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Em defesa do Cha Cha Cha

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Quando André Villas-Boas decidiu emigrar e deixar para trás a ‘cadeira de sonho’, os então pupilos do jovem técnico encontraram-se nos olhares e nas angústias e questionaram-se: “se depois de nos ter guiado e ajudado a ganhar tudo, ele nos deixa, que vamos ficar nós aqui a fazer?”. Da inquietação à acção, Falcao partiu para Madrid para ajudar à construção deste, hoje, super-Atleti, e outros, por entre desconforto e declarações menos próprias, desceram de rendimento ou acabaram por sair, com, aqui ou acolá, pequenas excepções.

Se para Vítor Pereira, a herança, per si, já era estrondosamente pesada, mais ficou com a saída do colombiano e perante a ausência de uma verdadeira alternativa. Nessa época, o FC Porto viveu com Kléber ou Hulk, primeiro, e com Janko, depois, como ‘9’. Por diferentes motivos, nenhuma das soluções era uma verdadeira garantia, ainda para mais quando o portista se habituara ao voo e à classe de El Tigre.

Percebendo-o, o Dragão atravessou o Atlântico e fez um périplo até à cidade de Chiapas, no México, buscando a sua nova galinha dos ovos de ouro. Vindo do Jaguares e com nome de estrela pop, Jackson Martinez aterrou no Porto com a promessa de ter a camisola ‘9’ à sua espera – aquela que fora de Gomes, Domingos, Lisandro ou … Falcão. E com um enorme selo de garantia, daqueles simbólicos mas impagáveis: a companhia de Pinto da Costa, num enorme depositar de confiança e expectativas.

E Jackson não desiludiu. Numa altura em que tanto se critica o colombiano, é bom ter memória: Cha Cha Cha, como lhe chamam, no primeiro jogo que fez com a camisola azul-e-branca já estava a marcar e a dar títulos ao FC Porto (1-0 contra a Académica, Supertaça 2012); depois disso – e na época de estreia no futebol europeu, não esquecer! – foi o rei dos marcadores no campeonato (26 golos), com a melhor média (0.87 golos/jogo), e ainda facturou 3 vezes em 8 jogos na Champions. Mais do que isso, ajudou, de forma incontestável (30 presenças em 30 jornadas, 2685 minutos em 2700 possíveis) a equipa a revalidar o ceptro de campeão nacional e, ao todo, em 43 jogos, facturou 31 vezes. Nada mau para um rookie

Faça sol ou chuva, Jackson é a referência do ataque portista  Fonte: A Bola
Faça sol ou chuva, Jackson é a referência do ataque portista
Fonte: A Bola

E, ainda que vivamos numa ditadura dos números, o futebol continua a ser bem mais do que isso. Jackson é o protótipo do ponta-de-lança moderno: forte e imponente fisicamente, com poder de choque, é perito em recuar e dar apoio central ao jogo da equipa, endossando depois para as laterais, permitindo a exploração da largura de jogo do colectivo. Mais do que isso, tem grande qualidade técnica (é incrível, principalmente, a forma como recepciona a bola, tornando-a desde logo jogável em óptimas condições), é relativamente rápido e tem boa impulsão, à qual alia um jogo aéreo bem interessante. Apesar da sua densidade corporal, sabe cair nos flancos e, mais importante para um ‘9’, posicionar-se na área. Junta à sua enorme eficácia um dom natural para assinar golos e jogadas recheadas de ‘nota artística’, como o tento diante do Sporting, no Dragão, na época passada.

