Em Espanha, tal como em grande parte das ligas europeias, começa agora a fase do tudo ou nada. Digam o que disserem, a fase final da época é provavelmente o ciclo mais importante no conjunto de jogos que compõem um campeonato de futebol. Na verdade, a linha que separa o tudo do nada é, de facto, muito ténue, ficando quase sempre marcada por jogos muito específicos.
Como é óbvio, um dos jogos que têm uma capacidade extra de definir toda uma época é o Real Madrid–Barcelona. O maior clássico do mundo está para breve, muito breve, aliás. Contudo, antes da realização dessa partida (29ª jornada), o Real Madrid terá de se deslocar ao terreno do Malága, o Barcelona terá de receber, em casa, o Osasuna, e o Atlético Madrid terá de defrontar o Espanyol, no Vicente Calderón.
No fundo, a 28ª jornada da Liga BVVA pode perfeitamente ser uma das mais decisivas de todo o campeonato, e são vários os fatores que o explicam:
Com quatro pontos de vantagem sobre o Barcelona e três sobre o Atlético Madrid, o Real Madrid vai fazer tudo para, no mínimo, manter a diferença pontual sobre os rivais. A ideia de entrar no clássico com a possibilidade de perder o jogo e mesmo assim permanecer à frente do Barcelona na tabela classificativa agrada a qualquer merengue. No entanto, perspetivam-se grandes dificuldades para o Real Madrid no La Rosaleda. O Málaga, apesar de estar a realizar uma época com resultados negativos, é sempre uma formação difícil de bater, principalmente jogando em casa – e, atenção, o Real Madrid tem perdido imensos pontos na Andalucía. É um jogo de campeões, não tenham dúvidas.
Na época passada, o Real Madrid perdeu no La Rosaleda por 3-2 Fonte: Periodistasanonimos.com
O Barcelona, por seu turno, está obrigado a ganhar todos os jogos da liga, caso queira ser campeão. Os já referidos quatro pontos de atraso para o Real Madrid não concedem nenhuma margem de manobra, e os catalães estão proibidos de vacilarem. O jogo no Camp Nou frente ao Osasuna pode ser o tónico necessário para restaurar os níveis de confiança perdidos nos últimos jogos. Porém, e apesar de a vitória do Barcelona ser o resultado esperado, os homens de Tata Martino já mostraram que esta época são capazes de surpreender… pela negativa;
Por último, o Atlético Madrid continua a intrometer-se – e de que maneira – entre os dois colossos espanhóis. Diego Costa e os restantes companheiros têm a oportunidade de, em caso de vitória, exercer uma pressão extra no clássico. Se ganhar o jogo do próximo sábado frente ao Espanyol, o Atlético entra na 29ª jornada sabendo que poderá recuperar terreno sobre o Real Madrid, aumentar a distância sobre o Barcelona ou, quem sabe, ambas as coisas. O que é certo é que o próximo jogo é uma oportunidade de ouro para o Atlético Madrid “atacar” os rivais. Todavia, é sabido que os colchoneros têm facilitado nos momentos mais decisivos. Este é, logicamente, o momento certo para inverter a tendência.
Infelizmente teremos de esperar até domingo à tarde para perceber quem ficará mais perto da linha da meta. Independentemente dos resultados, o que é certo é que o tudo e nada está mesmo ao virar da esquina. Acelerem, rapazes!
A Lagos Sport anunciou há cerca de uma semana atrás a realização do Portugal Open 2014. MUITOS PARABÉNS. Confesso, nunca pensei ser possível nas condições anunciadas conseguir ainda levar a cabo a 25ª edição do Portugal Open.
Obviamente que todos temos a ganhar. Obviamente que estou mais do que feliz com esta decisão. No entanto, nada melhor do que aproveitar um ano que se quer de ventos de mudança para levar a cabo algumas alterações, tais como as que enunciei numa Carta Aberta a João Lagos há semanas atrás, aqui, no Bola na Rede.
É a hora de o Portugal Open mudar de paradigma, tal como o país mudou, de se afirmar como um torneio de topo no calendário mundial e trazer até si, sem grande esforço, os melhores do mundo, embora seja “apenas” um ATP 250/WTA Premier.
João Lagos conseguiu mexer-se bem e a tempo de garantir as bodas de prata do seu torneio. Mérito inteiramente do pai do ténis em Portugal, que não só dentro das instâncias e dos patrocinadores portugueses conseguiu obter as garantias necessárias, como junto do ATP e da WTA conseguiu aumentar o prazo de confirmação, prova do seu crédito junto das duas instituições mais importantes do ténis mundial.
No entanto, e num artigo que se quer de comemoração, e porque sobre o Portugal Open já tudo disse o que tinha a dizer, acho importante lembrar outro promotor de torneios internacionais que Portugal tem.
Nuno Marques em acção do Vale do Lobo Grand Champions – O ténis português também tinha espaço Fonte: Premier Sports
Pedro Frazão é o dono da Premier Sports, uma empresa de promoção desportiva que levou a cabo durante 10 anos o Vale do Lobo Grand Champions, um torneio de ex-tenistas profissionais que trouxe até Portugal jogadores como Bjorn Borg, John McEnroe e Guillermo Villas, entre outros, e que permitiu a “putos” como eu, do alto dos meus 15, 16 anos na época, ver estes tenistas em court.
