Decorria o minuto 20. Na bancada TMN, sector 41, piso 3, um encarnado, quase nos seus 50 anos de benfiquismo, deixava substituir um sorriso de quem viu a jogada fenomenal que antecede o golo de Rodrigo por um sôfrego esgar de dor. Onde antigamente o Benfica costumava deixar as suas marcas, agora nada bate. Onde durante décadas e décadas era costume sentir-se um louco acelerar de palpitações, agora reina a calmaria. Onde o amor pelo Glorioso pedia mais e mais golos numa desenfreada arritmia de paixões, agora é o silêncio que impera. A mão sobre o lado esquerdo do peito já não simboliza a entrega a um amor como há poucos. Um amor que o havia de acompanhar em vida e dele despedir-se, ali mesmo, em morte.
Um caos de bombeiros, polícias, spotters e stewards. Dezenas e dezenas de pessoas chocadas. Com o coração nas mãos pelo homem que deixou o seu parar. Ninguém foi capaz de olhar mais para o campo. Os últimos 25 minutos da primeira parte foram os mais rápidos e os mais lentos que se viveram naquele estádio. Sem saber o que fazer. Como fazer. Por que fazer. Por quem fazer. Acho que em 22 anos de Benfica nunca tinha celebrado um golo sentado. Nem quando recuperava de uma entorse no pé direito. Desta vez…desta vez não havia outra maneira de o fazer. Ali, tão perto de mim, ia-se apagando um como eu. Por entre as muitas tentativas de reanimação cardíaca. À minha frente a alegria de ver o meu amor. Ao meu lado a dor anónima de ver morrer quem nunca hei-de conhecer, mas que hei-de sempre lembrar.
De repente, no meio de todo um amontoado de angústia e estranheza percebi o que não há a perceber no futebol. É isto o desporto-rei. O sofrer por todas as razões e por razão nenhuma. O querer para nós todos os sonhos do mundo e, numa louca conjugação simultânea, também desejar todos os desaires que os substituem. A dor de querer ser feliz no meio de tanta incerteza. O precisar de um sentido e o viver com a completa falta dele. Amar por amar. E ter, ver e viver nesse amor toda a vida.
Enquanto no campo se festejava, no Piso 3 sofria-se em silêncio Fonte: Reuters
Hoje não faço um rescaldo. Hoje, como benfiquista que sou, agradeço ao companheiro que não pôde festejar connosco no final. E que não há-de poder festejar o nosso 33º campeonato. Eusébio e Coluna receber-te-ão em braços no olimpo encarnado, onde descansam todos os heróis que aproveitam a vivência térrea para gostar desta espera pela coroação divinal. Por ti, amigo benfiquista, Rodrigo fez o primeiro depois de uma jogada cheia de classe. Por ti, amigo benfiquista, Gaitán fez mais um de bandeira. Por ti, amigo benfiquista, Cardozo disse adeus aos cinco meses de seca e fez duas maldades. Por ti, amigo benfiquista, o nosso Benfica conseguiu a maior vitória do ano e mais um importantíssimo passo rumo àquilo que é nosso por direito há já anos e anos.
Não viste. Estavas a lutar pela vida. Agora descansa. Guardamos-te um espacinho no Marquês.
Podia muito bem começar a falar da nova temporada de Game of Thrones, mas esta guerra é outra e passa-se em Inglaterra. Numa altura, em que a Premier League está ao rubro, o mais recente candidato ao trono é mesmo o Liverpool, que voltou a manter-se no topo do pódio, ainda que à condição.
A luta pelo título inglês é, neste momento, a três. O Liverpool segue no primeiro lugar, com 74 pontos e 33 jogos; o Chelsea vai em segundo, com 72 pontos e os mesmos 33 jogos; já o Manchester City tem apenas 70 pontos mas leva dois jogos de atraso em relação aos seus rivais, o que significa que em caso de vitória nessas partidas garantirá mais 6 pontos e assumirá o comando, ficando com uma vantagem de dois pontos em relação ao Liverpool.
O Liverpool era, nesta jornada, o único dos três a jogar fora e a deslocação nunca seria fácil, dado que iria defrontar um West Ham em boa forma. Mas a verdade é que as duas grandes penalidades concretizadas por Gerrard foram o suficiente para ganhar aos hammers, que ainda reagiram ao primeiro golo dos reds à entrada para o intervalo, por Guy Demel. O Liverpool mantem a senda de vitórias (já são sete partidas seguidas a vencer), e bem precisa, uma vez que pela frente terá ainda de defrontar o City e o Chelsea em casa.
Já os blues, de Mourinho, com algumas alterações no onze, não deram hipótese ao Stoke City. O primeiro golo veio do reforço de inverno Mohamed Salah, que permitiu a Hazard descansar para a jornada da Champions League. Willian e Lampard fecharam as contas do marcador, dando ao Chelsea uma vitória tranquila. Os blues querem aproveitar qualquer deslize que haja no grande jogo da próxima jornada entre os restantes candidatos ao título inglês. Ainda mais quando Mourinho já admitiu que a qualificação nesta fase da Champions League é mesmo quase impossível.
Finalmente, os citizens tinham um jogo complicado pela frente, diante do Southampton, que acabaram por resolver ainda na primeira parte. Depois de afastada da Champions League, a equipa de Manchester quer voltar a obter a glória na luta pelo “trono” inglês. O resultado final foi 4-1 frente aos saints de José Fonte, que acabaram por não conseguir dar grande réplica, depois da lesão de uma das figuras da equipa, Jay Rodriguez. Yaya Touré voltou a facturar, abrindo o marcador, sendo que Nasri, Džeko e Jovetić contabilizaram um golo cada. Na equipa de Pochettino o golo seria de Rickie Lambert, de grande penalidade.
