Roma é uma herança de família.

De Rossi juntou-se às camadas jovens da Roma em 2000, vindo do Ostia Mare, onde jogava como avançado. Estreou-se pela equipa principal dos giallorossi em 2001 num jogo da Liga dos Campeões contra o Anderlecht, mas o seu primeiro jogo na Serie A veio apenas em 2003 contra o modesto Como. A sua primeira titularidade, nesse mesmo ano, deu-se contra o Torino, jogo onde apontou também o seu primeiro golo pelo clube.

De Rossi é um dos médios mais completos da actualidade. Mais do que ele talvez apenas o gigante do meio-campo do Manchester City Yaya Touré. É um faz-tudo no meio-campo da Roma e da Itália. É forte e rápido e tanto rouba bolas como as passa e remata. Defende e ataca com mestria, constrói e destrói jogo com facilidade. O que quer que a equipa precise ele fornece. Arrisco dizer que é o melhor médio defensivo do mundo, o que explica as constantes propostas de Real Madrid, Chelsea ou Manchester United para a aquisição do jogador. Continua a ser importantissimo no meio-campo da Roma, estando a ser um dos maiores responsáveis pela excelente época que a Roma está a fazer este ano. É também figura fundamental no meio-campo da selecção italiana que disputa este Verão o Mundial no Brasil. Uma boa campanha da squadra azzurra passará com certeza pelos pés deste excelente jogador.

Daniele de Rossi é um dos pilares da Roma e da selecção italiana Fonte: Getty Images
Daniele de Rossi é um dos pilares da Roma e da selecção italiana
Fonte: Getty Images

De Rossi usa desde 2005/2006 o número 16 nas costas da sua camisola devido ao nascimento da sua filha a 16 de Julho de 2005. Antes disso usou os números 27 e 4.

O palmarés de De Rossi pela Roma inclui apenas duas Taças de Itália e uma Supertaça Italiana, mas junta a isso um Campeonato da Europa de sub-21 e o Mundial de 2006 pela selecção transalpina. Foi eleito o jovem do ano em Itália em 2006 e em 2009 ganhou o prémio de jogador italiano do ano.

Totti ganhou a sua única Serie A pela Roma na época de 2000/2001, jogando ao lado de jogadores como Samuel, Cafú, Emerson, Nakata, Montella ou Batistuta. De Rossi continua e continuará atrás desse título, tendo ficado em segundo lugar por seis ocasiões se contarmos com esta época. Contudo, a Roma está no bom caminho e com um pouco de sorte De Rossi conseguirá a tão cobiçada Serie A antes de pendurar as botas. Ninguém o merece mais que ele.

SD Eibar, Surpresa vs Desilusão

cab la liga espanha

Na província de Guipúzcoa, na pequena cidade de Eibar, com apenas 27.000 habitantes, nasceu em 1940 aquele que é, pelos dias de hoje, a grande sensação da Liga Adelante em Espanha. No seu Municipal de Ipurua, com uma lotação de apenas 5.250 pessoas, o SD Eibar tem feito o furor junto dos seus 3.000 sócios.

O clube Sociedad Deportiva Eibar é um histórico da segunda divisão espanhola. Possui, aliás, o recorde de presenças consecutivas na divisão de prata: 18 temporadas consecutivas. Depois de andar 4 anos perdido e vagueando pela segunda divisão B, voltou este ano à segunda categoria. O actual treinador, Gaizka Garitano, pegou no clube no ano de 2010/2011, depois de um ano como adjunto de uma campanha decepcionante na procura do regresso à Liga Adelante. Desde aí tem tido uma ascenção meteórica, não só em termos de resultados, mas também na componente artística do seu futebol.

Com um 4-2-3-1 como táctica demarcada, é conduzido por um médio de grande qualidade: Jota Peloteiro, formado no Celta de Vigo e cedido pelos galegos, que já leva 9 golos marcados. Estamos a dez jornadas do fim e o Eibar conseguiu até agora 55 pontos e um segundo lugar, o que neste momento lhe daria acesso directo à primeira divisão.

Com 41 golos marcados e apenas 24 sofridos – a melhor defesa a par do histórico Deportivo de La Coruña -, tem apenas 8 derrotas na Liga, sendo que apenas duas são concedidas no seu reduto, o que demonstra que é uma equipa que vale acima de tudo pelo colectivo. Neste momento, e apesar de numa Liga Adelante muito renhida, onde a conquista de pontos é uma luta constante e oscilante, a subida directa pode ser uma realidade no fim da temporada.