O Portugal Open é sem dúvida a bandeira do ténis português, mas dúvido que haja melhor promoção do ténis do que aquela semana no Algarve com as ex-glórias em campo, a jogar e a rir, que provocam enormes gargalhadas nas bancadas.
Falar do Grand Champions do Vale do Lobo é para mim falar de cinco personalidades: Mansour Bahrami, o excêntrico tenista iraniano, o mágico do ténis e o rei dos encontros de pares. Henri Leconte, o “maluco” tenista francês que foi um dos escudeiros de uma Taça Davis pelo seu país e que coloca em campo tudo aquilo que é a magia do ténis. Fernando Meligeni, “o fininho” brasileiro, que era garante de uma tarde bem passada e um dos mais humildes tenistas com quem contactei. Hugo Ribeiro, o press officer do torneio e para com quem tenho uma dívida de gratidão eterna, mas que colocava toda a máquina a funcionar e garantia o bom funcionamento da tríade jogadores-imprensa-fãs, tornando o Vale do Lobo um torneio familiar e informal. E claro, Pedro Frazão, por ter construído um evento de topo, dirigido não só a estrangeiros mas também com espaço para os portugueses, um evento bom para empresas e para famílias.
Vale do Lobo Grand Champions, volta, o ténis em Portugal precisa de ti!
Há noites que não se esquecem. Um primeiro beijo. Uma estúpida bebedeira. Uma boa “conversa” de cama. A morte de um familiar próximo. O adeus a um amigo que segue para o estrangeiro. Um fantástico jogo de futebol. Hoje vivemos e respirámos um desses. Um desses jogos que, de tão fantásticos, superam mesmo o conceito de “noite” e alongam-se no tempo de forma incomensurável.
Um pouco como o jogo que o Benfica levou para Inglaterra. A bem ou a mal, Jorge Jesus pegou mais uma vez neste plantel e espremeu-o de tal forma que o tornou infinito e pau para toda a obra. Aliás, as surpresas ao início foram prova disso mesmo: Oblak permaneceu na baliza, Sílvio deixou mais uma vez no banco um antigo e recorrente europeu André Almeida, Rúben Amorim preencheu o meio em detrimento de Enzo Pérez, Sulejmani deu descanso ao mágico Gaitán e Cardozo voltou à titularidade para se juntar a Rodrigo no ataque.
Começa a partida e começam também os cânticos dos Diabos Vermelhos e No Name Boys, que só se renderiam ao silêncio aquando do apito final. Um apoio de outro mundo. Benfiquistas à Benfica. E um Benfica que ameaçava não se render à casa cheia dos Spurs, que ainda andavam mal do estômago depois dos quatro golos encaixados no fim-de-semana contra o Chelsea. Adebayor, no entanto, vinha a jogo para dar trabalho a Luisão e Garay, coisa que felizmente só aconteceu nos primeiros minutos. Porque mal o Tottenham tirou o pé do acelerador foi tempo de o meio-campo encarnado rodar bola, puxar os ingleses para a frente e, com muito jeitinho, abrir espaço nas costas. E, coincidência ou não, aos 29 minutos, um lutador Rúben Amorim pega na redondinha, leva árbitro e dois adversários à frente e inventa – literalmente – um passe que é três quartos de golo. Rodrigo, com uma arrancada à Bolt, deixa o pobrezinho Naughton para trás e, da esquerda para o meio, faz um remate a fugir ao guarda-redes da casa. Sem espinhas.
Um colocadíssimo primeiro golo Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica (Isabel Cutileiro)
Ainda antes de acabar a primeira parte, o extremo esquerdo Eriksen puxa de um cruzamento que só Garay consegue travar e está dado o mote para aquele que seria o restante jogo: Benfica contra Eriksen (com a ajuda lá pelo meio de Lennon, na direita, e Kane, ao meio). Apito do árbitro e um primeiro tempo com um conjunto encarnado cheio de simplicidade e disciplina, trunfos que valiam (e justificavam) o adiantamento no marcador num jogo que o Tottenham queria claramente ganhar…mas não sabia como.
Pontapé na bola e vamos aos últimos 45 minutos. O Benfica precisava de muita cabeça e de muito auto-controlo para poder voltar a Lisboa dono e senhor desta eliminatória…e foi exactamente isso que faltou logo três minutos depois de se retomar a partida. Sem se perceber muito bem como, Luisão deixa em jogo Adebayor que sozinho e em excelente posição atira, da forma mais infantil e incrédula de sempre, o esférico para as ervas daninhas ao lado da baliza do jovem Oblak. “Mais dessas”, pedi eu aqui em casa, isto depois de atirar um copo à parede por causa da paragem cerebral do nosso capitão. Mas o Girafa quis redimir-se. Nem dez minutos depois, Rúben Amorim – que jogo enorme do português – roubou a bola a um distraído Kane e atirou para a defesa da noite. Não contente voltou a agarrar na bola, cobrou o canto para o Glorioso e Luisão fez o dois a zero com uma gloriosa cabeçada. Não fossem os festejos encarnados nas bancadas e ouvir-se-ia o ranger de dentes de Sherwood, homem que promete mudanças para o ano vindouro…arriscando-se a ser ele mesmo a maior de todas. Faltava o último prego no caixão.