Festejo de Gerrard depois do golo Fonte: chinadailyasia.com
Muito falta por jogar, mas a luta está mesmo ao rubro. A minha aposta para a equipa a ocupar o trono recai sobre o City, mas seria incrível ver o Liverpool a voltar a ganhar 24 anos depois. Quanto ao Chelsea, o pragmatismo é uma virtude e o jogo contra o Liverpool dentro de 3 jornadas será fulcral para as suas aspirações.
A Premier League nunca desilude e está uma verdadeira “Guerra dos Tronos”!
A pouco mais de meia dúzia de jogos para o final da época regular, chegou a altura em que a especulação sobre quem irá receber os prémios individuais, seja o MVP, o MIP, DPY ou ROY – respectivamente, Most Valuable Player, Most Improved Player, Defensive Player of the Year e Rookie of the Year – está no seu máximo, em algumas categorias; noutras, já está mais do que decidido. Exemplo são casos como Michael Carter-Williams e Kevin Durant: ambos os jogadores irão, certamente, receber os prémios que lhes são apontados.
Feita a introdução, chega a altura de introduzir um novo título. O nome será Most Improved Team, e consistirá em premiar o grupo que mais tiver evoluído de um ano para o outro. Nesse sentido, decidi que o vencedor é a equipa mais forte de Los Angeles. Infelizmente para o mundo do basquetebol, naturalmente, não são os Lakers – afirmo isto pois, depois da época passada, em que a equipa de ouro e púrpura foi medíocre, conseguiram piorar. Como tal, o primeiro vencedor é a formação que reside no Staples Center; se ainda não fui explícito o suficiente, o grupo a que me refiro é o dos Los Angeles Clippers.
Começo por avaliar a principal mudança de um ano para outro: não foi a adição de nenhum jogador, foi a entrada de Doc Rivers que revolucionou a maneira de jogar, conhecido nos últimos como Lob City, devido aos constantes alley-oops que fazem. No entanto, Rivers conseguiu fazer algo que até agora ninguém tinha conseguido; Doc Rivers conseguiu aproveitar o potencial de DeAndre Jordan e a sua capacidade atlética para o melhor do plantel. Nesse sentido vemos uma evolução gigante, em termos de minutos, ressaltos, pontos e abafos.
Antigamente oponentes, Chris Paul e Blake Griffin são, provavelmente, a dupla mais espectacular no basquetebol Fonte: Richkidsbrand.com
Logo de seguida temos Blake Griffin. O antigo Rookie of the Year e, por quatro vezes, All-Star, está nos candidatos principais a receber o MVP; no entanto, todos sabemos que quem vai ganhar será Durant. Mas continuando: Griffin tem vindo a evoluir de forma vertiginosa e, pessoalmente, muito assustadora. Um jogador que só utilizava a sua capacidade de explosão do nada consegue fazer lançamentos de meia distância, e por vezes até de longa distância os faz. Visto que ele está a ganhar confiança para isso, é, de facto, assustador.
O outro jogador que me deixou muito entusiasmado no plantel dos Clippers foi Darren Collison. Um ano depois de assinar com os Dallas Mavericks como o base inicial, Collison foi para os Clippers para ser suplente – mais uma vez na sua carreira -, do melhor base da liga, Chris Paul. Após a lesão do número 3 dos Clippers, foi Collison que fez de CP3 e fê-lo sem muitos problemas, com as suas diferenças naturais, naturalmente.
Lob City evoluiu, incrivelmente, para uma equipa ainda mais perigosa. São um grupo que pode vir a fazer muitos estragos nos play-offs Fonte: Premier Life
Bem, de facto Doc Rivers fez inúmeras alterações na maneira de jogar, nunca saindo do estilo que apaixona milhões todas as noites. No entanto, o maior feito, do ponto de vista técnico, que Rivers conseguiu foi a maior capacidade defensiva dos Clippers. Neste momento, os Clippers não só são alucinantes quando atacam, mas são agora sufocantes a nível defensivo.
Sem dúvida, os Clippers são a formação que mais evoluiu de um ano para o outro. E na primeira vez em que este troféu fictício foi atribuído, os primeiros vencedores são os campeões da divisão pacífica. Com isto, tornam-se os campeões e, pelo menos por agora, a melhor equipa da Califórnia.
Na semana passada tive a oportunidade de perguntar a Luís Freitas Lobo, em entrevista para o Bola na Rede, o que deveria mudar o Sporting caso se confirme a sua entrada na Liga dos Campeões na próxima época. A resposta foi simples e certeira. Mudar? Nada. O Sporting deve acrescentar ao que tem sido feito, e muito bem, na presente temporada desportiva.
Assim sendo, reformulação da pergunta: o que deve o Sporting acrescentar à equipa no próximo ano? Deve aproveitar o dinheiro proveniente da Champions, e investi-lo na contratação de jogadores mais conceituados? Deve manter o perfil da actual época e contratar jovens promissores e valores em ascensão da liga portuguesa? E, definido o perfil dos acrescentos (leia-se, contratações), para que posições devem chegar? O papel de médio ofensivo é uma das lacunas que se apontam ao grupo liderado por Leonardo Jardim, mas será a única a precisar de ajustes?
Uma coisa é certa: manter o núcleo duro que conquistou (sim, já o estou a dar como garantido) o acesso directo à Liga dos Campeões era meio caminho andado. Para além disso, há pelo menos um dos jogadores que temos emprestado que voltará para reforçar o plantel. Falo de João Mário, jovem médio cedido ao Vitória de Setúbal, que tem apresentado um nível altíssimo, confirmando as expectativas que se tinham criado desde cedo. Não sendo um 10 tradicional, o médio formado no Sporting é um jogador que alia bastante criatividade a uma capacidade de organização assinalável. Um reforço que, a espaços e com tempo, pode vir a impor-se no meio-campo leonino.