O SD Eibar está um passo da ascensão ao escalão máximo do futebol espanhol Fonte: LFP
O SD Eibar está um passo da ascensão ao escalão máximo do futebol espanhol
Fonte: LFP

Porém, atrás destes números, surgem outros mais preocupantes para o clube. Por detrás de uma equipa que em campo demonstra qualidade artística, existe uma depressão administrativa que lhes pode roubar o sonho que estão tão perto estão de conquistar em campo. O clube, com base a uma lei creada pela LFP (Liga de Fútbol Profesional), precisa aumentar consideravelmente o seu capital social – dos actuais 422.253€ para 1.724.272€..

Assim sendo, antes de 6 de Agosto, data limite imposta pela LFP – a mesma que paradoxalmente dava o SD Eibar como exemplo de boa gestão financeira -, o clube precisa recolher dinheiro para fazer frente a uma lei que não depende do seu “déficit zero” mas está assente na premissa de que as Sociedades Anónimas devem ter um capital mínimo de 25% da média dos gastos realizados pelos clubes que participaram nessa mesma competição no ano transacto, excluindo-se as duas SAD que mais gastaram e as duas que menos o fizeram.

No próximo Verão, podemos estar perante mais um dos fenómenos desportivos dignos de fazerem capa nos diversos jornais. O Eibar pode, por mérito próprio chegar, ao mais alto escalão do futebol espanhol, o que lhe daria o direito de competir com os Messis e Ronaldos, e depois ser despromovido por via administrativa, à conta de uma lei estapafúrdia por não premiar um clube que não só tem as contas em dia, como conseguiu um superavit de cerca de meio milhão de euros. Ser obrigado a quadriplicar o seu capital social tendo por base uma lei que calcula uma média onde estão inseridos alguns clubes que têm gestões administrativas verdadeiramente vergonhosas não faz sentido. Já diz o ditado: “Por bem fazer, mal haver”.

Força da Tática: A conquista da convicção

força da tática

Escrevi o ano passado, logo após o final do encontro com o Chelsea na final da Liga Europa, que “o melhor treinador nem sempre é o que mais ganha (…) isso dizem aqueles que vêem o desporto como uma ciência exacta, que nunca foi, e que o tratam como a política”. Analogias à parte, era duro o papel daquele que defendia a competência de Jorge Jesus aquando da maior das desilusões, no final da semana das derrotas. O ser humano pede naturalmente um culpado para o que de mal acontece e o futebol é feito de emoção. Cabia a Luís Filipe Vieira reflectir sobre as razões do sucedido e fazer uma retrospectiva do trabalho do seu treinador. Assim que a fez, entendeu: Jesus é quem mais aproxima o Benfica de ganhar. Foi com base nesta convicção que o campeonato de 2013/2014 foi ganho. Mas porquê? Existem três razões principais. Duas contextuais e uma absoluta.

1) Continuação e conhecimento aprofundado de um modelo de jogo vitorioso 

Jorge Jesus estava, no final do ano passado, a terminar a sua quarta temporada ao serviço do Benfica. Tinha perdido o seu primeiro jogo no campeonato à 29ª jornada e a final da Liga Europa para os ainda campeões europeus. Ao longo desses quatro anos, o Benfica nem sempre jogou da mesma forma. Jesus é suficientemente inteligente e conhecedor para saber que o melhor esquema, embora com ideias e princípios semelhantes, é aquele que retira o melhor de cada individualidade sem desvirtuar o colectivo. Muito embora tenham existido alterações pontuais na forma de jogar do conjunto encarnado, as ideias fortes – o modelo de jogo, leia-se – do treinador português manteve-se sempre. Era por isso quase impossível que qualquer outro treinador garantisse, a curto prazo, como necessário, o estabelecimento de um modelo de jogo e consequente interiorização do mesmo por parte do plantel de forma suficientemente vincada. Isso é o mais importante.

2) Conhecimento perfeito das características de cada jogador e capacidade para os adaptar às necessidades da equipa

O caso mais flagrante para mostrar a importância deste tópico remonta à época de 2012/2013: no início da temporada, já com o mercado português fechado, Jesus viu Witsel – então peça-chave no seu onze – ser vendido ao Zenit e, assim, foi obrigado a inventar um médio-centro que garantisse um rendimento semelhante àquele que o belga tinha acostumado os seus adeptos. Sem alternativas verdadeiramente credíveis, Jesus apostou em Enzo Pérez, que até à altura tinha sido sempre utilizado como extremo, e, mais, sem grande sucesso no clube da Luz. A verdade é que a adaptação decorreu da melhor forma e pouco tempo duraram as saudades do talentoso Axel Witsel. Mas como? Esta é a pergunta cuja resposta indica o sucesso de Jesus: o treinador que agora tem 59 anos sabe avaliar como poucos em Portugal as características de cada um dos jogadores do seu plantel e vislumbrar aquilo que de melhor cada um pode dar ao colectivo. Para além disso, há outra competência importante no que toca a este fenómeno da adaptação. Só se adapta a necessidades diferentes quem é inteligente e quem sabe ouvir. Jesus sabe disso. No futebol ou em qualquer área, só nos conseguimos adaptar a realidades distintas se tivermos a inteligência necessária para entender o que nos é exigido e a humildade para ouvir quem nos orienta. Jesus viu em Enzo as virtudes necessárias e a verdade é que o argentino as tinha. Numa equipa que vende sucessivamente o seu melhor jogador, esta capacidade do treinador para reorganizar e readaptar a sua formação às vontades do mercado internacional é essencial para garantir uma equipa sustentável e equilibrada. Quantos treinadores não se colocariam na sombra da venda de Matic para justificar o seu insucesso? A verdade é que foi na 2ª volta do campeonato, sem Matic, que o Benfica melhor jogou. No vídeo em baixo, a partir do minuto 50:55, Jesus fala sobre este processo das adaptações. Elucidativo.