O capitão Luisão assinou um bis Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica (Isabel Cutileiro)
Mas não. Porque o Benfica é assim. E porque benfiquista que é benfiquista tem de sofrer até ao fim. Depois de uma enorme arrancada pelo lado esquerdo, um inconformado Eriksen é rasteirado por um apagado Sílvio. Livre perigoso para os ingleses e um golo teleguiado. Oblak talvez pudesse ter feito mais, mas a concretização é de facto notável. O Tottenham reduzia a desvantagem numa altura em que o Benfica tinha o jogo controlado. Peito cheio de Eriksen, o único que, cheio de coração, não parou de remar contra a maré. Mas maré que é maré leva tudo consigo. E assim foi este Benfica, que não quis voltar nervoso a casa. Crédito para Jorge Jesus que tira os dois jogadores mais desaparecidos da noite, Sulejmani e Cardozo, dando espaço a Gaitán e Enzo, dois “desbloqueadores” natos. Ou vai ou racha!
E era para rachar mesmo. Rodrigo ia fazendo o terceiro depois de um erro enorme do guarda-redes Lloris e é o recém-entrado Gaitán – de prever, certo? – que minutos depois arranca a falta ao tal pobre Naughton. Conversão e Garay a atirar de cabeça para a defesa do guardião da casa, quando na recarga surge um Luisão ponta-de-lança com uma “pastilha” enorme que ainda vai à barra, mas que acaba nas redes dos Spurs.
Hora de apanhar o avião. E o resto é conversa. Ou peanuts.
A(s) Figura(s) Luisão e Rúben Amorim – Hoje quebro as regras e elejo dois senhores do futebol encarnado. Dois que já cá andam há muito, muito tempo. Um deles merece mais. E prova-o todas as vezes que pisa o relvado. Se Luisão foi enorme, Amorim foi genial. Ela por ela. Taco a taco. E por isso um pódio repartido.
O Fora-de-Jogo Tottenham – Perdoem-me a falta de criatividade na escolha, mas ou é o Benfica que merece estar na Champions ou é este Tottenham que não merece sequer estar numa competição além-Inglaterra. Please come back, Villas-Boas?
1ª parte: O jogo começou com sentido único: baliza do Nápoles! Um Porto que começou com o “novo habitual” 1-4-(1+2)-3 a todo o gás e que subjugou completamente um Nápoles que procurou excessivamente o jogo directo, tanto no ponta-de-lança fortíssimo Higuaín, como no extremo que faz da rapidez a sua arma, Callejón (em ambos os casos, quase sempre os centrais e Alex Sandro levaram a melhor). Com uma pressão muito alta assim que perdiam a bola, os dragões não permitiram nunca que os napolitanos respirassem e assim obrigavam a sucessivos erros e perdas de bola. Aos 10 minutos de jogo, Quaresma e Varela trocaram de flancos e demorou apenas um minuto a ser traduzida a superioridade azul-e-branca em remates: Jackson Martinez obriga Reina à defesa da noite com um voo brilhante para o seu lado esquerdo, após uma jogada brilhante de Carlos Eduardo (que me fez lembrar Deco neste jogo!). Primeiros 15 minutos – mais Porto, já tinha 6 cantos (!).
Aos 19 minutos, erro crasso da equipa de arbitragem: golo mal (muito mal!) anulado a Carlos Eduardo, que não só iria pôr justiça no resultado, como era mais do que merecido (e às vezes estes lances definem eliminatórias… Esperemos que não!). Podia dizer-se que o árbitro pensou que foi mão, mas o auxiliar levantou a bandeirola e o árbitro fez-lhe sinal. Foi um erro enorme, um golo limpo invalidado.
Nota também para o fact0 de este “novo Porto” procurar sempre sair a jogar numa primeira fase com Fernando, recuando este para pegar na bola, e depois encontra sempre uma “solução de passe 2-1”, desdobrando com isto as marcações e encontrando espaços para libertar a bola num dos colegas mais ofensivos.
Quaresma fez mais um bom jogo Fonte: Zero Zero
O primeiro sinal de perigo por parte dos italianos em toda a primeira parte ocorreu apenas ao minuto 26 (!), num contra-ataque conduzido por Callejón. Estavam passados 30 minutos e o “sinal mais” continuava para os azuis-e-brancos. Aos 38 minutos, o Porto (naturalmente, devido ao cansaço) baixou as linhas e os últimos 7 minutos do primeiro tempo foram com mais posse de bola no Nápoles. Mas no cômputo geral, muito mais Porto no primeiro tempo.
Na segunda parte, o jogo começou com aqueles que foram dos 10 minutos mais loucos a que assisti em toda a minha vida num jogo de futebol: aos 46′, Reina volta a defender brilhantemente um remate “do meio da rua” feito por Fernando; aos 49′, Quaresma remata forte, mas ao lado; 52′, Helton “imita” Reina e por duas vezes salva o Porto: primeiro um remate de Higuain para canto numa jogada em que Hamsik “rasgou” a defesa portista com um passe do meio-campo e depois na marcação desse mesmo canto, num cabeceamento exemplar de Albiol; 55′, Mangala inventa e é quase golo dos italianos; 56′, resposta portista, com o central Britos a tirar o “pão da boca” a Jackson. Estes primeiros 10 minutos terminaram com o (mais que merecido) golo do Porto! Na sequência do canto cedido por Britos, a defensiva napolitana aliviou a primeira bola de forma deficiente e Cha Cha Cha aproveitou a confusão para fugir à marcação de Albiol e, de pé esquerdo (e quente!), fuzilar a baliza de Reina.
Depois do golo e deste início em sufoco de ambas as equipas, só voltamos a ver perigo… 10 minutos depois (!), quando Helton saiu de forma fantástica e tirou a bola do isolado Higuain (que parte em posição muito duvidosa), num minuto onde o miúdo Quintero rendeu o enorme Carlos Eduardo.