Numa altura em que tanto (ou quase tudo) se coloca em causa no FC Porto, o colombiano não está imune às críticas. É até natural que assim seja, tamanha é a incredulidade portista com a falta de qualidade e personalidade que o Dragão passeou por tantos e tantos campos esta época. De facto, o penalty falhado (e a forma como o falhou) diante do Benfica, no último Domingo, levou a um explodir de frustração sobre Jackson, que, em abono de verdade, é exagerado e injusto – é certo que o actual ‘9’ do FC Porto, por vezes, diz o que pensa e não pensa no que diz, tal como claro é que o rendimento do colombiano desceu uns furos este ano, em comparação com a temporada transacta. Ainda assim, tendo isso como um dado óbvio, parece-me indesmentível que, como outros, Jackson foi muito vítima da forma como o FC Porto (não) jogou, da maneira como a equipa e o modo de jogar foram pensados principalmente por Paulo Fonseca, deixando não raras vezes Cha Cha Cha como uma verdadeira ilha (ou com um Lucho inadaptado como companheiro).

O golo diante do Sporting foi um dos momentos mais altos de Jackson com a camisola do FC Porto  Fonte: www.jornalacores9.net
O golo diante do Sporting: um dos momentos mais altos de Jackson ao serviço do FC Porto
Fonte: www.jornalacores9.net

O desgaste emocional – para além do físico – que muitos jogadores do plantel deste FC Porto foram acumulando ao longo destes meses – agravado de forma evidente após a derrota e consequente eliminação da Liga Europa às mãos do Sevilha –, com evidentes repercussões ao nível da performance dentro das quatro linhas, não deve nem pode servir como uma enorme pala para avaliar e julgar determinados jogadores que, num passado recente, já tanta qualidade demonstraram e tantos títulos assinaram. Como é o caso de Jackson.

Porque se assim for, lá terei de recorrer aos números novamente. É que, apesar de tudo, Jackson só depende de si para ser novamente o melhor marcador do campeonato (para já, 19 golos em 28 jogos), detém, de novo, a melhor média golos/jogos e, ao todo, já festejou 28 vezes em 49 jogos em toda esta sofrível temporada. E não foi com este FC Porto que o conseguiu; foi apesar deste FC Porto.

Tivesse eu a possibilidade e o atrevimento de mandar um pouco que fosse e Jackson seria o meu ponta-de-lança. E, com 27 anos, sê-lo-ia por muitos e bons anos. Até já não poder ou não saber mais dançar o Cha Cha Cha perante os centrais adversários. Se tal não for realisticamente possível, que vá ser feliz num destes tubarõ€s que por aí agora pululam. Porque qualidade para isso não lhe falta. Jackson é top. E eu sou fã.

La Masia: o espelho do futebol espanhol

O futebol espanhol está, nos dias de hoje, na moda. Anda nas bocas do mundo desde a última década, quer pelo seu futebol, quer pela qualidade dos recursos humanos que cria e lança em catadupa, quer pela dinâmica de vitórias que tem vindo a apresentar. Mas até chegar a este patamar nem tudo foi um mar de rosas.

Desde que as competições de seleções existem – Mundial, desde 1930, e Europeu, desde 1960 -, até há oito anos atrás a história do futebol espanhol era pouco mais do que pobre, sobretudo para um país que, com 47 milhões de habitantes e dois dos maiores colossos do futebol mundial, Real Madrid e Barcelona, deveria competir com as grandes potências europeias como são Itália, Alemanha ou França. A verdade é que desde 1964, quando conseguiu o seu primeiro título no Campeonato da Europa com os saudosos Amaro Amancio, Luis Suarez, Iribar ou Marcelino Martinez, o desempenho da seleção espanhola tinha variado entre o suficiente e o paupérrimo até ao novo triunfo de 2008.

Em 1979 nasceu um projecto que permitiria ao futebol espanhol viver actualmente o período mais bonito da sua história: La Masia. La Masia existe desde 1702 – albergava arquitectos e homens da construção civil, servindo basicamente como casa de campo – mas em 1957, quando o Camp Nou foi inaugurado, passou a servir de sede social do FC Barcelona. Em 1979, mais precisamente a 20 de Outubro, tornou-se o quartel-general da formação do clube. Intimamente ligada à escola holandesa, através dos ensinamentos do homem que levou a Holanda à glória europeia (Rinus Michels) e de um dos seus pupilos nessa mesma seleção e no Barcelona (Johan Cruyff), La Masia foi criada a pensar nesse modelo, com o objectivo de formar e moldar os jovens com potencial para fornecer o clube e para criar uma base que possibilitasse também municiar a seleção, carente de grandes talentos e sobretudo de resultados.