3) O mais importante: qualidade enquanto treinador acima dos restantes

Diga o que se disser, com uma verdadeira análise tanto sectorial como conjunta dos movimentos do Benfica na corrente época, é fácil entender os frutos do trabalho do treinador ao longo do ano. Os resultados às vezes mentem – e por isso não podem ser argumento único, qualquer que seja a tese – mas este nem é o caso. Sendo competente em qualquer momento do jogo, o Benfica é exímio em dois deles: na organização defensiva e na transição ofensiva. Vejamos:

  • A organização defensiva é, ainda assim, aquele que mais destaco. A marcação exclusivamente à zona, como se faz no Benfica, é complexa e requer tanto rotinas muito bem trabalhadas como inteligência por parte dos jogadores para se adaptarem a situações distintas das preparadas ao longo da semana. A cobertura dos espaços sempre tendo a bola como referência principal (primeiro vídeo do artigo), tanto em largura como em profundidade, é um dos segredos desta forma de defender tão bem desenvolvida. A forma como os sectores do Benfica dão muito pouco espaços para jogar entre-linhas é fundamental, principalmente nos jogos grandes (2-0 ao Porto e Sporting). Depois, a agressividade dos seus jogadores (Maxi ainda é titular por alguma razão; Lima e Rodrigo tornaram a equipa melhor também em aspectos defensivos; Fejsa, sem ser espectacular, é muito competente nesta área; Enzo é um dos criativos que melhor vejo defender) é outra das bases necessárias para os números apresentados: nos últimos 15 jogos no campeonato, o Benfica sofreu golos em 2; nos últimos 28 jogos da equipa encarnada, 23 (!!) acabaram com a baliza em branco. Para além disso, não é coincidência que o Benfica não tenha consentido na presente época nem uma reviravolta no marcador. No vídeo que coloquei em cima pode ver-se Jorge Jesus a falar da importância do treinador no processo defensivo a partir do minuto 1:14:45. Pessoalmente, destaco isto: “quando não vires uma equipa a defender bem podes pôr em questão o treinador”. Em baixo, ficam dois vídeos que corroboram as minhas últimas palavras, muito bem acompanhados por alguns apontamentos feitos pelo blog Posse de Bola.

  • A transição ofensiva, por seu turno, é um aspecto usualmente mais reconhecido ao conjunto da Luz como um dos seus pontos fortes. Muito embora haja uma predominância do público geral na preferência pela organização ofensiva, fruto do sucesso e recém encantamento que o Barcelona e Guardiola causaram no mundo do futebol, o Benfica tem mostrado que o jogo mais rápido e vertical nem sempre é sinónimo de menos qualidade. Na verdade, pode ser exactamente o oposto, dependendo dos jogadores que se tem à sua disposição e da forma como são trabalhados. O doseamento perfeito entre o uso da profundidade ofensiva e a capacidade de soltar a bola no momento certo fazem da transição do Benfica a sua arma mais perigosa: ainda ontem, frente a um muito limitado Olhanense, o Benfica só marcou em duas transições rápidas. Contra o Sporting, na pior exibição da época da equipa de Alvalade, aconteceu exactamente o mesmo: duas transições, dois golos (vídeo em baixo). E mesmo com o Porto, o primeiro golo é resultante de uma transição comandada por Markovic e o segundo, embora de bola parada, tem na origem uma transição em superioridade numérica que acaba por gerar o canto (vídeo em baixo). Isto trabalha-se tanto quanto qualquer outro momento do jogo. A quantidade de vezes que o Benfica se encontra em igualdade ou até superioridade numérica durante as suas transições são resultado da aproximação do colectivo ao elemento fundamental do jogo, a bola. Se os jogadores estiverem longe da bola quando o adversário está em posse, nunca vão ser capazes de reagir de forma rápida e eficaz e ser uma mais-valia numa transição rápida. Segue também um terceiro vídeo que demonstra a força da transição ofensiva de Jesus já em 2011, frente ao Guimarães.