João Mário deverá voltar ao Sporting. Magrão pode ser uma das saídas Fonte: Zerozero
Mas há mais casos de dúvida na equipa leonina. A começar pela baliza: irá Rui Patrício, a seguir ao Mundial, sair finalmente? Dado o contexto internacional, em que se espera que tantos guarda-redes troquem de emblema (Courtois, Valdés, Hart ou Casillas são fortes candidatos a trocar de clube) e sabendo da boa época que o clube de Alvalade está a fazer, essa é uma forte possibilidade. Se se confirmar tal cenário, Boeck estará à altura? Parece-me que pode estar, mas que deve ser contratado um outro guarda-redes para manter a competitividade numa posição tão específica. Na defesa, Piris que está emprestado e Welder tão pouco utilizado poderão também sair. Cedric e Jefferson agarraram o lugar e são peças importantes no 11, mas faltam alternativas, principalmente com um número maior de jogos do que aquele que este ano os leões tiveram. Rúben Ferreira, para a esquerda, é um dos nomes falados na comunicação social.
No meio-campo reside a maior dúvida: irá William Carvalho continuar a maravilhar os adeptos sportinguistas? Bruno de Carvalho já o disse e reafirmou: a sair, apenas pela cláusula. 45 milhões, apesar da qualidade inegável do médio, é um valor altíssimo, ainda para mais quando em questão está um médio defensivo. O Manchester United segue o craque português e irá certamente, depois da época miserável que vai fazendo, investir fortemente no plantel. Se o nº 14 leonino sair, como contornar tal perda? Não há soluções perfeitas, mas Zezinho pode ser uma opção, ele que está emprestado ao Veria da Grécia (já fez 24 partidas pelos gregos). Rinaudo, também emprestado, é outro nome a ponderar mas dificilmente será a opção prioritária de Leonardo Jardim, dadas as diferenças quanto ao actual titular, William Carvalho. De qualquer forma, se William sair será quase certa a incursão no mercado.
Olhando para o actual plantel, Gérson Magrão e Vítor são jogadores que poderão prosseguir as suas carreiras longe de Alvalade, dada a dificuldade que têm tido em impor-se. Assim sendo, e mesmo com o regresso de João Mário, sobram lugares no sector intermediário. Shikabala continua a ser uma incógnita, Pedro Tiba (Setúbal) é um dos referenciados mas existirão mais surpresas quando o mercado abrir. Caso o egípcio não se afirme, o Sporting deverá apostar na contratação de um elemento mais desequilibrador, capaz de criar lances de ruptura que, por vezes, têm faltado ao futebol verde-e-branco.
Carlos Mané viverá na próxima época um ano de afirmação. Fonte: Liputan6.com
Na frente de ataque os leões contam com dois cenários distintos: nas alas, raro foi o jogador que se impôs e conquistou o seu lugar; no centro houve duas excelentes surpresas que dificultarão a entrada a reforços. Começando pelos extremos, com a excepção de Mané, nenhum dos restantes quatro extremos (Wilson Eduardo, Capel, Carrillo e Héldon) se mostraram opções suficientemente seguras para que se negue a entrada a mais jogadores para as mesmas posições. Desta forma, é bastante possível que alguns dos anteriormente mencionados possam vir a sair do clube, quer por via de empréstimo quer por via definitiva. Quanto ao jovem oriundo da Academia de Alcochete, espera-lhe um ano em que irá poder confirmar todo o potencial demonstrado. Com a Liga dos Campeões, não poderia ter melhor montra e oportunidade. Esgaio, Dramé e Iuri Medeiros – três jogadores a realizar uma boa época – estarão atentos a qualquer oportunidade, tal qual esteve Mané este ano.
Em situação oposta estão Fredy Montero e Islam Slimani, dois reforços da presente temporada que conquistaram adeptos e dirigentes. Dois jogadores muito diferentes que se complementam na perfeição e que oferecem variadas soluções para os vários tipos de jogo que a época exige. Ainda assim, com o aumentar do número de jogos, é legítimo ponderar a chegada de mais um jogador para esta posição. Bebé e Derley seriam, seguramente, opções interessantes. Diego Rubio e Viola também estão emprestados e, se em relação ao primeiro tenho muitas dúvidas, penso que o argentino poderia ser um jogador que, pelo menos, poderia fazer a pré-temporada.
Sejam quais forem as opções tomadas, os sportinguistas terão de certeza mais razões para confiar nos presentes responsáveis do que tiveram nos seus antecessores. E a competência disfarça a falta de meios.
Esta noite, o FC Porto derrotou a Académica por 3-1 no Estádio do Dragão, na 26ª jornada, mantendo assim a vantagem de 6 pontos para o Estoril Praia e a desvantagem de 8 pontos para o Sporting. A primeira nota de destaque aconteceu no início da partida, quando foi conhecido o onze que iria entrar em campo na equipa de Luís Castro. Tendo já no pensamento a segunda mão dos quartos-de-final da Liga Europa, a disputar-se na próxima quinta-feira à noite em Sevilha, o técnico portista deixou no banco de suplentes Danilo, Carlos Eduardo e Ricardo Quaresma, sendo que as ausências de Mangala e Defour já eram conhecidas. Para os seus lugares entraram Ricardo Pereira, Abdoulaye, Herrera, Quintero e Ghilas. Do lado dos estudantes, Sérgio Conceição compensou a ausência do lateral esquerdo Djavan com Paulo Grilo, que foi a grande novidade no onze da Briosa.
