É com enorme tristeza que tenho lido e ouvido as notícias que dão conta da saída de Leonardo Jardim do comando técnico do Sporting. Se tal vier mesmo a acontecer, é uma péssima notícia para todos os Sportinguistas devido a várias questões inerentes a este tema. Comecemos por algo não obrigatório, porém sempre importante, que é o sportinguismo de Jardim: o treinador madeirense não assinou pelo Sporting (há cerca de um ano) por dinheiro, mas sim pelo seu sportinguismo, pela coragem que teve em abraçar o comando técnico de um clube a viver uma situação muito perigosa em termos desportivos e económicos. A sua coragem, está claro, é outra das características que o tornam o homem ideal para estar à frente do nosso clube. Jardim podia ter, facilmente, “queimado” a sua carreira com uma época fraca à frente de um Sporting que havia ficado em 7º lugar na época anterior, porém, destemido, abraçou um projecto que Jesualdo rejeitou (e imagino o seu arrependimento), e brilhantemente reforçou o estatuto de um dos melhores treinadores portugueses. A coragem deste senhor, aliada à sua calma natural, coerência e educação, deram origem a uma empatia geral à volta da sua figura, quer por parte dos adeptos, como dos jogadores (algo claramente notório). Leonardo Jardim fez do plantel do Sporting uma autêntica família, e isso não acontecia há muito tempo no reino do Leão.
Sairá Jardim? Entrará Marco Silva para o seu lugar? Fonte: Mais Futebol
Porém, nem tudo é mau: a verificar-se a sua saída, o substituto natural será um senhor chamado Marco Silva. Este senhor tem, de certa forma, um perfil parecido com o de Leonardo Jardim. Com uma família construída e com uma estrutura mais forte do que nunca, Marco Silva pode aproveitar o trabalho feito até aqui por Jardim e assumir o comando de um Sporting numa situação ideal para as suas características: jovem, inteligente, bom tacticamente e na valorização de activos. Marco Silva tem de ser bom, não será com certeza mais um Paulo Fonseca. Quem pega no Estoril na 2ª Liga, numa situação aflitiva, sobe de divisão na mesma época, na sua primeira época fica em 5º lugar, no defeso perde todos os seus craques, reconstrói a equipa com jogadores completamente desconhecidos, e volta a ficar em 4º lugar, fazendo ainda mais pontos do que na época anterior, tem de ser um grande treinador, tem de ter nascido para liderar, para ser um vencedor. O Sporting é o clube ideal para Marco Silva se afirmar como o novo grande treinador português e para vencer os títulos que já vem merecendo.
Se preferia que Leonardo Jardim ficasse? Óbvio que sim. Se me preocupa a sua saída? Sim, de certa forma. Mas confio em Marco Silva e acredito que vá dar continuidade ao grande trabalho que se fez esta época. Trata-se de um casamento mais que óbvio, recheado de sentido. Com a garantia da contratação do ex-treinador “canarinho”, a saída de Jardim será, portanto, um mal menor.
O cunho pessoal empregado por José Mourinho no Chelsea 2013/2014 é facilmente percetível. A cultura da pressão alta (que celebrizou o FC Porto campeão europeu) manteve-se, e a organização tática da equipa quando sem bola era simplesmente irrepreensível, ao ponto dos últimos 20/30 metros da zona defendida pelo Chelsea não serem invadidos, em situações de eminente perigo, com frequência e das linhas de passe do adversário nessa zona serem muitas vezes anuladas pelo rigor táctico dos jogadores orientados pelo Happy One. Reflexos disso mesmo são os encontros que a equipa disputou, relativos à Premier League: com o Manchester United, em Old Trafford (0-0, à 3ª jornada… numa demonstração cabal das capacidades de Mourinho, que numa fase tão prematura da temporada já conseguiu colocar a equipa a defender “ao seu jeito”), com o Arsenal, no Emirates (0-0), com o Manchester City no Ettihad (vitória por 1-0) e com o Liverpool, em Anfield Road (vitória por 2-0).
Superficialmente, saltam à vista pontos comuns gritantes entre estes quatro encontros: todos eles foram disputados em terrenos dos rivais diretos (certo que o Manchester United saiu da luta numa fase bastante permatura, mas ao passar da 3ª jornada ainda era encarado como um dos favoritos a erguer o trófeu da Premier League) ao Chelsea na luta pelo título e em nenhum deles houve registo de golos sofridos pelos blues. Um feito notável, especialmente se atentarmos ao facto de que quer Liverpool e Manchester City passaram a centena de golos no campeonato e estiveram pertíssimo de igualar o recorde de golos numa edição da Premier League (104), e ao qual não deverá estar alheio outro ponto comum entre todos os encontros assinalados: vantagem do adversário na posse de bola (55%/45% nos jogos com Arsenal e United, 65%/35% no encontro com o City e 73%/27% [!] com o Liverpool), situação em que a equipa de Mourinho se sentiu confortável ao longo da época, obtendo um enorme aproveitamento na defesa das suas redes, sagrando-se mesmo a melhor defesa da Premier League…
… mas nem sempre as melhores defesas ganham campeonatos. É preciso existir um bom processo ofensivo a acompanhar a performance (na circunstância, brilhante) defensiva para se conquistar um dos mais competitivos campeonatos do mundo. E no caso do Chelsea os problemas começaram a acontecer logo no início da época, com alguma indefinição (anormal) de José Mourinho na abordagem à violação das redes contrárias.