http://youtu.be/ZhcwwNLzbYo
(Nota: Para ver este vídeo, basta copiar e colar o link, visto que a incorporação foi desactivada)

São estas as razões principais que me levam a achar que é Jesus quem mais aproxima o Benfica do sucesso. E estas ideias não variam, como para a maioria dos adeptos, de acordo com a bola que vai ao poste ou entra. Se tivesse acontecido o milagre do Benfica este ano voltar a não conseguir ganhar nada, por ser batido nas finais ou por sofrer uma sequência de golos aos 92 minutos, a minha ideia manter-se-ia: o Benfica do próximo ano mais forte seria o Benfica com Jesus. Tem alguns defeitos? Tem. Mas nenhum suficiente para se colocar o seu lugar em risco e nenhum capaz de ter demovido Luís Filipe Vieira das suas convicções, no ano passado, quando a larga maioria pedia a rescisão com o seu treinador. A verdadeira conquista foi essa. A de ontem foi só uma consequência.

Como lidar com o papel secundário?

0

eternamocidade

São buzinas a apitar nas ruas, são festejos em todos os pontos do mundo, são programas e programas a falar sobre o mesmo assunto, dando voz centenas de vezes aos mesmos protagonistas. É uma noite sem igual, sem comparação possível. Sim, já deve ter percebido que estou a falar dos festejos do novo campeão nacional, o SL Benfica. Admito que, desde que comecei a escrever no Bola na Rede, este é o texto que mais me custou redigir. Afinal de contas, são todas aquelas buzinas e festejos que fazem o meu som de fundo esta noite. E, claro, depois de três anos a festejar o campeonato, admito que não foi fácil recordar-me de como era não estar a festejar, de como era não ter o cachecol no pescoço para celebrar mais um título. Quatro anos depois, essa sensação voltou. Como fui escrevendo nos últimos textos, obviamente não se pode ganhar sempre, mas é impossível não ser confrontado, sempre que outra equipa que não o FC Porto vence o campeonato, com todas as linhas a preverem o fim de ciclo da equipa portista.

Para mim, que vejo futebol há tanto tempo, é sempre complicado tentar perceber todas estas conversas sobre o “fim de ciclo”. É certo que o FC Porto conta com 14 campeonatos nos últimos 20 anos, mas é óbvio que no futebol os protagonistas não podem sempre ser os mesmos. O bom problema é que durante estas últimas três décadas, nas Antas e no Dragão, praticamente apenas um verbo foi sendo conjugado: o verbo “ganhar”. Durante épocas e épocas a fio, o FC Porto foi vencendo e convencendo dentro e fora de portas, lidando quase sempre com uma concorrência demasiado frágil para o poder que os dragões iam demonstrando todos os anos. Olhando para a história mais recente, desde a chegada de José Mourinho ao FC Porto que a equipa portista tinha apenas perdido dois campeonatos em oito possíveis: em 2005 e em 2010. Ainda assim, se podemos considerar que o título perdido em 2005 para a equipa de Giovanni Trapattoni foi apenas um acidente de percurso, tendo em conta todas as incidências e a percentagem pontual conseguida pelos três grandes nessa Liga, há que ser claro e admitir que desde 2010 as coisas mudaram no futebol português. E, por detrás de toda esta mudança, um nome surge por cima de tudo o resto: o de Jorge Jesus. Não vou escrever parágrafos sobre o técnico benfiquista, mas claramente permita-me que deixe este elogio a Jesus, considerando-o como o principal responsável por este suposto “fim de ciclo” hegemónico portista. A partir de 2010, e apesar da época dourada de André Villas-Boas e dos dois campeonatos tirados a ferro por Vítor Pereira, Jorge Jesus veio trazer um equilíbrio que já não se via há muito no futebol português.

O FC Porto partiu para esta época como tri-campeão, mas foi incapaz de revalidar o título  Fonte: ualmedia.pt
O FC Porto partiu para esta época como tri-campeão, mas foi incapaz de revalidar o título
Fonte: ualmedia.pt

O futebol praticado, as contratações feitas e sobretudo a substancial diminuição de erros de casting da equipa benfiquista fizeram com que, a partir de 2010, tudo fosse mais complicado para o FC Porto. Há umas semanas escrevi que este momento já poderia ter acontecido há duas épocas, porque nos dois títulos de Vítor Pereira, apesar de todo o mérito que a equipa portista teve na conquista dos campeonatos, há que reconhecer que houve muito demérito de quem teve a vantagem no campeonato e não a soube conservar. Por isso mesmo, tal como escrevi na última quarta-feira, sinto que houve facilitismo da estrutura portista porque o FC Porto foi continuando a ganhar: contratações falhadas, treinadores com pouca experiência e um conjunto de outros erros foram sendo maquilhados nos dois anos de Vítor Pereira apenas porque tudo acabou bem, mesmo com todos os problemas que o ex-técnico viveu.