Os portistas não podiam ter entrado melhor na partida e, numa jogada pelo lado direito do ataque portista, Ghilas foi à linha cruzar a bola para Jackson Martinez, que aos 4′ desviou de forma certeira para a baliza de Ricardo. A equipa azul e branca entrou forte e, mas nem por isso a Académica se atemorizou. A reação dos estudantes veio logo de seguida, com Salvador Agra a aparecer bem no segundo poste e a ver Fabiano a desviar a bola com a luva para a trave da baliza portista. Pouco depois, o insólito aconteceu no relvado do Dragão, com Manuel Mota a chocar com Fernando Alexandre, num lance que acabou por lesionar o árbitro da AF Braga, que viria a ser substituido ao intervalo pelo 4.º árbitro.
Ghilas, com um golo e uma assistência, aqueceu os motores para Sevilha Fonte: Zero Zero
Depois da paragem, novo calafrio no Dragão, com Ivanildo a cabecear uma bola para uma enorme intervenção de Fabiano, que voltou a defender para o ferro da baliza do FC Porto. Invertendo a tendência portista dos últimos jogos, onde tem revelado uma fraca eficácia nas balizas contrárias, o FC Porto acabou por chegar ao 2-0 aos 24′, numa bela jogada individual de Ghilas, que ganhou o lance a Grilo e picou a bola sobre Ricardo. Antes do intervalo, e sem que nada o justificasse, o FC Porto acabou mesmo por chegar ao terceiro golo, após uma grande penalidade clara de Makelele sobre Quintero, que proporcionou a Jackson Martinez a possibilidade de bisar na partida.
No segundo tempo, a equipa portista baixou muito de intensidade, numa clara gestão tendo em vista o jogo de Sevilha. Também por isso, e depois das duas claras oportunidades que a Académica tinha criado no primeiro tempo, não foi de estranhar o tento de honra dos estudantes, num bom remate de Marcos Paulo à entrada da área portista. Até ao final da partida, oportunidades de Reyes, Danilo e Rafael Lopes podiam ter dado um outro colorido ao placard do Dragão, que acabou ainda assim por se manter no 3-1. Para Luís Castro, este foi um jogo que deu para controlar, gerir e ganhar sem desviar o olhar do jogo da próxima quinta-feira. Para Sérgio Conceição, fica uma boa exibição de uma Académica, que não se atemorizou com a entrada forte do FC Porto e que podia mesmo ter marcado mais um golo no Dragão.
Figura: Jackson Martinez
Foi uma das melhores exibições que se viu do colombiano nos últimos tempos. Dois golos, uma assistência e uma exibição que faz prometer um final de época de qualidade.
Fora-de-jogo: Abdoulaye
Mais um jogo e mais uma oportunidade desperdiçada para o senegalês se mostrar. Muito inseguro e por vezes desconcentrado, parece cada vez mais um erro de casting no plantel portista.
Podemos dizer que há dois grupos de pessoas sem as quais o futebol não poderia existir: os jogadores e os adeptos. Os primeiros ambicionam atingir o estrelato, ganhar dinheiro, conquistar títulos e ver o seu nome imortalizado na História do desporto-rei; os segundos são simples homens e mulheres anónimos, e não consta que nenhum deles tenha feito vida à custa do futebol apenas por apoiar um determinado clube. No entanto, são eles, os adeptos, a razão de ser do futebol. Caso contrário, quem idolatraria Cristiano Ronaldo? Quem tentaria imitar a forma de jogar de Messi? Quem se lembraria actualmente de nomes como Beckenbauer, Cruijff, Pelé ou Maradona?
Um destes adeptos começou tão anónimo como todos os outros, mas hoje em dia já é tão ou mais famoso do que os jogadores do clube que apoia. António Ramos, ou o “Barbas”, tem 68 anos e é natural de Oleiros, uma pequena localidade na Beira Baixa. Ligado ao ramo da restauração, este benfiquista ferrenho segue fielmente o clube do coração para todo o lado, seja em Portugal ou na Europa. Ficou conhecido pela presença quase religiosa nos jogos do Benfica, pela oposição ao ex-presidente do clube João Vale e Azevedo e, claro, pelo visual peculiar que exibe desde há várias décadas. O “Barbas” é dono de vários restaurantes da Costa da Caparica, onde são vistos com frequência jogadores do Benfica – e não só, como faz questão de nos dizer – a tomarem as suas refeições. Numa altura em que o clube da Luz poderá estar prestes a conquistar um título que por pouco lhe escapou no ano passado, o Bola na Rede foi à Margem Sul conhecer o adepto mais famoso do país.
Como surgiu a sua paixão pelo Benfica?
Como todos os benfiquistas, vem desde criança. Na altura só havia rádio, e era a voz do sr. Artur Agostinho, que por acaso até era sportinguista, que nos fazia ver o que era o Benfica. Ele relatava os golos com tanto frenesim que nós pensávamos que, quando fôssemos para Lisboa – o sonho de qualquer miúdo – havíamos de tentar conhecer melhor o Benfica. Eu cheguei à capital com 12 anos e foi isso que fiz. A partir daí, nunca mais parei.
O que é que o Benfica significa para si? Muda o seu dia-a-dia? Obriga-o a fazer sacrifícios?
Para mim, o Benfica está acima de tudo. Eu até costumo dizer à minha família que eles estão em segundo lugar, mas eles já estão vacinados contra isso. O clube tem-me ajudado muito, inclusive na vertente comercial. Eu estou ligado à restauração e os meus restaurantes estão bastante subordinados ao tema Benfica. Também acompanho muito o clube, inclusivamente nas deslocações pela Europa. Ando há cerca de 30 anos a acompanhar o Benfica em todas as viagens. Infelizmente, das quatro finais europeias a que já pude assistir, não tive a sorte de ver nenhuma vitória. Espero que este ano isso mude! Em resumo, o Benfica faz parte da minha vida, ao ponto de eu não poder dar um passo na rua sem que me reconheçam e me associem de imediato ao clube.
Qual foi a última vez que falhou um jogo no Estádio da Luz?