“A questão do número nove parece-me ser essencial para se compreender a ineficácia dos blues” Fonte: Stephyan/HereisCity.com
Neste aspecto, a questão do número nove parece-me ser essencial para se compreender a ineficácia dos blues. Torres, Eto’o e Demba Ba protagonizaram uma autêntica dança das cadeiras à volta da posição nove e pareceu, ao longo da época, que nenhum deles satisfazia totalmente as pretensões de José Mourinho.. algo que também se justifica pelo sub-rendimento evidenciado pelos três, mas ao qual não estará alheio uma possível falta de confiança que pudessem sentir pela constante rotatividade promovida pelo treinador português. A equipa conseguia trazer jogo desde trás, por inciativas levadas a cabo por David Luiz, Matic, Ramires ou Lampard (intercalavam entre si no dois do 4x2x3x1), e conseguia expandir o seu jogo ofensivo para os flancos, mas se se voltasse a explorar a zona central do terreno e lá estivesse um “9” posicional, raras eram as vezes em que a baliza contrária era violada, ficando a equipa “órfã” das iniciativas individuais levadas a cabo por Eden Hazard (que época fantástica!), Salah, Willian ou Schurrle (que, curiosamente, ocupou a posição “9” de forma mais eficaz que os seus colegas de raíz – exemplo flagrante é o da vitória do Chelsea sobre o Fulham por 3-1, com o alemão a ser a figura do encontro com um hat-trick conseguido em 17 minutos passados a ocupar uma zona mais central do terreno)… que, de resto, nem sempre eram levadas a cabo com eficácia, pois se o belga e o alemão conseguiam ser objetivos, o brasileiro e o egípcio foram muitas vezes inconsequentes nas suas decisões.
Acrescente-se a este desacerto a época menos conseguida do criativo (espécie de 10 moderno) de que a equipa precisava (Óscar) e fica instalado um autêntico caos tático no processo ofensivo dos londrinos que se traduziu numa parca produção de golos conseguidos em ataque organizado, algo que faltou ao Chelsea em jogos importantes como os que teve contra o Sunderland (derrota por 2-1, que dilatou para 5 a distância para o líder Liverpool quando sobravam 12 pontos para disputar) e contra o Norwich (no qual disse adeus ao título, empatando a zero).
Nestas partidas tinha de assumir o domínio da partida e sufocar o adversário de forma criteriosa, mas este Chelsea 2013/2014 pareceu sentir-se melhor sem a posse de bola do que com ela.
Mourinho não passou de bestial a besta (acho impossível a história julgá-lo assim em qualquer momento da sua carreira até agora), mas comprovou que nem sempre é boa ideia regressar a um lugar onde se foi feliz (conforme escrevi, noutro site que não o Bola na Rede, aquando da confirmação do regresso do Special One). Especialmente onde a cobrança é enorme perante o que se fizera anteriormente (Mourinho “devolvera” a Premier League ao Chelsea 50 anos depois e conquistara tudo a nível interno), onde se sente a ressaca de dois títulos europeus consecutivas e onde o grupo de trabalho precisaria de ser lapidado.
Arriscou e não correu bem. Teve a primeira grande mancha na carreira- uma época sem títulos num clube onde começou e acabou a época. A época onde, focando-nos apenas nos títulos conquistados, foi Special … None…
… mas às vezes é preciso um passo atrás para se andar adiante. Acredito que, mantendo-se a estrutura defensiva do Chelsea (incluindo o processo defensivo) e existindo um esforço financeiro para a contratação de um ou dois jogadores de qualidade para a posição nove e uma aposta no (Óscar) ou num n.º10 acompanhada de um processo ofensivo mais criterioso, se possa voltar a fazer-se história em Stamford Bridge… e na carreira de José Mourinho.
Não me ocorre outro título, à partida, tão polémico quanto verdadeiro. Sergio Busquets é um dos jogadores menos populares à escala mundial e, ao mesmo tempo, um daqueles cuja qualidade é mais vezes esquecida e até descredibilizada. Já dizia Xavi“Busquets é muito mais valorizado pelos profissionais do futebol do que pelas pessoas de fora”. E hão de ser eles, aqueles que respiram futebol desde miúdos, durante todo o dia, aqueles que melhor o entendem, não é? Mais reveladoras ainda são as palavras de Guardiola quando lhe perguntaram acerca da importância do seu médio defensivo “Ele sabe que sem ele tudo o que esta equipa tem feito não era possível. Se pudesse reencarnar num jogador, seria como ele”. As palavras ganham especial importância por se tratarem, respectivamente, de um dos jogadores e um dos treinadores a quem se reconhece maior inteligência e entendimento do jogo. Esses e outros testemunhos de Del Bosque, Pep Reina, Iniesta e do próprio Busquets podem ser encontrados no (fantástico) vídeo abaixo.
Produto de La Masia, o trinco do Barcelona surgiu na equipa A por intermédio de Pep Guardiola, logo na sua primeira época enquanto treinador do Barça. Na altura o titular da posição era Yaya Touré, mas nem por isso o então jovem de apenas 19 anos deixou de marcar impacto: 41 jogos na sua época de estreia, dos quais foi titular em 31. Guardiola, que já havia trabalhado com Busquets na equipa B, sabia bem quem estava a lançar. Ele próprio, na sua fantástica carreira como jogador, actuou como médio mais recuado durante anos e sabe, por isso, aquilo que a posição requer: tudo o que Busquets é. Interessantes as palavras de Jorge Valdano, ex-glória argentina e do Real Madrid, sobre a suposta inexperiência de Busquets quando foi lançado “Guardiola entregou o jogo a um futebolista inexperiente como é Sérgio Busquets (…) O lugar de médio é um lugar crítico para uma equipa que pretende ter a bola, porque é a partir deste ponto que se reparte o jogo e elege o ritmo. Sérgio Busquets mede uns 1,91 m, tem grande qualidade de passe e não é especialmente intenso. O valor dele é posicional (…)a sua velocidade é técnica, porque resolve sempre a um ou dois toques. Experiência? A ver se entendemos que para dirigir o jogo, como para dirigir uma equipa, como para dirigir um clube, antes da experiência faz falta critério”. (Fonte: jornal A Bola de 27 de Setembro de 2008).
Desde então e até agora nunca foi por falta de concorrência que Busi, como lhe chamam em Espanha, deixou de jogar. Chegou Mascherano, na altura um dos melhores trincos do mundo; chegou Alex Song; chegou até Fábregas, que embora jogue numa posição mais adiantada, poderia originar uma alteração no sistema da equipa, como se especulou na altura. “Busquets é sempre o primeiro nome que escrevo na ficha de jogo”, respondeu Guardiola. Mas a convicção não é exclusiva do agora treinador do Bayern. Também Del Bosque, o seleccionador no mundo que conta com mais médios de qualidade, utiliza o jogador do Barcelona a titular em todos os jogos nas fases finais desde o Mundial de 2010. O que tem Busquets, afinal, que passa ao lado da maioria dos adeptos mas que faz dele essencial para todos os treinadores que teve?