Com as saídas de João Moutinho e James Rodriguez, o FC Porto começou esta época sem duas das principais figuras do tri-campeonato. Apesar da boa pré-época e do excelente início de temporada de Paulo Fonseca, cedo se percebeu, principalmente depois do descalabro de Coimbra, que as coisas tinham tudo para correr mal este ano. Desde o mau planeamento do plantel, que nunca conseguiu substituir as perdas do Verão, até aos constantes problemas na equipa e no clube que vinham saindo para a praça pública como nunca havia acontecido desde então, esta foi uma época de tormento para a equipa portista. Com jogadores com a cabeça completamente fora do clube, com outros em claro sub-rendimento e outros ainda a não demonstrarem qualidade para envergar uma camisola tão carregada de vitórias, o FC Porto foi apenas um fantasma durante esta temporada. Depois de 2005 e 2010, o pesadelo de não ganhar o campeonato voltou a pairar no Dragão. Tal como em 2010, e apesar de todo o mérito do novo campeão na conquista do título, claramente fica a imagem de que o FC Porto não entrou com todas as fichas nesta temporada. Alguns poderão dizer que os ciclos devem acabar para que se comecem novos ainda com mais força; mas eu, que não acredito muito em coincidências, acredito que estas buzinas e estes festejos devem soar o alarme no Dragão, porque, apesar de isto ser um jogo, não acredito em coincidências.

A "estrutura" tem de dar uma resposta à altura na próxima época  Fonte: portocampeao.com
A “estrutura” tem de dar uma resposta à altura na próxima época
Fonte: portocampeao.com

Olhando para trás, acredito que esta época de fracasso deve ser exemplo para aquilo que aí vem. Em 2011, depois do primeiro título de Jesus, o FC Porto foi buscar André Villas-Boas, João Moutinho, James Rodriguez e, juntamente com Falcao, Hulk ou Belluschi, formaram uma das melhores equipas da história azul e branca. Quatro anos depois, não acredito que a história possa ser diferente. Se todas as derrotas e tristezas desta época serviram para alguma coisa, penso que deverão ter servido para colocar na cabeça de muita gente da tão proclamada “estrutura” portista que não é com qualquer jogador ou treinador que se ganha. Depois de todas estas derrotas, é tempo de pensar que o mito de que “qualquer um é campeão no FC Porto” não passa disso mesmo, de um mito. Afinal de contas, desde 2010 e da chegada de Jesus que o futebol português mudou e o FC Porto já não é tão dominador como era. Por isso mesmo, porque agora tem um concorrente à altura, o FC Porto tem de puxar dos galões de campeão e voltar a construir uma equipa à imagem do símbolo que o clube enverga. Tudo porque agora já não é tão fácil como era. E é bom que a estrutura meta isto na cabeça, sob pena de as buzinas e os festejos não voltarem tão cedo à Invicta.

Benfica – Campeão Nacional 2013/2014

0

camisolasberrantes

Hoje, 20 de Abril de 2014, quatro anos e quatro épocas depois, o Benfica volta a sagrar-se campeão. Depois de muitas lágrimas derramadas no seguimento daquele que foi o final de época 2012/2013, poucos tinham a coragem e o coração para voltar a enfrentar tudo e todos durante mais um ano e com a esperança de ver, no final, o Benfica – em massa – no Marquês de Pombal.

Aconteceu. Está a acontecer. Hoje provámos que os sonhos se tornam realidade e que a força, o crer e a ambição são capazes de fazer o Benfica campeão. Que nós – adeptos, sócios, jogadores, treinadores e direcção – todos os jogos entramos em campo juntos e com os olhos postos no céu com a esperança de voltar a ver o sol “que risonho vem beijar”. Era e é nosso. Se dúvidas havia, hoje aqui as matamos. Sem medos ou pesares. Porque hoje é dia de festa. E festa teremos até que o campeonato acabe…não esquecendo a Taça de Portugal, a Liga Europa e a Taça da Liga.

Permitam-me o atrevimento, ainda antes de me juntar aos meus companheiros de coração na rotunda mais majestosa deste país, e deixem-me dedicar este (primeiro) título aos enormes benfiquistas que, como nós, nunca deixaram de acreditar e que, ao contrário de nós, já não puderam ficar cá para ver. Não por egoísmo, mas porque na vida a morte também manda. E manda demasiado.