Não falho nenhum desde há 50 anos. Mas já não vou aos outros estádios. Dantes ia, mas infelizmente o futebol tornou-se um bocado violento. Quando eu era jovem não era assim: pais, tios, netos, avós, mulheres… todos podiam ir à bola. Hoje é complicado, e eu comecei a ter alguns problemas quando me deslocava, principalmente ao norte. Nunca entrei no novo estádio do Porto, porque ainda nos tempos do estádio antigo comecei a ter problemas. Da última vez que fui a Braga também aconteceu o mesmo… Mas ao novo estádio do Sporting fui. Estive na inauguração, naquele célebre jogo com o Manchester United em que o Cristiano Ronaldo impressionou toda a gente. No resto da Europa, porém, é diferente, e desde emigrantes portugueses, a rádios, a televisões, todos querem falar comigo. Dou por mim a pensar: “mas quem sou eu para merecer toda esta atenção?”. O Benfica faz parte da minha vida. O meu restaurante antigo, mesmo ao lado deste, tinha cerca de 2000 quadros do Benfica, a grande maioria oferecidos. Parecia um museu. Infelizmente o edifício foi demolido, eu guardei-os numa garagem mas um dia veio uma cheia e perdi tudo. Nessa altura chegaram a vir televisões da China, do Japão, da África do Sul… Todas elas vieram saber como é que um dono de um restaurante fazia a sua vida e como era a sua paixão pelo Benfica.
”Barbas” sentado no seu “trono”: a águia e as referências a Eusébio são duas presenças constantes neste templo consagrado ao benfiquismo Fotografias de João V. Sousa e Ludovic Ferro
Porquê essa barba?
Lembro-me de ser jovem e de aparecerem muitos rapazes ingleses com barba e cabelo compridos, nos quais me inspirei. Já tenho esta imagem há mais de 40 anos. Mas, antes disso, com o regime do Salazar, ninguém usava o cabelo e a barba assim. Estive na vida militar e fui empregado bancário, e nunca pude adoptar o estilo de que gostava. Ficava com o cabelo meio encarapinhado, pelo que muita gente na altura até pensava que eu era africano. Ainda hoje tenho essa fama, mas não me preocupa nada e às vezes até digo na brincadeira que sou cabo-verdiano. Depois apareceu o 25 de Abril e toda a gente usava o cabelo grande, principalmente quem se identificava com o sistema soviético. A certa altura fui para a marinha mercante, decidi que ia deixar crescer a barba e o cabelo e nunca mais cortei. O meu filho, que tem quase quarenta anos, nunca me viu de outra forma. Nem sequer a minha mulher. Hoje em dia há aquela “meia barba” que toda a gente usa. As modas vão e vêm, mas eu fico sempre igual. Nunca hei-de cortar isto, nem que o Benfica seja campeão europeu. Este visual faz parte de mim.
O que fazia antes de ter os restaurantes?
O meu primeiro emprego foi na restauração, logo aos doze anos. Depois estive na polícia militar durante três anos aqui em Lisboa, e quando saí fui trabalhar para o Banco Pinto & Sotto Mayor. Mas sentia-me fechado, pelo que arranjei uma cédula marítima e embarquei durante uns anos. Apesar de trabalhar num navio alemão, na altura do 25 de Abril tudo se modificou e os portugueses começaram a fazer muitas reivindicações, pelo que os alemães passaram a contratar outros trabalhadores. A partir daí, ainda em 1974, enveredei pela restauração e nunca mais parei. Tive várias casas em Lisboa e depois vim aqui para a Costa.
Quer dar exemplos de alguns episódios marcantes que protagonizou e que envolvam o Benfica?
Foram muitos. No fim da inauguração do novo Estádio da Luz, por exemplo, fui ao centro do terreno, ajoelhei-me e comecei a comer a relva. Disse a um colega seu que era para dar o exemplo aos jogadores do Benfica e para lhes fazer ver que tinham de fazer aquilo para sentirem o que é o Benfica. Há uns tempos fomos à Alemanha jogar com o Estugarda. Eu viajei com um grupo muito unido de benfiquistas que me acompanham nestas andanças, e dos quais infelizmente já só restam quatro ou cinco. O Benfica nunca tinha ganho naquele país, portanto nós decidimos que, se ganhássemos, íamos a pé para o hotel. Vencemos o jogo e assim foi. O problema é que aquilo era mais longe do que pensávamos e demorámos quatro horas a lá chegar. Tivemos a sorte de encontrar um português – há sempre um em qualquer lado! – que nos levou até lá. Eu sei que isto não lembra ao diabo, mas fizemo-lo pelo Benfica.
Em Paris, também assisti a um jogo do Benfica num estádio com cerca de 50 000 pessoas, e que tinha mais portugueses do que franceses. É um caso raro no futebol. De resto, alguns dos melhores momentos que vivi a nível de deslocações ao estrangeiro passaram-se na União Soviética. Por exemplo, o Yashin e o Eusébio eram amigos, e este último fez questão que eu fosse com eles a um evento. Ele disse: “Ó Barbas, eu não sou o Benfica. Tu estás todo equipado e representas melhor o clube”. Para mim isto foi um momento de glória, porque pude estar perto de dois monstros do futebol.
Qual é a melhor memória que tem do clube? E a pior?
Tenho mais memórias positivas do que negativas. Não vou dizer que a pior foi o nosso actual treinador ajoelhar-se por causa de uma derrota [jogo com o Porto em 2012/13]… Aquela final europeia que perdemos nos penaltis [final da Taça dos Campeões de 1987/88, contra o PSV Eindhoven], com um falhanço do Veloso, deixou-me muito triste. Tivemos muitas oportunidades para ganhar o jogo e acabámos por perder aí. Depois, quase nem vale a pena falar do tempo de um presidente que infelizmente tivemos, o Vale e Azevedo. Em Vigo levámos 7 do Celta. Eu estava lá, vi três golos e tive o pressentimento de que ia ser o descalabro. Vim-me embora do estádio e sentei-me lá num degrau a ouvir o relato. Comecei a chorar, e quando dei por mim tinha dezenas de pessoas à minha volta.