Inteligência
Busquets é um dos jogadores mais inteligentes do mundo e esta é a característica que faz dele o melhor. A posição 6, a mais importante de todas por ser aquela em que mais se exige compreensão e participação em todos os momentos do jogo (com e sem bola) é também aquela que requer mais inteligência por parte do jogador que a ocupa. Por inteligência no futebol entende-se principalmente a capacidade de posicionamento, de leitura do jogo e de tomada de decisão que basicamente fazem o jogador tentar fazer bem ou mal. A execução, depois, só se torna importante se tiver existido uma boa decisão, e a decisão só é boa se houver uma boa leitura do jogo e do seu contexto. De nada vale executar bem o passe, drible ou remate que não deveriam ser feitos. Mesmo no futebol o mais importante é a inteligência. A esse nível, Busquets não tem ninguém acima dele. Nunca erra. Passa quando e para onde deve passar. Guarda a bola quando deve guardar. É perfeito na gestão dos ritmos. Arrisca tão somente o que tem a arriscar e, sobretudo, ocupa os espaços como nunca tinha visto ninguém ocupar. Assim, no momento ofensivo está sempre a dar uma solução através de uma linha de passe segura e, no defensivo, está sempre a cobrir o espaço correcto de forma a evitar que a equipa fique descompensada e exista espaço para os adversários. No sistema de posse que o Barça utiliza, este médio é fulcral porque é quem evita a maior parte das transições aquando do momento da perda de bola. Em baixo fica um exemplo da performance do médio numa transição do Real Madrid, no último jogo entre as equipas.
Capacidade técnica e de construcção
Podia resumir este tópico num dado: este ano, Busquets tem uma média de 93,1% de passes correctos (fonte: http://www.whoscored.com/Players/44721/Show/Sergio-Busquets). Quantos terão tal nível de acerto na componente mais importante do jogo para um médio, que é o passe? Pouquíssimos ou mesmo nenhum. Aqui dirão que arrisca pouco e, por isso, falha menos. É verdade que, pela posição onde joga, não faz tantos passes de ruptura como os médios mais adiantados. Mas pedir ao trinco que arrisque no passe constantemente é o mesmo que pedir ao central que arrisque no drible. Não só escusado como altamente reprovável. De qualquer forma, Busquets só apresenta esta percentagem absurda de passes correctos porque tem uma excelente capacidade técnica (vídeos em baixo), ao nível do passe, do controlo e até do drible curto, ao contrário do que por vezes se diz. É incontornável para qualquer equipa de posse ter um trinco com competências a nível técnico bastante altas. A primeira fase de construcção passa sempre por ele e, por vezes, é aí que se foca a pressão dos adversários. Busquets é, aliás, um dos melhores do mundo (diria mesmo o melhor) a sair sob pressão. Ainda ontem, frente ao Atlético, teve um lance em que o provou, conforme se pode constactar no vídeo em baixo, seguido de outros reveladores do que foi escrito neste tópico.
Capacidade defensiva
Busquets é o melhor também porque é o mais completo dos médios defensivos. Não há nenhum outro que alie a capacidade ofensiva descrita e demonstrada acima com a capacidade defensiva que possui. Forte no ar (1,89cm), é uma das poucas referências da equipa nas bolas paradas; agressivo como nenhum outro dos habituais titulares (se não considerarmos Mascherano titular), é quem minimiza as perdas cada vez que os jogos pedem maior vertente física; forte no desarme, rouba inúmeras bolas e permite assim que a equipa tenha mais posse; nas dobras, cada vez que há desposicionamentos, é o pêndulo que qualquer equipa que tem Xavi e Iniesta precisa. É, sobretudo, prova de que nem o médio mais defensivo precisa de estar sempre a correr para efectuar o seu trabalho da melhor forma. Enche o campo com a inteligência e com as referências correctas. Sem ele era impossível não só coabitarem dois médios tão criativos como Xavi e Iniesta como jogar com apenas três defesas, como Guardiola chegou a fazer no Barcelona. Em baixo segue um vídeo da prestação defensiva de Busquets frente ao Real Madrid, no ano passado.
Estas são as razões principais que levam Busquets a ser único e insubstituível para qualquer que seja o treinador que o tenha, quer seja no Barcelona ou na Selecção Espanhola. A vertente psicológica é, contudo, aquela que depois influencia todo o seu jogo quer ofensivo quer defensivo. Este ano, em que Messi esteve mais abaixo, Xavi quebrou no ritmo e Iniesta andou intermitente, Busquets foi o melhor e mais regular jogador do Barcelona. Como podem verificar no primeiro vídeo do artigo, já em 2010 Reina afirmava que o melhor da selecção no mundial havia sido, na altura com apenas 21 anos, Sergio Busquets. Alguma razão há-de existir para, desde que se estreou, o craque espanhol nunca ter feito menos de 45 jogos por época. Numa altura em que todos os treinadores pedem trincos e médios fortes, possantes, rápidos e capazes de correr km a alta intensidade, é um rapaz magrinho e sem velocidade que triunfa… por saber que a velocidade que importa é aquela com que se pensa e decide. Busquets não vai nunca ganhar uma Bola de Ouro, mas não desempenha o seu papel em campo pior do que qualquer que seja considerado o melhor.
Futebol e rali misturaram-se e a festa da chegada de Bernardo Sousa às Portas do Mar foi feita ao som de “Glorioso, SLB! Glorioso SLB!!”. Bernardo Sousa ganhou à sétima tentativa a volta à ilha, prova em que se estreou com 19 anos ao volante de um Skoda Fabia TDI. Uma prova em que o madeirense não tinha tido muita sorte até agora, pois contava com quatro desistencias e dois 10º lugar.
O último dia do rali foi muito animado e a luta para encontrar o vencedor da prova durou até ao último troço, a segunda passagem pela Tronqueira. Bernardo Sousa e Kevin Abbring foram os protagonistas desta luta e, apesar de o português ter estado sempre na frente, viu o holandês recuperar-lhe tempo várias vezes, mas um pequeno toque já perto do final na primeira passagem pela Tronqueira foi decisiva para a vitória – justa, no meu entender – de Bernardo Sousa, que na manhã de ontem tinha dito que ia lutar para ficar no segundo lugar porque o carro não estava nas melhores condições; resta saber se era jogo psicológico ou descrença do madeirense. Para a história ficam os 6s2 de diferença entreos dois primeiros.