Eusébio, Coluna, Fernando Martins, Medeiros Ferreira e Arlindo Afonso, meu caros, este é vosso. É para vocês. Que o céu tenha Benfica TV, uma geleira cheia de minis e um pires de tremoços. Assim, estaremos sempre juntos à hora do nosso Glorioso. Obrigado. Viva o Benfica.

O Passado Também Chuta: Éric Cantona

o passado tambem chuta

O Bad Boy. A irreverência. O jogador que percorreu campos e clubs. O jogador do salto sobre o espectador. O homem dos castigos. O ídolo do teatro dos sonhos: Eric Cantona. O Manchester United teve e tem jogadores de sonho: George Best; Bobby Charlton; Denis Law; van Nistelrooy; Rooney; Giggs; Van der Sar; Beckham e Cristiano Ronaldo; no entanto, só um é considerado como o melhor jogador de sempre do Manchester United: Eric Cantona. França, terra que o viu nascer e dar os primeiros pontapés, viu também como andou desde o Martiques ao Marselha, passando pelo Auxerre, Bordeaux, Montpellier ou o Nîmes. Em todos deixou o selo da sua imensa classe e da sua irreverência. E foi ainda a França que conheceu a primeira tentativa do craque de abandonar o futebol, mas, entre psicanalistas, Platini e outros convenceram-no a mudar de ares. Inglaterra viu-o chegar. A cidade de Manchester ainda o esperaria, por um curto espaço de tempo.

E teve de começar bem em Inglaterra. Fez provas no Sheffield treinado pelo mítico Trevor Francis. Acontece que demoraram muito a tomar uma decisão e o nosso genious não gostou. Pegou nas malas e arribou no Leeds United. Colaborou na conquista do título e no ano seguinte começou a marcar de três em três. O Manchester United fixou-se no Enfant Terrible e abriu a carteira. Um milhão e duzentas mil libras fizeram o milagre. O Manchester United acabava de contratar o jogador que transformaria a equipa e que a situaria no patamar mais elevado do futebol inglês.

Garra Fonte: Soccerlens.com
Garra do francês
Fonte: Soccerlens.com

Entrou Eric Cantona e o Manchester retomou o sabor de ser campeão. No ano seguinte abusou um pouco mais e ganhou Campeonato e Taça. 1990 começou da melhor maneira e o Manchester recuperou pedestal. Cantona é ídolo mas a sua irreverencia irrascível leva-o de tormenta em tormenta até ao famoso castigo de nove meses, resultado do famoso pontapé acrobático num adepto do West Ham. Regressou e regressou com a áurea do saudoso. Os adeptos do Manchester United desejavam-no.

É escusado dizer que continuou a ganhar títulos. A nível individual foi reconhecido como o melhor jogador do campeonato inglês durante vários anos. Internacionalmente, caiu-lhe o prestigioso prémio Onze de Ouro e, entre os prémios ingleses, entrou na selecção da década 1993-2002 do campeonato inglês. No entanto, o fim da carreira de Cantona batia à porta com apenas trinta anos.

O problema neste caso chamou-se seleção francesa. E o famoso provocador do abandono foi Aimé Jacquet, seleccionador francês, por não o convocar. Acontecia o campeonato mundial disputado em terras francesas e o Bad Boy não tolerou semelhante afronta, estando, além disso, em plena forma e competindo como sempre. Todos os que tinham acesso à sua privacidade tentaram persuadi-lo mas a decisão era firme. O futebol viu partir um génio com um carácter imenso, mas a lenda de Cantona permanece em cada mente que se senta em Old Trafford.

O futuro do Moto GP – Entrevista a Miguel Oliveira

entrevistas bola na rede

Tem apenas 19 anos e foi o primeiro português a participar no Moto GP. Miguel Oliveira vai para o terceiro ano em MOTO3 e ambiciona ser campeão do Mundo nessa categoria, para um dia alcançar voos mais altos. Em entrevista ao Bola na Rede, o piloto faz um balanço da sua ainda jovem carreira e comenta o estado do desporto em Portugal.

Bola na Rede: Como nasceu a paixão pelo motociclismo?

Miguel Oliveira: Do meu pai. Desde cedo que tive contacto com as motas: o meu pai meteu-me em cima de uma e a partir daí fui começando a tomar o gosto.

BnR: Como é que chegou a este ponto na sua carreira?

M.O: O percurso foi sempre ascendente; fui passando de categoria em categoria para motas cada vez mais rápidas e em 2011 consegui fazer o campeonato do mundo a tempo inteiro, sendo o primeiro português a conseguir esse feito, e agora estou no meu terceiro ano de campeonato do mundo a tempo inteiro.

BnR: Que objectivos tem traçados para este terceiro ano?

M.O: Lutar pelos três primeiros lugares e, se possível, tentar ser campeão do Mundo.