Defour, a figura do jogo Fonte: Zerozero.pt
Ao aperceber-se de que o Porto necessitava de mais poder de choque para furar a teia defensiva napolitana, Luís Castro fez entrar Ghilas e tirou Varela (escolha arrojada, porém acertada) e o Porto voltou a assumir o controlo. Do minuto 70 ao minuto 81, o jogo baixou drasticamente de ritmo e assistimos a situações de ligeiro perigo para ambos os lados, embora nenhuma digna de registo. O jogo estava “mastigado” até uma jogada inacreditável acontecer: bola no ferro por parte de Quintero numa grande jogada colectiva: Quaresma, pela direita, dá no centro a Quintero, que por sua vez abre na esquerda onde Jackson serve Ghilas (num momento de troca posicional) e este se embrulha com Albiol, que se vira rápido e “corta” contra Quintero, levando a bola ao poste. Incrível! Este foi o tónico que voltaria a tornar este jogo em algo de extraordinário. O Nápoles respondeu aos 82′, quando Maicon cortou praticamente em cima da linha o golo certo aos italianos; 85′, Quintero, numa zona favorável ao seu pé esquerdo, rematou com força mas sem colocação às mãos de Reina; 87’, saiu Defour e entrou Herrera (tinha de referi-lo!); 92’ (de tão boa memória para o Porto…), quase golo do Nápoles! Zapata falhou o remate depois de um cruzamento a meia altura; 93′, final do jogo! Que grande partida, que grande Porto!
Figura: Defour
Poderia escolher Carlos Eduardo, Fernando ou até mesmo Quaresma, pela entrega, mas parece que finalmente Defour acordou com este novo treinador e começou a jogar futebol a sério! O seu trabalho invisível foi (paradoxalmente) notório e apresentou-se como o maior operário a nível de disponibilidade no meio-campo azul e branco!
Fora-de-jogo: Mangala.
Quase todos os lances de perigo nasceram de desconcentrações ou perdas de bolas infantis do francês. Há que melhorar!
Estamos no Rio Grande do Sul. Mas esta é uma terra diferente das restantes do Brasil. É o Estado mais a sul de Terras de Vera Cruz. Aqui o clima é frio. As pessoas comem carne de churrasco até no pequeno-almoço. Tomam o famoso chimarrão (não, o chimarrão não é nenhuma carne, mas sim uma folha de chá) e ainda têm a mania de tratar os outros por che! Talvez uma mera coincidência de quem está tão perto das pampas. Hoje é dia do clássico entre Grêmio e Internacional. E a cidade de Porto Alegre vai parar.
– “Que é isso? Camisa azul? Não, não. Azul não pode ser! Veste antes esta vermelha.”
– “Corrigindo os testes com caneta vermelha? Ah, larga isso! Toma esta caneta azul.”
É isto que os adeptos de uma e outra equipa poderão ouvir dos mais fanáticos. E ninguém escapa a estes comentários quando se faz tão escandalosa ignomínia. O Grêmio é tricolor. Azul, preto e branco. O Inter joga com o tradicional vermelho e branco. Tricolor e Colorado. O clássico do sul. Este é o GreNal!
GreNal, um clássico de super-heróis Fonte: zerohora.clicrbs.com.br
Ambos os emblemas têm um grande historial. O Grêmio já foi duas vezes campeão brasileiro e tem quatro Copas do Brasil. O Inter é tricampeão mas só tem uma copa do Brasil. Em termos internacionais equivalem-se. Duas Libertadores para cada um e um mundial de clubes também. Em termos de Estaduais há vantagem para o Colorado: são 42, enquanto os rivais gremistas têm 36. Só que existe um título que os gremistas gostariam de não ter. E esse título ninguém quer: campeão da Segunda Divisão por uma vez, em 2005. O Internacional nunca desceu de divisão.
Ah, e a célebre frase do “clássico é clássico e vice-versa” foi proferida por Mário Jardel em vésperas de um GreNal. O passado conta pouco para cada jogo, de facto. Ambos os clubes têm história. Os dois contribuem para que o Rio Grande do Sul e o Brasil fiquem cada vez mais alegres.
Ok, nada correu como desejado.Pois é, o surfista português Tiago “Saca” Pires saiu derrotado do confronto com o rei Kelly Slater. Depois de uma vitória suada frente ao Sul-africano Jordy Smith, no round 2, Saca não conseguiu repetir a proeza com o Master norte-americano. Com ondas a rondar um metro, Tiago Pires liderou a primeira metade do heat, mas Slater virou o resultado aos 16 minutos com uma onda que lhe valeu um 9,07, passando diretamente para primeiro.
Enquanto isso, Saca andava meio perdido dentro de água, o que fez com que Kelly tivesse tempo ainda de fazer um 7,50, totalizando assim um score de 16,57 em 20 pontos possíveis. De lembrar ainda que esta foi a pontuação mais alta do dia. O surfista português terminou a bateria em situação de combinação, querendo isto dizer que necessitaria de substituir as suas duas melhores ondas, que lhe deram um score total de 8,67. Deste modo, Tiago permitiu o apuramento ao quarto round ao seu colega Kelly Slater. “The portuguese Tiger” acabou a prova na décima terceira posição e com uma vontade maior de chegar longe na próxima etapa mundial, que se vai realizar em Margaret River, na Austrália.