Foram vários os madeirenses ao longo dos dias nas estradas e no final da prova. Fonte: Rodrigo Fernandes
O segundo dia de prova foi tão agressivo para as máquinas que Jean-Michel Raoux acabou por cair num terceiro lugar de forma algo inesperada no ínicio da prova, fechando assim o pódio com três carros de categorias diferentes. Consani conseguiu levar o seu carro até ao fim apesar de todos os toques que deu, e será certamente uma das imagens do rali com a sua chegada de sexta às portas do mar. O piloto não conseguia andar com o carro direito devido a ter partido a direção e foi um verdadeiro espetáculo assistir. Luís Rego ganhou a produção e foi o melhor açoriano numa boa prova deste jovem piloto.
Nas restantes categorias, e se separarmos as duas rodas motrizes dos júniores como fiz no texto de antevisão, os vencedores foram Henrique Moniz e Stéphane Lefebvre, respectivamente. O açoriano estreou o seu DS3 R3T e levou o carro até ao fim da melhor forma, enquanto Lefebvre ganhou a competição jujúniore as duas rodas motrizes, se juntarmos todos) e demonstrou toda a sua qualidade e o porquê de correr para a equipa oficial da Peugeot.
Esta edição da prova contou ainda com vários factores extra como já não víamos há alguns anos, como não ter chovido e o nevoeiro não ter afectado a prova, permitindo que fossem captadas imagens muito boas de São Miguel, que chegaram ao mundo através da Eurosport. Apesar de não estar um tempo como o que tenho apanhado em Lisboa – céu totalmente limpo – deu para queimar muito mais nestes três dias de prova do que nas duas ou três semanas em que o tempo tem estado desta forma em Lisboa.
Stratieva junto ao seu carro na chegada a Ponta Delgada Fonte: Rodrigo Fernandes
Para a história ficam os 25 pilotos que terminaram a prova – entre eles a dupla feminina búlgara – e que viram as suas máquinas aguentar a prova açoriana, que ano após ano me convence mais de que é das melhores que existem.
Façamos uma vénia a uma super-equipa. A um super-treinador. A atletas do outro mundo. O Atlético Madrid é, inapelavelmente, campeão de Espanha.
Hoje, no Camp Nou, jogou-se uma autêntica final para se decidir o titulo de La Liga, versão 2013/2014. Barcelona e Atlético Madrid chegaram à última jornada do campeonato com hipóteses de se sagrarem campeões e o mundo inteiro parou para ver um dos jogos mais entusiasmantes do ano desportivo.
À partida para este jogo decisivo, o Atlético Madrid trazia na bagagem três pontos de vantagem sobre o Barcelona e, por isso, um empate bastaria para os colchoneros levantarem o troféu de campeão espanhol, dezoito anos depois da sua última conquista. Por sua vez, ao Barcelona apenas uma vitória garantia a revalidação do título nacional. Por tudo isto, a pressão estava dos dois lados do relvado e todas as restantes jornadas de pouco valiam. Era ali, em pleno Camp Nou, que se tudo se decidia e foi ali que tudo se decidiu.
Desde cedo se percebeu que os nervos floresciam em todos os intervenientes, mas essa dose extra de ansiedade não afectou, de todo, a qualidade do jogo. Do início ao fim, ambas as equipas, cada qual com as suas armas, lutaram pela glória e proporcionaram um espectáculo digno da grandeza do desporto-rei.
Movidos pelo apoio de um inferno pintado de azul, grená e amarelo, a equipa do Barcelona quis assumir as despesas da partida deste início, mas encontrou sempre um Altético a pressionar em todo o campo e isso dificultou – de que maneira- a estratégia blaugrana. Com Xavi e Neymar no banco de suplentes, os comandados de Tata Martino sentiram o peso da responsabilidade e procuraram entrar no jogo de forma autoritária, de modo a fazer desvanecer as esperanças de uma equipa do Atlético Madrid que jogava com dois resultados. Esse aspecto garantia um certo conforto no jogo para os colchoneros e estes, habilmente, aproveitaram essa nuance para jogar de forma mais expectante e beneficiar de algum deslize do adversário.
Até aos vinte minutos de jogo, as equipas procuraram encontrar-se em campo e a partida desenrolou-se numa toada mais previsível e expectante. A partir daí, começaram os problemas e a dores de cabeça para Diego Simeone, que, quando foi obrigado a substituir os seus dois jogadores ofensivamente mais influentes -ambos por lesão -, deve ter pensado que aquela não seria a sua noite perfeita.
Sem as suas unidades mais desequilibradoras em campo, o Atlético sofreu um pouco para se reorganizar e foi precisamente nessa altura que o Barcelona inaugurou o marcador, através de um golaço de Alexis Sanchéz. Apesar de não ter feito muito por isso, a equipa culé acabou a primeira parte a vencer e a quarenta e cinco minutos do título espanhol.
Depois veio uma segunda parte à Atlético. Ou seja: raça, força, fibra e muito, muito carácter. Os poderes motivacionais de Diego Simeone tiveram um efeito estrondoso nos colchoneros, que entraram no segundo tempo cientes de que título não lhes poderia escapar. Assim, logo nos primeiros minutos Diego Godin restabeleceu a igualdade no marcador e tudo mudou: agora era o Atlético que tinha o campeonato no bolso e os pupilos de Simeone tinham quarenta minutos para impedir que lho roubasse.
Diego Simeone é um dos grandes responsáveis por este feito do Atlético Fonte: express.co.uk
Ao seu estilo fervoroso e determinado, a formação madrilena criou um escudo de aço em redor da sua área e o Barcelona não conseguiu perfurar, com critério, uma muralha imune a todas as dificuldades formada por jogadores que têm tanto de nervo como de talento. Tiago e companhia aguentaram o empate até final e festejaram o título, que, por mérito e justiça, lhes encaixa na perfeição.