BnR: Vai participar no campeonato do mundo com uma nova mota. Qual é a diferença entre a nova mota e a antiga? É uma mota capaz de competir com a KTM?

M.O: A nova mota é mais potente e isso vai ajudar nas corridas. Este ano, nos testes de pré-temporada e na primeira corrida, fomos bastante competitivos, e acho que estamos em condições de lutar de igual para igual com a KTM.

Fonte: Migueloliveira44.com
Fonte: Site Oficial de Miguel Oliveira

BnR: Para quando o salto para a MOTO2?

M.O: Vai depender muito do que eu conseguir fazer este ano. A MOTO2 é uma categoria em que os motores são todos iguais, o que faz a diferença é a equipa técnica e o piloto. Se encontrar uma boa oportunidade e se os resultados deste ano justificarem essa transição, é uma realidade possível.

BnR: É fácil para os pilotos portugueses chegarem ao mundo do motociclismo, principalmente ao MOTOGP?

M.O: Não. Em toda a história do motociclismo, fui o primeiro português a chegar ao campeonato do Mundo de MOTOGP. A iniciação do Desporto em Portugal está um pouco em declínio e penso que se poderia ter feito algo. Na altura em que a federação teve campeonatos de iniciação muitos pilotos aderiram, eu fui um dos que conseguiram vingar. Acho que deveriam repetir iniciativas iguais a essa.

BnR: Acha que factores como o facto de não existirem verbas ou de não existir uma forte aposta nos pilotos portugueses também são determinantes?

M.O: O problema é que as empresas não veem o MOTOGP como uma plataforma de comunicação. É um evento que chega a muitas pessoas, mas as empresas não o veem como um mercado onde podem expor o seu produto e ganhar bastante publicidade. Há muitas empresas internacionais que fazem isso e não têm prejuízo.

Fonte: Migueloliveira44.com
Fonte: Site Oficial de Miguel Oliveira

BnR: Quais são os seus maiores ídolos e referências?

M.O: Nunca tive grandes ídolos ou referências. Quando era mais jovem via cassetes de pilotos a andarem de mota e tentava imitá-los, mas nunca tive nenhuma referência. Só o Valentino Rossi, por ser nove vezes campeão e por ter o carisma que tem.

BnR: Qual é o seu sonho enquanto piloto?

M.O: O meu maior sonho é poder pilotar uma mota a mais de 300 km/h e ser um dia campeão do Mundo.

Belenenses 0-1 Sporting: Quem quer ser milionário?

relacionamentodistancia

O Sporting Clube de Portugal conseguiu garantir esta noite, no Estádio do Restelo, o acesso directo à Liga dos Campeões 2014/15.
Perante bastante público apesar dos preços proibitivos, os leões não tiveram a exibição mais vistosa da época mas, talvez, uma das mais importantes, por aquilo que estava em jogo.

A equipa de Vidigal não disfarçou as suas intenções, alinhando com três médios defensivos e sem qualquer ponta de lança, deu a iniciativa ao Sporting, que controlou durante grande parte do jogo, sem conseguir, no entanto, criar um grande número de oportunidades de golo, tão necessárias para um jogo como o de hoje.

Com o Sporting a controlar, a grande oportunidade da primeira parte e, infelizmente, de toda a partida, chegaria através de André Martins que fez tremer a trave e levantar os adeptos, naquele que seria certamente um dos golos da jornada, num de remate cruzado, à meia-volta. Pouco depois, Cosme Machado viria a apitar para o intervalo e chegava a altura de Leonardo Jardim reforçar as suas ideias no balneário.

Na segunda parte, os visitante vieram mais animados, a jogar mais, mais rápido e melhor. As alas começaram a funcionar e o tridente do meio-campo encaixou finalmente, mais coordenado com as dinâmicas ofensivas da equipa, incluindo Slimani na frente.

O Belém chegou a causar perigo, através de Fernando Ferreira, que obrigou Patrício a gritar “presente!”, mas o momento que marcaria o jogo sucedeu-se do outro lado do terreno, através do irreverente Carlos Mané, que trocou as voltas a João Meira que acabou por cometer falta dentro da área dos da casa. Adrien bateu, mais uma vez, irrepreensível, e colocou o Leão em vantagem, faltavam agora menos de 40 minutos para chegar à Champions.

A velocidade de Mané marcou a diferença, conquistando o penalti da vitória  Fonte: Zerozero
A velocidade de Mané marcou a diferença, conquistando o penalti da vitória
Fonte: Zerozero

Fruto do golo e da necessidade de refrescar as equipas, os dois treinadores fizeram entrar homens mais velozes para ambos os lados, tornando a partida mais animada, ainda que pouco objectiva em termos de lances de golo. O Sporting controlava, com relativa segurança, sabendo da responsabilidade do resultado que defendia.