Memórias boas, como disse, são muitas. Dá-me um gozo especial ir com o Benfica ao estrangeiro, é impressionante. No Estádio da Luz não páro um minuto, as pessoas estão sempre a querer tirar fotografias comigo. As derrotas para mim nunca contam. Costumo dizer que o Benfica nunca perde, os outros é que às vezes nos ganham.
Apesar de ser conhecido como um benfiquista irredutível, o “Barbas” já recebeu na sua casa vários jogadores dos rivais. Também não esconde alguma mágoa por não poder entrar em alguns estádios do país Fotografias de João V. Sousa e Ludovic Ferro
Como encara o facto de o seu restaurante ser frequentado por vários jogadores e equipas de futebol?
Após Portugal ter ganho o título de campeão do mundo [sub-20, na Arábia Saudita em 1989] todas as equipas de futebol passaram a vir aqui. O Figo, o Rui Costa, o Carlos Queiroz e até jogadores do Sporting e do Porto. Dou-me bem com toda a gente. E o restaurante passou a ser muito frequentado por causa disso. Lembro-me, por exemplo, que quando o Preud’homme chegou a Portugal veio cá almoçar com os pais, trazido por um empresário. O restaurante tinha um terraço e ele ficou deslumbrado com a vista, de tal forma que perguntou se seria possível deixar os pais ali enquanto ele ia ao estádio da Luz tratar de assuntos. O belga só perguntava “como é que é possível nós chegarmos aqui e sermos tão bem recebidos sem nos conhecerem?” E todos os jogadores de maior vulto que vieram para o Benfica, em particular os brasileiros – o Valdo, o Mozer, o Ricardo Gomes, o Isaías, etc. – também passaram por aqui. Do Porto e do Sporting também: Fernando Gomes, Sousa, Jaime Pacheco… Uma vez o plantel do Sporting ia fazer uma festa de Natal, e o Cadete, que era o capitão, decidiu que o jantar iria ser no meu restaurante. Sendo eu benfiquista, naturalmente os outros jogadores ficaram desconfiados. Mas o presidente Sousa Cintra, de quem já na altura eu era amigo, fez-lhes ver que sempre que aqui tinham vindo tinham sido bem recebidos. E eles lá fizeram o jantar aqui, com a direcção e tudo. Sempre que os jogadores de futebol vêm cá eu ofereço-lhes a refeição, porque eles também trazem muita clientela. Como se costuma dizer, uma mão lava a outra. Ainda ontem à noite esteve cá o treinador do Benfica a jantar, e muita gente veio aqui ver se o via.
Tem o seu nome gravado no chão das imediações do Estádio da Luz?
Sim. Está perto da estátua do Eusébio, em que não está escrito o meu nome – António Ramos – mas sim “O Barbas”. Depois tenho outra com o meu nome, o da minha mulher e o dos meus filhos.
Pensa fazer-se enterrar com as cores e o símbolo do clube?
Tenho assistido a algumas perdas relacionadas com o Benfica. Uma viagem que me deixou muito marcado foi a ida à Hungria na altura da morte do Fehér, para a qual levei uma bandeira que depositei no caixão dele. Agora, no funeral do Eusébio, também levei algumas peças do clube e pus lá um cachecol do Benfica. Mas cada um pensa da sua maneira. Feliz ou infelizmente hoje temos opção de escolha. Eu já disse à minha família que quero ser cremado, e como não quero queimar coisas do Benfica esse é um assunto que está posto de parte.
Imagina a sua vida sem o Benfica?
Não. Impossível.
Entrevista realizada por João V. Sousa e Ludovic Ferro
Título simples para um tema bem complexo. Se têm acompanhado as minhas crónicas tenísticas aqui no Bola na Rede podem reparar que quase nunca, ou mesmo nunca, abordei o ténis feminino.
Não é uma variante que me agrade muito. Claro que poder ver um jogo entre uma Maria Sharapova e uma Maria Kirilenko é sempre mais agradável do que ver um entre Radek Stepanek e Gael Monfils. Quem os conhece certamente entenderá. No entanto, o ténis feminino é o tipo de ténis que de longe menos aprecio.
Para além de ser um ténis menos físico, com menos pancadas em força, com um ritmo mais baixo e mais propício a erros, embora me possam acusar também de ter uma visão conservadora e antiquada, a irregularidade que pontua no circuito irrita-me de sobremaneira.
O facto de o ranking feminino ser dos mais instáveis que existe, para além de termos vencedoras de Grand Slam que agora estão muito abaixo do top100, ou algumas ainda dentro do mesmo mas a um nível muito mais baixo, leva a que, na minha opinião, o circuito saia desacreditado.
Muitos ainda se recordam certamente de quando o circuito mundial era dominado pela dinamarquesa Caroline Wozniacki, que era acusada de ter um ténis defensivo, “chato” e que entusiasmava pouco; agora passeia pelos courts com poucos ou nenhuns resultados. Também se recordam certamente de Francesca Schiavone quando venceu Roland Garros com toda aquela garra e que agora ocupa o “modesto” 49º lugar.
O ténis feminino é isto. É irregularidade, o que na minha óptica não é exactamente sinónimo de competitivade. Isto porque competitividade é algo que pouco vi enquanto acompanhei a variante feminina.
Também nós, em Portugal, temos alguma dificuldade em dar o salto no que às senhoras diz respeito. Maria João Koehler tem sido a escudeira portuguesa no que toca ao ténis português. Michelle Larcher de Brito é a irregularidade que conhecemos, e embora tenha sido já capaz de grandes momentos, talvez de um dos maiores do ténis nacional, não mostra uma evolução sólida e constante – fruto da falta de um acompanhamento técnico de outro nível, que as dificuldades financeiras ou o pai não querem/podem proporcionar.