Depois de uma época algo atípica, dada a considerável perda de pontos de Real Madrid e Barcelona, o Atlético Madrid foi aproveitando os deslizes dos seus rivais e manteve-se de pedra e cal no topo da Liga durante praticamente toda a temporada. A fé e a crença num milagre ganharam força com o decorrer das jornadas e hoje foi o culminar de uma campanha brilhante num campeonato onde muitos julgavam só existir os dois maiores clubes espanhóis.
A época ainda pode ser embelezada pela conquista da Liga dos Campeões, mas, independentemente do desfecho da final de Lisboa, os adeptos do Atlético Madrid podem começar já construir uma estátua a Diego Simeone e a jogadores como Tiago. É uma honrosa forma de glorificar os heróis.
No passado fim-de-semana realizaram-se os quatro jogos do play-off do Campeonato Nacional de Futsal e estaria a mentir se dissesse que não houve surpresas.
O Fundão venceu os Leões de Porto Salvo por 6-2 num jogo de sentido único. Como tinha previsto, a equipa do Fundão triunfou de forma tranquila sobre a difícil equipa dos Leões, que realizaram um belíssimo campeonato, embora a fase final do mesmo não seja tão positiva. O Fundão vinha de um resultado histórico, por isso motivação era algo que não faltava à equipa. Apenas precisou apenas de juntar à motivação a qualidade existente no seu plantel.Justíssima vitória da equipa da casa, que fez tudo para se superiorizar neste primeiro encontro do play-off.
O Sporting viajou até ao Norte para defrontar o Boavista num encontro que terminou com a vitória leonina por 6-1. A primeira parte foi extremamente equilibrada. Os axadrezados marcaram primeiro, demonstrando que iriam dificultar ao máximo a vida do Sporting. Os leões empataram por intermédio de Divanei e foram para o intervalo a vencer por 1-3. Em apenas 1 minuto o Sporting aproveitou duas falhas defensivas do Boavista para fazer mais dois golos, que foram algo injustos. Considero que seria mais justo se o resultado tivesse ficado estabelecido em 1-1, todavia o futsal é assim mesmo: em muito pouco tempo o resultado altera-se.
Na segunda parte o Sporting geriu o jogo e resultado. Baixou um pouco a intensidade e aproveitou todas as oportunidades que lhe foram concebidas. Relativamente ao Boavista, não conseguiu alterar o resultado, dispôs de algumas oportunidades de golos, mas não fez o suficiente para tentar empatar a partida. Na gíria diz-se que quem não marca sofre e assim foi: o Sporting marcou mais 3 golos dilatando o resultado final em 1-6.
Pedro Carry e Deo a festejarem 1 golo da equipa leonina Fonte: Zerozero.pt/ Pedro Benavente
O Benfica deslocou-se ao pavilhão do Belenenses para disputar o primeiro jogo do play-off. O jogo foi muito bem disputado, principalmente na segunda parte. O Belém entrou bem na partida e inaugurou o marcador por intermédio de João Marques. A equipa do Benfica vinha de uma derrota na Final da Taça de Portugal e este golo fez com que revivesse alguns desses momentos; todavia os encarnados reagiram muito bem, marcando três golos. Devido a estes três golos foram para o intervalo a vencer por 1-3.
Na segunda parte, o Benfica voltou a marcar, mas os rapazes de azul reagiram de forma maravilhosa, diminuindo a diferença no resultado para apenas um golo. O jogo terminou 3-4 e ficou na retina uma boa atitude da equipa da casa contra uma equipa de “estrelas” que pareceu algo fragilizada.
O Rio Ave recebeu e venceu o Braga num jogo muito equilibrado que se decidiu nas grandes penalidades. Foi um jogo em que o Rio Ave beneficiou de alguma sorte. Esteve sempre em desvantagem, mas acabou por vencer na marcação das grandes penalidades. O segundo jogo disputou-se ontem em Braga, tendo terminado com uma vitória bracarense por 7-1. O Braga foi claramente melhor e o Rio Ave nada conseguiu fazer para alterar o rumo do jogo. Com este resultado a eliminatória encontra-se empatada, ou seja, tudo será decidido numa terceira partida. O jogo das decisões será disputado hoje em Braga às 21h.
A equipa do Braga venceu o Rio Ave e irá disputar um 3º jogo para confirmar o apurado para as meias-finais.
Para hoje, prevejo que Sporting e Benfica vençam os seus jogos de forma fácil, avançando para as meias-finais da competição.
Relativamente aos restantes encontros, penso que o Braga irá vencer o Rio Ave novamente, devido ao facto de jogar em casa e ter vencido ontem de forma clara e fácil. Não me parece que o Rio Ave tenha argumentos para vencer o encontro, mas nunca se sabe.
O jogo entre Leões de Porto Salvo e Fundão será certamente de altíssimo nível. De um lado temos uma equipa que está com elevadíssimos níveis de motivação, apresentando uma qualidade de jogo excecional; do outro lado, uma equipa que fez uma grande temporada, que joga em casa, que precisa de vencer para levar as decisões para um terceiro jogo e que, caso apresente a qualidade demonstrada na Fase Regular, pode mesmo vencer.
Sendo assim, os jogos de hoje serão certamente de grande qualidade!
Escrever sobre o Puskas significa falar de bola no fundo das redes. Parecia fisicamente um cilindro. No famoso Benfica-Real Madrid no Estádio da Luz para a Taça dos Campeões Europeus vi-o sobre o relvado; não se mexia. A sua barriga fazia-se notar aos meus olhos de menino deslumbrado com aquela lenda do futebol. Destacava-se, ainda que o Benfica tivesse jogadores deslumbrantes como Eusébio, Simões ou José Augusto e pelo próprio Real Madrid ainda jogasse outro velho ilustre chamado Gento. O Benfica fez um jogo de escândalo; arrasou; ganhou pelo significativo resultado de 5-1, mas Puskas, sem correr e limitando-se a ver se a bola lhe passava a um metro, ainda me mostrou como se chutava à baliza. Durante a segunda-parte deu-se uma falta que provocou um livre direto contra o Benfica. A distância era grande; a bola estava quase centrada, um bocado descaída para o lado esquerdo. Puskas colocou a bola e ficou ao pé dela. O Benfica fez a barreira; o árbitro apitou e Puskas, mesmo junto à bola, levantou o pé esquerdo. O Estádio estava num silêncio expectante; todos queríamos ver como chutava. O seu pé embateu na bola; a bola partiu limpa e rasa ultrapassando a barreira por baixo; embateu como uma bomba na base do poste direito do Benfica e a bola ricocheteou metros e metros. No Estádio da Luz sentiu-se um misto de alívio e admiração.