No entanto, a 10 minutos dos 90, o Cosme achou que o jogo precisava de qualquer coisa mais. Qualquer coisa para animar as bancadas, os jogadores, os bancos de suplentes, etc. O homem aborreceu-se, vá… E portanto, achou por bem expulsar Marcos Rojo sem motivo.
O jogo animou, o Cosme estava mais contente. Os ânimos exaltaram-se, o Cosme mostrou mais uns amarelos.

O jogo acabaria por terminar com algum nervosismo desnecessário à mistura. William, mais uma vez, acabou a partida a comandar as operações, com a responsabilidade e experiência que normalmente não vemos em jogadores antes dos seus “trintas”.

Hoje não foi dia de jogar bonito. Foi dia de carimbar o passaporte. Foi o dia de mostrar que estamos de volta e estamos para ficar. Foi o dia de dizer que hoje não era o dia do rival festejar.

A época pode estar a chegar ao fim, mas nós… estamos só a começar.

A Figura: O Sporting. Porque esperámos TODOS demasiado tempo para tornar a ouvir “ Ils sont les meilleurs / Sie sind die besten / These are the champions / Die Meister / Die Besten / Les grandes équipes / The champions! ”

O Fora-de-jogo: O Cosme. Tentou mexer com o jogo, com o resultado e com o trânsito no Marquês de Pombal. Hoje não conseguiu.

Jogadores que Admiro #17 – Didier Drogba

jogadoresqueadmiro

Um dia ouvi falar de que Mourinho iria treinar um tal Chelsea. Pouco tempo depois, vi o mesmo clube anunciar Didier Drogba. Desconhecia tal nome. Comecei a acompanhar a época deste tal Chelsea e cedo me encantei. Começando pelas redes, com Petr Cech, passando pela defesa, com Terry, Ricardo Carvalho e Gallas, dando mais uns passos no meio-campo até Lampard e Makelele, o meu encanto caiu sobre o ataque. Didier Drogba, de seu nome, era o matador de serviço.

Um verdadeiro diamante, o costa-marfinense logo confirmou o estatuto de promessa que já tinha demonstrado no Marselha, com 32 golos em 55 jogos. No último terço do reduto mandava Drogba. Com 1,88 metros de altura, a grande área era o seu habitat natural. Disputava todos os lances com uma garra inegável, conjugava como ninguém força e técnica. Deixava os defesas a “ver navios” com os seus arranques. Era um ponta-de-lança da cabeça aos pés. Era talento; aliás, é talento. Graças a Deus que ainda tenho a possibilidade de ver este grande jogador jogar. Apesar dos 36 anos de idade, o faro para o golo e o instinto matador não desapareceram. Hoje em dia, Drogba não é só sinónimo de matador, mas também de classe.

Com toques de génio, a idade e inteligência de jogo deram-lhe mais um atributo – classe. Classe não é para todos. Mas Drogba transborda classe. Era uma máquina, e Mourinho transformou-o num monstro. Ao serviço do Chelsea, nunca me vou esquecer dos golos, dos passes, dos toques, das arrancadas… E a verdade é que desde que ele saiu os blues nunca conseguiram encontrar um substituto à altura. É normal, Drogba só há um.

Drogba, com a Taça dos Campeões Europeus nas mãos Fonte: Getty Images
Drogba, com a Taça dos Campeões Europeus nas mãos
Fonte: Getty Images

De todos os momentos, não posso esquecer a final da Liga dos Campeões frente ao Bayern de Munique. Quando Drogba empata o jogo contra todas as probabilidades e, mais tarde, converte a grande penalidade final. Foi o concretizar de um desejo antigo, ver um jogador que tanto admiro vencer a Liga dos Campeões. Vê-lo transbordar de emoção com um título tão desejado por todos os futebolistas. Foi fantástico.

Hoje em dia, o costa-marfinense vive para a sua selecção e para o Galatasaray. É o líder em campo, um verdadeiro capitão que dispensa braçadeira e um pesadelo para os defesas que têm de pensar em como pará-lo. É sem dúvida a estrela da equipa e, verdade seja dita, um jogador destes merece um público daqueles, merece jogar numa atmosfera daquelas e sentir cada golo como se tivesse sido marcado na final da Liga dos Campeões.

Que Drogba continue a jogar por muitos anos. Enquanto continuar a engraxar as sapatilhas com classe, que nunca páre. Porque quando parar o futebol vai perder um ponta-de-lança de topo. Um ponta-de-lança que não precisou de uma Bota de Ouro ou de uma Bola de Ouro para ficar na história. Drogba não precisa de troféus individuais, precisa apenas de umas chuteiras nos pés, uma bola no relvado e uma baliza para fazer tiro ao alvo. Avé Didier Drogba.