Vê-se também pelo desempenho português na Fed Cup que não tem sido possível sonhar com grandes conquistas, mas sim em manter o nível em que nos encontramos, o que prova que o desenvolvimento não se tem notado ou não tem estado a ser feito.
Por fim, e isso é mero gosto pessoal, lamento que o circuito feminino seja dominado por Serena Williams, uma tenista da qual nunca fui fã, e que me faz também afastar desta variante sempre que entra em court. Mas gostos não se discutem…
A Serie A tem descrescido em termos de qualidade anualmente, cada vez atrai menos jogadores de reputação mundial e passou discutivelmente da melhor Liga do mundo no início do novo milénio para a quarta melhor actualmente, tendo sido ultrapassada pela Premier League, Liga BBVA e Bundesliga.
Todos os anos a Liga parece perder mais adeptos, quer a nível nacional (os estádios estão constantemente vazios), quer a nível internacional (cada vez menos pessoas conseguem “aguentar” noventa minutos de futebol italiano).
O que se passou, então? Como é que o futebol italiano perdeu a sua “mística” nos últimos quinze anos?
No início dos anos 2000 tinhamos a Juventus de Zidane, Del Piero e Davids; o Milan de Maldini, Shevchenko e Inzaghi; o Inter de Ronaldo, Recoba e Vieri; a Roma de Totti, Cafú e Montella; a Lazio de Nedved, Verón e Crespo; o Parma de Buffon, Cannavaro e Thuram e a Fiorentina de Rui Costa, Batistuta e Toldo. Todos competiam pelo tão cobiçado scudetto. De momento, temos a Juventus e a Juventus, e o segundo lugar vai rodando, acabando de ano para ano por ser obtido pelo clube que tiver uma época mais feliz do que os outros, sem qualquer tipo de continuidade.
O ponto de viragem da competitividade em Itália, e provavelmente da reputação da Liga, veio com o escândalo do CalcioCaos em 2005/2006. Com as sanções impostas à Juventus e ao Milan, o Inter aproveitou para dominar a Serie A durante cinco anos e agora parece que a Juventus está destinada a fazer o mesmo.
A Juventus tem dominado o futebol italiano Fonte: The Independent
O Inter e o Milan estão a atingir os níveis mais baixos de sempre devido a má gestão; o Nápoles é treinado pelo Benitez, logo não deve ser uma ameaça séria enquanto ele por lá andar; o Parma, a Lazio e Fiorentina continuam a tentar recuperar gradualmente dos colapsos financeiros que sofreram; e a Roma tanto luta pelo título como fica a meio da tabela – é demasiado irregular. Enquanto isto se mantiver, a Juventus continuará a coleccionar títulos, em parte por demérito da concorrência.
Itália continua a produzir e a formar bons jogadores de futebol e raramente os italianos vão jogar para outra Liga, algo que têm em comum com a Inglaterra. Mas, tirando esses, não conseguem atrair jogadores de nível mais elevado, que continuam a preferir levar os seus talentos para Espanha ou Inglaterra e recentemente Alemanha ou França. Actualmente a Serie A só consegue atrair jogadores que perderam espaço nas Ligas de maior dimensão e vão para Itália para estender o que resta da sua carreira, como Kaká, Mario Gomez ou Carlos Tevez, que encontram neste campeonato uma “segunda vida”. Esta situação explica a falta de sucesso dos clubes italianos na Liga dos Campeões e na Liga Europa mas o sucesso da Itália em termos de selecção, como vimos no Euro 2012.
No entanto, há esperança. A Juventus continuará no cimo da montanha, o Milan e o Inter já perceberam que algo tem de mudar e estão a trabalhar para voltar ao topo, a Fiorentina e a Roma estão a ressurgir internamente e o Nápoles está a uma troca de treinador de fazer algo. Esperemos que a partir da próxima época regresse a competitividade em termos internos para eventualmente voltarem a causar mossa nas competições internacionais, o que gradualmente aumentará a reputação da Liga e, quem sabe, a catapultará de volta para o topo do futebol europeu. Potencial não lhe falta.
O Sporting começou melhor, a alinhar com Martins no miolo, a fazer companhia a Adrien e William. Foi este trio que acabou por ditar a pulsação do jogo na Mata Real. Nas alas, Mané e Capel arreliavam a defesa amarela na procura constante de Islam Slimani. Do outro lado, Bebé entrou forte, com vontade de abalar na procura de espaços entre a lateral esquerda e a zona central da defesa leonina.
O meio-campo do Sporting pautava o jogo, empurrando toda a equipa para a frente enquanto os pacenses procuravam as saídas rápidas. O futebol apoiado do Sporting deu frutos ainda não estava cumprido o primeiro quarto de hora de jogo. Numa tabela perfeita entre William Carvalho e Slimani, o trinco empurrou para o 1-0 com toda a calma do mundo. Ainda se festejava o golo do Sporting e Bebé ameaçou, com um grande remate na zona central. Patrício fechou a porta e negou o empate ao avançado Português ex-Manchester United.
O Sporting manteve a concentração, com processos simples, “1, 2” interessantes entre meio-campo, alas e Slimani, domínio táctico da partida, interrompido apenas por tentativas esforçadas do Paços de sair no contra. Pouco depois da meia hora de jogo, na sequência de um canto batido por Adrien, a defesa da capital do móvel ficou… imóvel, permitindo a Marcos Rojo duplicar a vantagem para a equipa visitante, cenário mais confortável que a equipa de Jardim levou para o intervalo.