Era natural de Budapeste. Está ligado, diretamente, ao mito do futebol magiar e à lenda da seleção húngara que só não foi campeã mundial porque às vezes a bola não parece redonda. Ao seu lado, tanto na seleção húngara como no Honved, tinha vários jogadores deslumbrantes e entre eles estavam Kocsis e Czibor, que também o acompanharam na aventura espanhola, ainda que defendessem as cores do Barcelona. Foram campeões olímpicos e vice-campeões mundiais. Depois, aproveitando um jogo do Honved contra Atlético de Bilbau, desertaram. A Hungria vivia numa tentativa de libertar-se do braço de ferro bolchevique russo. Sobreviveram fazendo exibições até que uns regressaram à Hungria e outros, como Puskas, acabaram por conseguir jogar na chamada Europa Livre. A Áustria recusou-o e Itália fez outro tanto do mesmo. Finalmente Puskas encontrou aconchego no Real Madrid de Di Estéfano e Kopa.
Na companhia de Dí Stefano Fonte: Insidespanishfootball.com
Entre o campeonato húngaro e o campeonato espanhol foi oito vezes o máximo goleador. Foi duas vezes o melhor goleador da Taça dos Campeões Europeus e durante a sua vida conformou uma enciclopédia de títulos nacionais e internacionais. Formou com Alfredo Di Estéfano um duo de irmãos; viam-se e adivinhavam a jogada e o resultado da mesma. Com o Real Madrid ganhou campeonatos, uma Taça de Espanha – que naquela altura levava o nome ditador -, duas Taças dos Campeões Europeus e uma terceira, em 1966, já sentado no banco dos que não jogam; uma Taça Intercontinental contra o supercampeão Peñarol. Com o seu Honved arrecadou quatro campeonatos. Marcou nada mais, nem nada menos do que quinhentos e oito golos em quinhentos e vinte e um jogos. Foi um dos grandes goleadores do século XX e hoje o Prémio para golo mais bonito tem o seu nome. Em Espanha era conhecido como Pancho.
Pancho Puskas jogou ao futebol desde 1939 até 1966. Faleceu depois de retornar à Hungria em 2006, vítima da doença do Alzheimer. Quando se fala dos melhores jogadores de sempre esquecem-se de dois monstros dos relvados nativos da Hungria: Kubala e Puskas.
Foi no dia 15 de maio de 1964, com um canto directo apontado por João Morais, que o Sporting Clube de Portugal conquistava a Taça dos Vencedores das Taças. Nessa tarde, em Antuérpia, os leões cumpriam o sonho de José de Alvalade, fundador do clube, que queria o seu Sporting «um grande clube, tão grande como os maiores da Europa».
Mas esta história começava meses antes, no fim do verão de 1963 e prolongou-se durante meses, com goleadas que ainda hoje recordadas, reviravoltas épicas e eliminatórias resolvidas após jogo de desempate. Entre as “vítimas” deixadas no caminho para a final, encontravam-se Atalanta, o Apoel, o Manchester United e o Lyon.
Os leões tiveram um caminho árduo até à final. Tudo começou com uma derrota por 2-0 fora com o Atalanta. Anulada com uma vitória por 3-1 em Alvalade, pois nesses tempos, os golos fora ainda não contavam para o desempate nas competições europeias.
Na eliminatória seguinte, contra os cipriotas do Apoel Nicósia, o Sporting entrou a todo o gás, aos 20 minutos já vencia por 3-0. Andreou ainda reduziu para os forasteiros, mas os leões voltaram à carga e ao intervalo já venciam por 6-1.
No segundo tempo, o Leão devorou o Apoel. Pérides reabriu a contagem aos 48´, os golos foram-se sucedendo e o resultado final ficou num inimaginável 16-1, com seis golos de Osvaldo Silva. O Sporting conseguia o (até aos dias de hoje) recorde de goleada nas competições europeias (e dificilmente alguma vez será batido).
Seguiu-se o tão antecipado confronto com o Man. United. Em Old Trafford, o Sporting foi banalizado pelos red devils que contavam com uma equipa de estrelas (Nobby Stiles, Bobby Charlton, Denis Law e a jovem promessa George Best). O 4-1 final deixava os de Lisboa praticamente de fora da competição.
Poucos adeptos acreditavam na reviravolta, mas alguns adeptos defendiam que o milagre era possível. Milagre ou não, a verdade é que na noite da segunda mão, os Ingleses encontraram um Sporting de dimensão superior e foram esmagados com um esclarecedor 5-0, com mais três golos do genial Osvaldo Silva.
Seguiu-se o Olympique Lyon, com um empate a zero no Estádio Gerland. Duas semanas depois, em Lisboa, novo empate, agora a uma bola, obrigava a novo jogo de desempate, disputado em Madrid, onde um golo solitário do inevitável Osvaldo Silva, garantiu a primeira presença dos leões numa final europeia.
Depois de tantas cambalhotas, a chegada a final fazia sonhar todo e qualquer adepto. Mas nessa tarde no Heysel, em Bruxelas, os leões foram surpreendidos pelo golo de Sándor logo aos 19´, só reagindo perto do intervalo, empatando por Mascarenhas, aos 40′. A abrir a segunda parte, Figueiredo incendiou as esperanças leoninas, fazendo o 2-1. Contudo, Kuti marcaria dois golos em 2 minutos a apenas 20 do apito final, virando novamente o resultado. Restou ao Sporting um último esforço, com Figueiredo a empatar o jogo aos 82′ e a obrigar a final a resolver-se num segundo jogo, que a UEFA marcou para o Estádio Bosuil em Antuérpia, dois dias mais tarde.