Saca a caminho de mais um heat Fonte: Diário Digital
Tal como Kelly Slater, também Taj Burrow, Gabriel Medina, Adriano de Sousa, Josh Kerr, Joel Parkinson, Miguel Pupo, Nat Young, CJ Hobgood, Fred Patachia e Mitch Crews passaram ao round 4. No meio de tantos surfistas, a grande surpresa, e que começa já a ser habitual, foi Gabriel Medina. O prodígio brasileiro de 20 anos derrotou duas vezes o campeão mundial, Mick Fanning: no round 4 e nos quartos-de-final. A seguir veio Taj Burrow; o surfista australiano que para muitos é considerado um dos melhores surfistas de sempre foi também derrotado por Medina. Três décimas de diferença foram o suficiente para permitir que Gabriel Medina passasse à grande final. Aqui iria encontrar outro australiano, Joel Parkinson. Parko, que se consagrou campeão mundial no ano de 2012, também saiu derrotado. Tal como dizem os brasileiros, Medina estava “irado” e, depois de um heat bastante competitivo entre os dois atletas, Gabriel conseguiu o primeiro título do world tour, com uma distância mínima, de seis décimas. Ainda assim, Joel teve a pontuação mais alta da final, numa onda que lhe valeu nove pontos.
Medina a festejar o seu primeiro triunfo do ano Fonte: carvemag.com
No final de contas, Medina eliminou o atual campeão mundial e o ex-campeão mundial, ambos australianos que surfam com muita frequência no pico de Kirra point, onda onde se realizou o evento. Com este resultado, o brasileiro encontra-se na primeira posição do ranking mundial.
Como tem sido hábito nas campanhas europeias, o Benfica vai ter pela frente um adversário inglês. Os bifes, como os portugueses carinhosamente lhes chamam, têm sido uma presença habitual do lote de “inimigos” dos encarnados, principalmente com Jorge Jesus ao leme.
Na verdade, desde que o técnico português comanda a equipa, o Benfica já defrontou 5 equipas inglesas: Everton / Liverpool (2009/2010); Manchester United / Chelsea (2011/2012); Newcastle / Chelsea (2012/2013).
Como sabemos, na próxima quarta-feira o Benfica de Jorge Jesus vai defrontar a 6ª equipa inglesa, neste caso o Tottenham. E, como é habito da imprensa e dos adeptos portugueses, fica presente a ideia de que o Benfica se dá bem com equipas da terra da Nossa Majestade. Mas será mesmo verdade?
Numa rápida análise aos 11 jogos disputados desde a temporada de 2009/2010, é possível verificar que o Benfica apresenta um saldo de 4 vitórias, 4 derrotas e 3 empates, tendo ainda um registo de 19 golos marcados e 15 sofridos. A conclusão é fácil de tirar: o equilíbrio impera.
Obviamente que face a um lote de equipas onde se incluem planteis extremamente poderosos como são o Manchester United ou o Chelsea, ter na globalidade dos resultados 4 vitórias e 4 derrotas não é, de fato, um mau registo. Mas… também não é bom.
O Benfica encontrou o Chelsea na final da Liga Europa em 2013 Fonte: Syrcro, Wikipedia
À imagem dos números, serve tudo isto para justificar aquilo que eu espero do jogo com os Spurs: equilíbrio. Vai ser uma eliminatória renhida, decidida nos detalhes. Até pelas recentes declarações de um lado e do outro se nota um equilíbrio de força, com ambas as equipas a evidenciarem ter um grande respeito mútuo. Respeito esse que, acredito, vai ser transportado para o relvado.
Para esta primeira mão, não me parece que o Benfica vá para White Hart Lane jogar ao ataque no seu habitual 4-4-2 de grande fluidez ofensiva. Pelo contrário, Jorge Jesus deverá optar por um 4-3-3 dinâmico e capaz de auferir estabilidade defensiva – bem necessária, face ao poder ofensivo dos homens da frente do Tottenham – e suficientemente forte para criar ocasiões de golo e dominar a partida.
No entanto, JJ já nos habituou a algumas surpresas, principalmente nos jogos “decisivos”. Não é portanto, de estranhar se o Benfica apostar num ataque feroz à defensiva dos Spurs, que é na ótica geral dos especialistas o ponto mais fraco do atual 5º classificado da Premiar League.
O que é certo é que no relvado vão estar duas grandes equipas recheadas de grandes jogadores. Até nisso se equiparam: Lloris, Luisão, Garay, Walker, Fernandinho, Dembelé, Sandro, Enzo, Gaitán, Adebayor e Soldado, juntos formariam um 11 de luxo para qualquer treinador.
Ao que parece, a chuva finalmente deu tréguas e o bom tempo veio para ficar. É garantido que os ingleses vão viajar em massa para Lisboa, prontinhos para esturricarem no característico sol português. Aconselho Jorge Jesus a meter “a carne toda no assador”, até porque este é um bife dos duros.
A Liga Europa é o fruto mais apetecido para os clubes que não são considerados ‘’grandes’’ nesta Liga ZON Sagres. O porquê? Muito simples, o encaixe financeiro permite que, em alguns casos, não se fique a dever salários e, noutros casos, se saldem dívidas antigas. Estes dois fatores são pilares fundamentais para uma equipa se consolidar nesta primeira divisão portuguesa. Mas há que não dar um passo maior do que as duas pernas juntas; veja-se o Paços de Ferreira: provavelmente, se tivesse estado apenas na Liga Europa e não na Liga dos Campeões não teria tantas dificuldades este ano.