No período de descanso, Jorge Costa puxou as orelhas aos seus pupilos e estes entraram melhor. Já sem Mané em campo, substituído por Carrilho, por motivos físicos, o Sporting foi descendo um pouco no terreno, dando iniciativa ao adversário, mantendo relativa segurança e apostando na velocidade de Capel para sair no ataque. Já debaixo de um cerradíssimo nevoeiro, o Paços acaba por reduzir através de um remate cruzado do inevitável Bebé, que após várias tentativas conseguiu levar a melhor e bater Rui Patrício.
Após o golo, e com o resultado aberto, o Sporting tentou reagir e subir as suas linhas mas o Paços estava motivado. O tridente do meio-campo Leonino não teve tanta bola com desejaria e a equipa da casa queria mais. Foi num lance de saída através do pequenino grande André Martins que, com muita calma, deixou para Slimani que por sua vez atrasou para o “fuzilamento” de Adrien Silva. Estava feito o 3-1 que acabaria por ser definitivamente selado momentos depois com o segundo amarelo e expulsão de Felipe Anunciação.
O médio Português atirou sem hipótese para o 3-1 final Fonte: ZeroZero
Reduzido a 10 e já com Montero em campo, por troca com (o muitíssimo trabalhador, autor de 2 assistências da noite) Islam Slimani, o Sporting controlou os últimos 20 minutos de jogo com tranquilidade. Falando em “tranquilidade”, o jogo de hoje foi mais uma mensagem clara dos Portugueses de verde e branco para Paulo Bento. Rui Patrício, Cédric, William, Adrien, André Martins e Mané (porque não?!), cabem todos no avião para o Brasil daqui a um par de meses.
No final da partida, com 60 pontos alcançados, 50 golos marcados no campeonato e com o 3º lugar garantido, o 1º lugar está provavelmente longe demais esta época mas o 3º está longe o suficiente. Devemos estar todos orgulhosos desta equipa, deste treinador, desta direcção e deste clube que nos dá alegrias mais uma vez.
A Figura: Adrien Silva
Confesso-me indeciso entre ele e André Martins, que teve, no regresso ao 11, uma exibição ao mais alto nível. Mas foi o nº 23 que marcou o ritmo da partida. Assistiu Rojo na primeira parte e sentenciou o jogo na segunda, quando a coisa podia ter dado para o torto. Paulinho, podes reservar uma camisola “M” para o rapaz.
O Fora-de-jogo: André Carrillo
Foi dada ao peruano mais uma oportunidade nos segundos 45 minutos que este acabou por não aproveitar. Altos e baixos, mais baixos do que altos, continuam a marcar o percurso de La Culebra no Sporting. Tanto potencial, tão desaproveitado…
Só há duas formas de ficar na história de um clube: pelo sucesso ou pelo fracasso. É um facto inquestionável. Podemos até dizer que é “a lei do futebol”. Se o sucesso de um presidente, de um treinador e de um ou vários jogadores é facilmente visível nos almanaques, livros e museus do clube, o insucesso fica, invariavelmente, marcado na memória dos sócios e adeptos.
Voltando atrás no tempo, em junho de 2010, após a forma espetacular como o Benfica conquistou o Campeonato Nacional, o meu pensamento foi só um: Jorge Jesus vai ficar na história deste clube. Vai ser um vencedor.
Estava longe de imaginar o que se iria passar nos três anos seguintes. Humilhações à parte, na última época – aquela que mais cicatrizes deixou no ego encarnado – o Benfica de Jorge Jesus perdeu a liderança da Liga Zon Sagres, uma final da Liga Europa e uma final da Taça de Portugal em… duas semanas. Devastador, sem dúvida alguma. A ideia de um Jorge Jesus histórico e imortal nos livros benfiquistas era agora transformada num pessimismo nítido de que aquela equipa seria recordada pela piores razões.
Volvido um ano (ou quase), é ainda uma árdua tarefa entender o que realmente se passou naqueles 15 dias. Como é que um coletivo daqueles, a jogar um futebol brilhante, deixa fugir tudo? Enganaram-nos durante toda uma temporada? Os “porquês” são muitos, mas não menos do que os “ses”: se Carlos Martins não tivesse sido expulso; se Artur fosse um bocadinho mais comprido; se Jardel não tivesse oferecido o canto… Caso queira, a lista aumenta exponencialmente – que o diga a minha almofada, que tantos “ses” partilhou comigo.
O momento da conquista do último título nacional Fonte: lavozdelinterior.com.ar
Mas a verdade é que, um ano depois, o mesmo Jorge Jesus e a mesma equipa (com alguns reajustamentos, é verdade) estão a pouquíssimos jogos de regressar a uma situação em tudo igual à do ano passado: a possibilidade de vencer tudo.
O Benfica está praticamente nas meias-finais da Liga Europa, está a um jogo de alcançar a final da Taça de Portugal e precisa de “apenas” três vitórias para se consagrar campeão nacional. Independentemente dos adversários, o Benfica (e reforço a ideia de que é praticamente a mesma equipa de há um ano) tem tudo para fazer história. Uma história com final feliz. Uma história de orgulho, de superação, de vencedores. Não querendo ser injusto para quem teve/tem o mérito de levar o símbolo do nosso clube tão longe, este é um comboio que passou duas vezes. É uma oportunidade de ouro para repor alguma justiça e verdade ao final da época passada.
Não escondo que sinto a equipa confiante, madura e concentrada. Sou, contudo, intolerante com excesso de confiança e desrespeito pelo adversário (ora, talvez aqui esteja outro “porquê”). É por esta razão que a política do “jogo a jogo” nunca fez tanto sentido. Sabemos perfeitamente qual é o percurso até ao destino mais desejado e, por isso mesmo, temos a obrigação de ser mais fortes.
Porém, por muito que a lógica me diga o contrário, o meu coração só deseja a glória sublime. Só deseja justiça completa. Só quer ganhar. Só quer que este Benfica viva para a eternidade.