As peripécias antes do derradeiro jogo não se tinham cingido apenas às eliminatórias e aos jogos de desempate. Dias antes da final, o Sporting perdia Hilário, por lesão num jogo contra o Setúbal. João Morais era chamado para o seu lugar, sem antes deixar uma “boquinha” ao treinador Anselmo Fernandez: “Com que então, agora, o arquitecto já precisa de mim?”.
Na véspera da final, Morais pediu autorização ao treinador para, no dia a seguir, marcar um canto directo, Fernandez não queria. A discussão durou horas, mas Fernandez lá cedeu e Morais teve direito a marcar um (e apenas um) pontapé de canto da forma que queria, os outros deveriam ser batidos tensos ao primeiro posto, conforme a equipa treinava diariamente.
Aos 19 minutos a oportunidade chegou. Figueiredo foi para perto do guarda-redes adversário, para servir como ponto de referência, com ordens para não fazer falta. João Morais convenceu a bola e o resto é história. Ou se preferirem, a mais bela página desta história. Sporting, tu nunca vais acabar.
O regresso dos heróis a Lisboa Fonte: “A Norte de Alvalade”
Manhã cedo e começa o dia com o troço Batalha Golfe. Ricardo Moura era o oitavo na estrada e bateu contra uma pedra, pondo assim fim ao seu objetivo de lutar pela melhor posição possível e de ganhar a classificação do nacional e do regional de ralis; colocou ainda um ponto final nas aspirações de todos os açorianos a ter um conterrâneo a vencer novamente a sua prova. A mesma pedra fez ainda mais uma vítima. O polaco Kajetan Kajetanowicz não teve melhor sorte do que o açoriano e viu também a sua prova terminar logo no primeiro troço do segundo dia de prova.
Parque de assistências ao final da tarde. Fonte: Rodrigo Fernandes
No meu texto de antevisão à prova escrevi que “como equipa oficial e pela qualidade dos seus pilotos tem sempre de estar no topo dos favoritos, mas a “saúde” dos carros ainda não é a melhor, o que pode vir a causar muitas dores de cabeça à marca do leão.” E foi precisamente o que aconteceu no dia de hoje. Breen e Abbring dominaram o dia – se tirarmos o troço das Sete Cidades – e estavam a lutar entre si pela primeira posição, mas o irlandês foi forçado a desistir quando, já depois do final da segunda passagem por Feteiras, viu o motor do seu carro pegar fogo. O holandês teve problemas no troço seguinte e “conseguiu” perder os 38s4 que tinha de vantagem sobre Bernardo Sousa, que é agora o líder.
O madeirense – que cumpriu esta sexta-feira 27 anos – tem agora 6s3 de vantagem sobre o holandês da marca do leão, e amanhã deve conseguir aumentar a vantagem, já que, enquanto Abbring está cá pela primeira vez, Bernardo Sousa já vai na sua sétima participação por terras açorianas. A juntar a isto, para mim, tem o melhor carro presente em prova e tem contado com um grande apoio nas estradas, quer pelos açorianos, quer por alguns madeirenses equipados a rigor com a bandeira da região.
Meireles teve uma luta muito interessante com Adruzilo Lopes. Fonte: Rodrigo Fernandes
Acabou hoje a competição para o nacional e regional de ralis. Pedro Meireles ganhou a sua quarta prova em tantas outras oportunidades e tem o título nacional praticamente garantido. No regional, a vitória foi para Luís Miguel Rego.
Falando agora a um nível mais pessoal e de interesse gral pela prova, hoje voltei a sentir o que é comer terra e levar com pedras na cara e no pescoço. Para muitos é provavelmente uma coisa má, mas para mim e para os verdadeiros entusiastas é uma sensação muito boa, de quem está próximo da emoção.
Na segunda passagem por Batalha Golfe a que fui assistir tive a oportunidade de sentir a emoção ao máximo, quando Robert Consani bateu numa rocha e por pouco evitou o confronto com o muro onde eu e mais algumas pessoas nos encontrávamos. Na curva anterior, Adruzilo Lopes e Diogo Salvi também deixaram escorregar demais o carro e bateram de lado, mas sem quaisquer danos para os dois pilotos continentais.
Vitaly Pushkar apela ao fim dos conflitos no seu país. Fonte: Rodrigo Fernandes
Para terminar por hoje, destaco ainda a quantidade de guias e mapas que existem sobre esta edição do rali. Não é certamente por falta de informação que as pessoas não vão ter até aos troços, e muito menos ficam sem saber que está a decorrer a prova; como se fosse possível, já que todos os meios de comunicação praticamente só falam neste assunto.
Rei morto, rei posto. Sem alarido, e de forma rápida e surpreendente, o FC Porto foi a Espanha recrutar o seu novo treinador – Julen Lopetegui é o homem escolhido para fazer retornar o Dragão às vitórias. O técnico espanhol era o responsável pelas camadas jovens de La Roja e com os pequenos nuestros hermanos conquistou dois títulos, os únicos do seu palmarés: o Europeu Sub-19 (2012) e o Europeu Sub-21 (2013). A escolha não é unânime, levanta dúvidas e inquietações mas tem o condão de, pelo menos, demonstrar que Pinto da Costa e companhia estão proactivos na preparação da importante época que se avizinha.
Lo que me gusta
Julen Lopetegui é, reconhecidamente, um dos ‘pais’ da forma de jogar das actuais selecções espanholas, que muito foram beber ao titi-taka do Barcelona. Falamos de um modelo de jogo assente na posse e circulação de bola, com muita largura, sempre controlando os ritmos de jogo e, se possível, dominando-o. Porque se tiveres a bola, jamais sofrerás; porque, com ela, podes marcar. Mais do que com bola, quem tiver visto o grande Barcelona e as selecções espanholas recorda também a pressão alta e constante na busca pela recuperação do esférico o mais rápido possível, com uma linha defensiva sempre muito subida (às vezes, expondo-se até demais). Eram (e são) estas as matrizes do ‘melhor’ futebol espanhol actualmente, quase sempre montado num 4-3-3, que poderá (e deverá, creio eu) ser reeditado no Dragão – aliás, um esquema tradicionalmente adoptado pelas equipas do FC Porto e que foi atraiçoado de forma errónea por Paulo Fonseca na temporada que agora termina.