Mas falemos da concorrência feroz para os lugares de acesso à segunda prova de maior dimensão futebolística da europa, a Liga Europa. Vou excluir os clubes ‘’não-grandes’’ da luta pelos lugares na Liga dos Campeões porque o clube mais próximo já dista de sete pontos para ocupar tais posições.
Portugal, esta época, coloca apenas dois clubes (via campeonato) na Liga Europa do próximo ano; contudo, temos na luta cinco equipas (até agora). O Estoril-Praia é a equipa em melhor posição, um 4º lugar, com nove pontos de avanço sobre os simples lugares de permanência. E para além dos números, posso afirmar que é a equipa que melhor futebol pratica de entre todos os emblemas que estão presentes nesta ‘’guerra’’. Marco Silva vem, já desde o ano passado, a desenvolver o que é, na melhor génese da palavra, uma equipa. Bom futebol, boas opções, humildade, e um fator muito importante: conhecer as limitações.
Marco Silva, treinador do Estoril Fonte: Zerozero.pt
No 5º lugar aparece o Nacional da Madeira, clube que todos os anos ambiciona os lugares europeus, mas que nem sempre os consegue. Manuel Machado chegou a ser criticado por não estar a cumprir os objetivos, mas agora que está quatro pontos acima do 5º lugar (que não dá acesso a competições europeias), as más-línguas parecem ter sucumbido às exibições nacionalistas – apesar de o Nacional estar neste momento a atravessar um mau momento, estando há quatro jogos sem vencer.
Abaixo do 5º lugar, aparecem três equipas, todas com 30 pontos e a quatro do Nacional. Temos um Sporting de Braga que mudou recentemente de treinador e cujos jogadores parecem estar a assimilar os novos conteúdos implantados por Jorge Paixão. O resultado disso foi visível na vitória frente ao adversário direto Nacional, que colocou os bracarenses mais perto dos lugares europeus. A deslocação à Briosa na próxima jornada é fundamental para o Braga, porque em caso de derrota pode perder o 6º lugar e passar para 9º, já para não falar de que as distâncias pontuais para os lugares europeus ficam quase irrecuperáveis.
Jorge Paixão, treinador do Braga Fonte: Bragatv.pt
Ainda na luta aparece o Marítimo, que nos últimos seis jogos conseguiu obter 13 pontos, o que lhe permitiu chegar mais perto do seu vizinho Nacional. Esta boa série maritimista fica marcada de forma negativa pela derrota com o lanterna vermelha Paços de Ferreira; a vitória contra os castores colocaria o Marítimo a apenas um ponto da Europa. O ‘’tudo ou nada’’ da equipa de Pedro Martins joga-se este sábado no Estoril. Bom jogo em perspetiva.
Na 8º posição mas também com os 30 pontos de Marítimo e Braga aparece o Vitória de Guimarães. É um objetivo assumido dos vimaranenses marcar presença na Liga Europa, até porque a eliminação precoce da Taça da Liga e da Taça de Portugal (que é detentor) deixou desagradados os sócios e simpatizantes do clube. Rui Vitória tem tido uma época de altos e baixos sem ainda ter conseguido sair por cima dos acontecimentos. Nesta altura o Guimarães leva três jogos sem ganhar e perdeu diante do Marítimo na última jornada, tendo sido ultrapassado pelo mesmo. Na próxima jornada, o Paços é o adversário do Vitória, que pode deixar traçado o seu caminho rumo apenas à manutenção ou então rumo aos lugares europeus.
Eu e você, leitor, podemos concluir que a concorrência é feroz e que as últimas oito jornadas vão ser extremamente interessantes de acompanhar para ver quem entrará na Liga Europa para a próxima temporada.
Rio Ave e Braga: um deles marcará presença na final da Taça de Portugal e ficará com um lugar na Liga Europa Fonte: Magic0braga.blogspot.com
Apenas um último ponto: Braga e Rio Ave ainda estão na Taça de Portugal e o vencedor da eliminatória das meias finais (a duas mãos) ficará com um dos lugares na Liga Europa atribuídos por esta competição. Isto porque Porto e Benfica, os outros dois em prova, estão encaminhados para se apurarem para a Liga dos Campeões.
Dramático de Cascais x Modicus
Sp. Braga/AAUM x Benfica
Leões de Porto Salvo x Arsenal Parada
Unidos Pinheirense x Fundão
Na sexta-feira passada, dia 7, decorreu o sorteio dos quartos-de-final da Taça de Portugal de Futsal. Antes de analisar os ditos jogos, é importante referir uma regra que, a meu ver, é muito bem aplicada: as equipas de escalão inferior, neste caso Arsenal Parada e Unidos Pinheirense, têm o direito de jogar os encontros em casa. Assim sendo, apesar de no sorteio o nome dos Leões de Porto Salvo aparecer primeiro, é o Arsenal que joga no seu reduto.
Feita esta análise, está na hora de nos focarmos nos 4 jogos que temos pela frente. Eu acho que é indiscutível afirmar que o jogo grande desta ronda irá decorrer em Braga entre o 2º classificado (Benfica) e o 3º ( Sp. Braga). Apesar da recente vitória expressiva do Benfica no último confronto entre ambos (6-1), é de prever um jogo muito equilibrado, onde a incerteza no marcador irá pairar até ao apito final do árbitro.
