
Fonte: Leicester
A época 2014/15 tinha tido o predomínio de uma cor: azul. O Chelsea de Mourinho impôs a sua força e levou a melhor sobre toda a concorrência, terminando o campeonato com 8 pontos de vantagem para o segundo classificado Manchester City, o único “sério” rival nesta disputa, pelo que se previa que o vencedor de 2015/16 tivesse os mesmos tons da anterior. E teve. Mas o vencedor foi tudo menos esperado, interrompendo uma tendência de previsibilidade no vencedor da Premier League, que desde há 20 anos se cingia a quatro clubes: Arsenal, Manchester United, Chelsea e Manchester City, todos eles integrantes da lista de elite dos “Big 5” (onde também cabe o Liverpool, sem títulos desde a criação da Premier League).
Não, não foi o Everton. Foi uma equipa que duas épocas antes tinha vencido a Championsip (segunda divisão inglesa) e que, na anterior, a 10 jornadas do fim, ocupava a última posição, com um diagnóstico reservado quanto à sobrevivência na Premier League, com escassos 19 pontos. Porém, superou-se, e em 8 jogos somou os mesmos 19 pontos, garantindo a hipótese de voltar a disputar o campeonato mais visto em todo o mundo.
Pensou-se que a equipa iria voltar a sofrer, até porque tinha dispensado o treinador que tinha garantido a miraculosa manutenção, dando lugar a um senhor de quem pouco se esperava (“Raniery… Really?”, disse a crítica). Mas esse senhor, soube enquadrar-se no contexto e não pediu processos de jogo sofisticados aos seus jogadores. Foi inteligente e sagaz. Os seus jogadores foram tanto ou mais. E apresentaram uma ideia de jogo previsível, mas difícil de contrariar.
Kanté, com o devido amparo de Drinkwataer, ocupava toda a largura do terreno, destruia e saia a jogar na frente, onde Mahrez construia e Vardy finalizava. Lá atrás, estava uma defesa de guerrilha liderada pelo capitão Morgan. Havia simplicidade e laivos de magia sustentados pela concentração do muro defensivo.
A época começou muito bem, com duas vitórias consecutivas nos primeiros encontros e uma série de 6 jogos sem perder (ainda que com alguns solavancos no processo defensivo), abruptamente interrompida por uma derrota caseira diante do Arsenal por… 5-2. Ranieri disse “Vamos ver de que fibra somos feitos”. A equipa respondeu: cinco viórias e um empate nos seis jogos seguintes. Vardy esteve em evidência. De tal forma que chegou à 14ª jornada com a possibilidade de bater o recorde de jogos seguidos a marcar, detido por Ruud Van Nistelrooy. Marcou, pelo 11º encontro consecutivo e, ironicamente, frente ao United, fez história. Um dadoq ue reforçou a confiança da equipa, que só voltou a perder à 18ª jornada, dobrando a primeira volta extraordinariamente bem classificada para assegurar um lugar… na Premier League do próximo ano, tendo feito uma primeira volta à campeão.

Fonte: ESPN
Duvidou-se da capacidade de se aguentar a pressão, perante adversários tão bem cotados no mundo inteiro. Mas a equipa de quem nada se esperava ficou “picada” com o que se dizia sobre ela e partiu para a segunda volta cheia de vontade de mostrar que sim, que era capaz de ombrear com os gigantes. E foi. Aliás, superou-os. Foi ao Etthiad vencer o City por 3-1 depois de derrotar, em casa, o Liverpool, por 2-0.
Depois, apesar de ter caído em casa do Arsenal, foi aproveitando os deslizes dos rivais e cimentando um lugar no topo. Acreditou-se no “sonho impossível” de se concretizar. A dada altura, o rival já só era o Tottenham e, passado pouco tempo, já só era a própria equipa. Seria capaz de não cair? Foi. Deslocou-se a Old Trafford com a possibilidade de se sagrar campeã, começou a perder com um golo aos 8 minutos, mas 9 minutos depois respondeu. Manteve o empate e torceu para que, em Stamford Bridge, o Chelsea travasse o rival.
O Tottenham dominou a primeira parte e foi ao intervalo a vencer por 2-0, prespectivando o aumento da ansiedade para os lados da equipa que procurava o “sonho impossível”. Porém, Cahill, aos 58 minutos deu esperança. 1-2. O jogo permaneceu numa toada morna, com o Chelsea a fazer dele mesmo (amorfo). Porém, num rasgo genial, Hazard recebeu de Diego Costa, e atirou ao canto superior esquerdo da baliza defendida por Lloris, no único espaços onde cabia a bola, fazendo o 2-2. Até final, muitos nervos, mas o sonho concretizou-se.
O Leicester, sim!, sagrou-se campeão, tornando-se na equipa que mais surpreendeu o mundo nos últimos anos.
No discurso de vitória, Ranieri disse “Não acordem, continuem a sonhar!”. De facto, todos nós pudemos sonhar, naquele dia. Quaisquer que sejam as contrariedades, a glória está no rumo de quem se alimenta a esforço e dedicação.
Foto de Capa: CNN