Esta filosofia – que, pessoalmente, me agrada – dá estabilidade à equipa e confiança aos jogadores – qual é o craque que não quer ter, a maioria do tempo, a bola no pé em vez de andar atrás dela? O treinador espanhol parece ter um discurso forte e interessante, para além de boas ideias sobre futebol. Algumas delas estão expressas no seu blog pessoal – http://blogs.lainformacion.com/lopeteguia/ – de onde se podem retirar alguns dos seus pensamentos sobre o jogo. Como os que expressou, aquando de um Lyon-Real Madrid, em Fevereiro de 2010: “El Real Madrid sigue careciendo de situaciones colectivas. Aún no tiene las mecanizaciones ofensivas necesarias para mover a la defensa contraria y llegar arriba cuando no le dejan espacios y el rival decide, como es el caso, jugar en pocos metros. Porque si a un equipo tan físico como el OL no lo mueves de un lado a otro, es difícil incluso tirar a puerta, como ocurrió en Gerland.” e “Y otra cuestión importante: Una cosa es jugar sin extremos y otra bien distinta es que los delanteros no caigan a banda. Porque si no hay permutas continuas de posiciones y no se ensancha el campo, es casi imposible que se abran huecos en la defensa rival. Y en esta ocasión los delanteros se movieron muchísimo, pero con poco sentido.” e ainda “Si el campo no tiene amplitud los huecos no aparecen. Y si jugamos en el centro, en pocos metros a lo largo y en pocos metros a lo ancho, la ventaja para el equipo más físico acaba siendo decisiva.”. São pequenos excertos sobre uma visão do jogo que vai ao encontro do padrão anteriormente descrito. O ideal sobre o que quer para a sua equipa parece estar presente; resta saber se, entre a teoria e a prática, nada se perde e tudo se transforma no reino do Dragão … Lope merece, pelo menos, o benefício da dúvida.
Algo obviamente intrínseco à opção por Lopetegui é a sua nacionalidade, a sua condição de profundo conhecedor do mercado futebolístico espanhol e o facto de ter trabalho com muitos valorosos jovens espanhóis. Alguns deles são já verdadeiras certezas (Thiago, Isco ou Koke) mas outros, apesar do seu enorme talento, buscam ainda uma casa que lhes permita explodir. Por estes dias, vários são os nomes apontados ao Dragão e isso é apenas um efeito colateral da contratação de Lopetegui. Desde Tello a Deulofeu passando por Moreno e Camacho, o conhecimento e a relação que o treinador espanhol tem com estes projectos de grandes jogadores podem tornar viáveis alguns interessantes negócios ao Dragão, que, de outra forma, ficariam inquinados à partida.
Lopetegui comandou os sub-21 espanhóis até ao título europeu, em 2013 Fonte: Público
Lo que no me gusta
Por mais futebolisticamente atractiva que possa parecer esta opção por Lopetegui, o certo é que há duvidas que se mantêm no ar. Desde logo o facto de o agora treinador do FC Porto jamais ter treinado uma equipa com a responsabilidade e ambição do clube azul e branco. O contexto de Rayo Vallecano ou o Real Madrid B não tem comparação com o ambiente que Lopetegui vai vivenciar no Dragão e esse choque de realidade terá de ser ultrapassado. Por outro lado, por mais que o ex-seleccionador das camadas jovens espanholas diga que conhece o futebol português e as equipas que nele competem, o certo é que a sua visão é de alguém vindo do exterior, que não conhece as pequenas idiossincrasias do futebol português e, designadamente, a forma como as equipas pequenas se comportam e posicionam quando defrontam o FC Porto. Por semelhante dificuldade passaram outros técnicos, como Co Adriaanse no Dragão ou Koeman na Luz.
Por outro lado, paira no ar a questão que se prende com a capacidade de Lopetegui fazer o transfer seleccionador–treinador, funções com exigências e ritmos de trabalho completamente distintos, algo ainda mais agudizado se pensarmos que desde 2009 Lope não treina de forma diária consecutivamente.
Lo desconocido
Por fim, a escolha de Pinto da Costa por Lopetegui poderá querer significar uma mudança de estratégia do FC Porto. Lope foi campeão da Europa de sub-19 e sub-21 e tem anos e anos de experiência nas camadas jovens, na forma(ta)ção e lapidação de pequenos-grandes jogadores. Num contexto económico-financeiro tão complicado – e ao qual os clubes portugueses não conseguem, melhor ou pior, escapar –, até que ponto a opção pelo basco não indiciará uma mudança na condução da máquina portista e na aposta de forma mais frequente e constante nos bons valores que vão surgindo na equipa B e provindos da cantera azul-e-branca?
Por agora, é apenas uma incógnita. Mas Tozé, Gonçalo Paciência, Mikel, Kayembe, Ivo ou Rafa, por certo, farão de tudo para relembrar ao técnico espanhol que os Bartras, Illarramendis, Moratas, Muniains, Carvajals, Olivers ou Jeses também nascem deste lado da fronteira.
Outra das questões que se coloca num momento como este tem a ver com a capacidade de liderança de Lopetegui. É indesmentível que o espanhol já viveu em balneários recheados de estrelas – enquanto jogador, foi guarda-redes de Barcelona e Real Madrid –, mas o certo é que, já como treinador, a sua experiência resumiu-se a gerir – de longe a longe – um balneário de miúdos que têm tanto potencial quanto sonhos e cujos egos, por certo, não seriam tão difíceis de controlar como numa equipa como o FC Porto. Resta saber se o técnico espanhol vai conseguir assumir um verdadeiro perfil de liderança, dando liberdade q.b. e responsabilizando nos momentos certos.
O CV de Lopetegui Fonte: Porto Canal
Estamos apenas em Maio e o FC Porto já tem treinador para 2014/2015. Tempo e condições não faltarão para preparar, da melhor forma possível, a temporada que se avizinha. Com esse horizonte, Lope surgiu com um discurso forte, entusiasmante e relativamente sedutor. Dele, os adeptos esperam que confirme as boas indicações, ultrapasse e vire a seu favor os pontos negativos e dissipe as incógnitas. E que se identifique rapidamente com a sua nova casa – o Dragão está aberto a este basco e, com ele, deseja que chegue o perfume e o encanto do actual futebol espanhol com uns laivos da antiga fúria roja.