Na Maia, Arsenal Parada e LPS discutem uma das 4 vagas para as meias-finais. Neste jogo, é de esperar que os Leões imponham o seu futsal mais experiente e se façam valer das suas individualidades. Mas o Arsenal, proveniente do 3º escalão, promete lutar e dar tudo em campo para tentar continuar a sua campanha de sonho.
Foto representativa do Arsenal Parada, a equipa em destaque na prova Fonte: Pedromiguel19.blogspot.pt
Em Cascais, outro jogo digno de toda a nossa atenção. Dramático e Modicus, respetivamente 9º e 11º no campeonato nacional, enfrentam-se numa batalha que se prevê dura. Esta época ainda só se defrontaram na 1ª ronda da Liga Sport Zone, tendo o jogo terminado com um parcial de 6-0 favorável ao Modicus de Sandim. Mas as circunstâncias são diferentes e, neste caso, a turma de Cascais promete lutar pelo apuramento e continuar a alimentar o sonho de chegar ao jogo decisivo.
Finalmente, o líder da Série A da II Divisão, Unidos Pinheirense, recebe a formação do Fundão. À semelhança do jogo anterior, a formação primodivisionária parte como favorita para esta eliminatória, mas o Unidos já eliminou uma equipa do escalão principal, a Académica, e pretende repetir mais uma vez essa façanha, embora encontre pela frente um Fundão que se encontra atualmente no 6º lugar da tabela e tem uma equipa repleta de jogadores de qualidade.
Prevejo 4 jogos de extrema qualidade numa eliminatória disputada no fim-de-semana de 29 de Março. Se tivesse que apostar, apostaria em Benfica, Dramático, LPS e Fundão para se apurarem mas, como nada no desporto é linear, resta-nos esperar pela disputa destes jogos para depois, aí sim, analisar as prestações das 8 formações ainda em prova.
“Comprava o Pedro só para o pôr a jogar no meu quintal”. A frase, mais palavra menos palavra, é de Quinito, a ‘velha raposa’ do futebol nacional que treinou Pedro Barbosa no Vitória Guimarães. Sei bem que este jogador não vai ficar na História do futebol mundial. Mas foi alguém que aprendi a admirar, em virtude do seu estilo de jogo, da sua forma de estar no desporto e da grande dedicação com que sempre serviu o Sporting. É o meu único ídolo. Chegou a Alvalade para substituir Figo, no Verão de 1995, e a primeira imagem que tenho dele é uma assistência que fez num Portugal-Arménia. Seguiram-se outras recordações ainda melhores: o golo ao Boavista aos 27 segundos, as obras de arte nas Antas e nos Barreiros, o espectacular bis ao Leiria e muitos, muitos passes e jogadas estonteantes. A fantástica época de 03/04 que realizou, exibindo-se quase aos 34 anos com o requinte de um predestinado, e o facto de ter sido capitão nos dois títulos que vi o Sporting ganhar também contribuíram bastante para que Pedro Barbosa conquistasse para sempre um espaço na minha memória.
Aprendi a adorar a sua grande técnica (vi poucos jogadores em Portugal superiores a ele neste capítulo) e a quase indiferença com que deixava os adversários para trás. As suas simulações e fintas de corpo eram alvo da minha imitação na escola, ainda que na maioria das vezes não passassem de tentativas frustradas de copiar o meu ídolo. Nos intervalos das aulas, tentava pausar o jogo e fazer passes cirúrgicos, fintar alguém em passo de caracol, inventar um lance de magia a partir do nada. Raramente resultava, porque o talento não é coisa que se imite. Contudo, a simples ideia de estar, pensava eu, a reproduzir os movimentos do 8 do Sporting já era motivo de grande satisfação pessoal. E às vezes lá arrancava uma jogada mais bem conseguida, a que os meus colegas, talvez mais por solidariedade do que por encontrarem realmente semelhanças, reagiam com um “ganda Barbosa!”.
Li algures que este jogador foi protagonista de alguns dos “nós mais ordinários” do futebol recente, o que é uma expressão certeira. Nela se percebem tanto a classe e eficácia deste artista como o ligeiro rasto de humilhação que os seus dribles deixavam para trás. De uma forma simples e natural, sem grandes floreados e a um ritmo sincopado, Barbosa abria a enciclopédia e recordava-nos a todos, com a graciosidade de sempre e uma certa desfaçatez, que o futebol é realmente um jogo simples. Não era manifestamente um jogador “operário”, o que talvez explique o cepticismo de alguns adeptos relativamente a ele. Mas a bola agradecia cada toque seu. A lentidão que por vezes apresentava em campo valeu-lhe alcunhas como “pastelão” ou “Pedro Vagarosa”, para além do surgimento de histórias que davam conta de uma alegada perdição por croissants. No entanto, o ex-capitão do Sporting é a prova de que os futebolistas não se medem aos sprints e que a genialidade permite um ou outro abuso alimentar: Barbosa jogava melhor parado do que muitos a correr.
“Barbosa, com Schmeichel e Rui Jorge, festeja em Vidal Pinheiro o tão ambicionado título de 99/00”
Umas vezes empolgava-se e mantinha um nível assombroso ao longo de todo o jogo, e aí o seu génio revelava-se demasiado grande para o periférico futebol português. Noutros jogos, contudo, a sua arte aparecia de forma mais esporádica, o que acabou por motivar críticas à sua irregularidade, ao facto de se alhear dos jogos, de “só jogar para o contrato”, etc. No futebol, como na vida, as pessoas querem resultados e não poesia. Querem velocidade, fintas e golos, e não inteligência, visão de jogo e capacidade de liderança. Neste desporto a 100 à hora, em que cada vez mais se exigem esforços sobre-humanos aos jogadores, nem sempre há lugar ou paciência para um pensador, para um estratega implacável. Muitos esquecem-se de que por detrás de cada Messi há um Xavi, por detrás de cada artista há um cérebro. Com as devidas distâncias, Barbosa era esse cérebro, sem no entanto abdicar do seu estilo fantasista que fazia um adepto passar, em escassos segundos, dos insultos hardcore às juras de amor eterno a ele dirigidas.
Se pensarmos um pouco, aliás, vemos que há poucos exemplos de futebolistas que, como Barbosa, conjuguem uma técnica apuradíssima com uma inteligência superior dentro de campo. O caso mais famoso talvez seja Zinedine Zidane, facto que levou alguns fãs do eterno 8 do Sporting a definirem o seu ídolo como “o Zidane português” (não seria antes Zidane o “Pedro Barbosa francês”? Afinal, o português até é mais velho…). A sua carreira internacional, porém, não foi tão consistente quanto podia, em parte devido ao facto de ter atingido o auge em plena “geração de ouro” e de ter tido a fortíssima concorrência de jogadores como Figo, Futre, Paneira, Sérgio Conceição, Capucho ou Simão. Ainda assim, marcou presença no Euro 96 e no Mundial 2002. Tive a felicidade de assistir em Alvalade ao seu melhor jogo pela Selecção, frente ao Chipre (6-0), em que um dos dois golos com que brindou a plateia foi de levantar o estádio.
A frase que mais vezes ouvi adeptos rivais dizerem quando ficam a saber da minha admiração por Barbosa é “se ele era assim tão bom, por que é que nunca saiu de Portugal?”. Estranho estes critérios que não impedem a consagração de monstros como Eusébio ou Pelé, mas que já são obstáculo quando se trata de outro jogador. No programa “A Noite do Futrebol”, co-apresentado por Paulo Futre, Barbosa admitiu ter tido várias propostas do estrangeiro, mas nunca quis abandonar um clube onde sempre foi bem tratado. Por cá, construiu uma aura de grande capitão e foi decisivo para a evolução de jovens como Quaresma, Viana ou Ronaldo. Numa visita recente a Portugal, Peter Schmeichel disse “it’s particularly nice to see Beto, Vidigal… and Mr. Barbosa”. O facto de a liderança e clareza de discurso de Barbosa terem cativado um dos melhores guarda-redes de sempre, ao ponto de este chamar “senhor” a um ex-colega de equipa, é muito revelador.
No mesmo programa que atrás mencionei, Futre referiu-se a Barbosa como alguém que “ganhava o jogo sozinho, [o que fazia] era arte pura”. Quando, há uns anos, Cristiano Ronaldo alinhava pelos juvenis do Sporting, perguntaram-lhe numa entrevista quais eram os jogadores do plantel principal que mais admirava, tendo o agora melhor do mundo escolhido “João Pinto e Pedro Barbosa, porque são dois grandes profissionais de futebol”. É significativo que Futre, jogador extraordinário, tenha convidado Barbosa para o seu programa; já o facto de Ronaldo admirar o meu jogador favorito mostra bem que idolatrar Pedro Barbosa é tudo menos descabido – o melhor futebolista português de sempre também o faz, e isso é mais uma prova de como ele soube sempre escolher os exemplos certos.
“Aos 15 anos, Cristiano Ronaldo deu a conhecer numa entrevista a sua admiração por Pedro Barbosa” Fonte: sportingautentico.blogspot.com
Não é comum ouvirmos um adepto rival afirmar que um dos seus jogadores preferidos de sempre jogava no nosso clube. Porém, foi precisamente isso que me disse um portista que conheci quando estava em Erasmus. Barbosa nunca foi um jogador consensual mas, da mesma forma que não era apreciado por todos os Sportinguistas, a sua enorme qualidade extravasava o Sporting e contagiava adeptos rivais. E foi também esta eterna controvérsia, tão característica dos génios, que sempre me fascinou.
Barbosa retirou-se em 2005, depois de um campeonato roubado nos últimos minutos e de uma final europeia cruelmente perdida em casa. Recordarei para sempre a sua imagem a passar ao lado da taça. O capitão, mais do que todos, merecia erguê-la e não ter de circundá-la de rosto fechado e cabeça baixa. Pedro Gomes, comentador desportivo e antiga glória do Sporting, referiu na altura que Barbosa quase nunca jogou a nº10, posição onde poderia ter rendido ainda mais. Concordo. A jogar nas costas dos avançados, sem grandes preocupações defensivas e numa zona em que a velocidade é menos determinante, as qualidades do eterno capitão tê-lo-iam projectado para um nível de excelência que nas alas podia por vezes não aparecer. Seja como for, amado por uns e incompreendido por outros, Pedro Barbosa entrou na História do Sporting e do desporto nacional enquanto um dos melhores futebolistas da sua geração. No meu caso, ficar-lhe-ei eternamente grato por me ter mostrado que o futebol também pode ser arte, de tal forma que senti a necessidade de comprar a camisola com o seu nome e número na última época em que representou o Sporting. Nove anos depois do abandono de Pedro Barbosa, os relvados portugueses ainda choram pelo seu regresso. Muito tempo passará até que apareça alguém semelhante.