Johan Cruijff e Pep Guardiola: dois responsáveis pelo sucesso de La Masia  Fonte: Vavel.com
Johan Cruijff e Pep Guardiola: dois responsáveis pelo sucesso de La Masia
Fonte: Vavel.com

A ideia foi posta em marcha e os talentos começaram a aparecer. Foi pelas seleções mais jovens que começou a aparecer a mudança de paradigma futebolístico espanhol. Em 1991 apareceria a primeira Taça dos Campeões Europeus vencida pelo Barcelona com os canteranos Pep Guardiola e Albert Ferrer, e em 1992 a Espanha seria campeã olímpica com os mesmos. A partir daí, não mais parou de crescer a fábrica de talentos culé e, por consequência, o futebol espanhol.

Em 1998, Espanha vence o Europeu sub-21 com Arnau e Roger em destaque – sobretudo o primeiro, que é eleito o jogador do torneio – e em 1999 vence o Mundial de sub-20, com Xavi e Gabri como os baluartes do meio-campo. A partir de 2002 surge a hegemonia espanhola, com a cantera culé à cabeça: vence seis Campeonatos do Mundo de sub-19 (2002, 2004, 2006, 2007, 2011 e 2012), com Iniesta e Sergio Garcia (2002), Piqué e Jefrén (2006), e mais recentemente Sergi Gomez, Deulofeu ou Denis Suarez (2012); e conquista, em 2011 e 2013, o Europeu de sub-21 com os culés Thiago Alcantara, Montoya, Bojan Krikic e novamente Jefrén (2011) e com os mesmos Thiago e Montoya, aos quais se juntam Bartra e Tello em 2013.

Thiago, Tello, Bartra, Muniesa and Montoya - vencedores do Euro sub-21  Fonte: fcbarcelona.com
Thiago, Tello, Bartra, Muniesa and Montoya – vencedores do último Euro sub-21
Fonte: fcbarcelona.com

Em La Masia cresceu uma ideia, cresceu uma maneira de interpretar e jogar futebol, que atinge o seu auge no Europeu de 2008, quando a seleção espanhola vence o torneio com Xavi, Iniesta, Reina, Puyol, Sergio Garcia e Cesc como representantes da escola fantástica. A partir daí, a história tem sido sempre dourada. O clube vence três Champions (2006, 2009 e 2011) e a seleção atinge o máximo que um país pode ambicionar, o Mundial de Futebol, com nada mais, nada menos do que nove canteranos! Os já anteriormente citados (exceptuando Sergio Garcia) em 2008, mais Piqué, Valdés, Pedro e Busquets.

Hoje elogiámos uma fantástica geração, mas a verdade é que esta não nasce por acaso. O sucesso de nuestros hermanos surge de uma ideia cujas bases demoraram praticamente uma década a ser criadas e que permite que hoje haja um leque de estrelas que não pára de crescer ano após ano. La Masia é, muito provavelmente o expoente máximo da formação de jovens futebolistas em todo o mundo, e é o principal pioneiro no crescimento futebolístico de jovens no país vizinho, tendo levado outros clubes a investir e aproveitar mais e melhor a sua formação.

Hoje olhamos para o Barcelona e, por consequência, para a Seleção Espanhola, e vemos uma base de futuro que parece não parar de regenerar-se. Ainda há duas semanas venceu a Youth Champions League com duas novas estrelas que poderão dar que falar nos próximos tempos: El Haddadi e Adama Traoré.

Será este um modelo viável de seguir em Portugal?

Surf, uma mais-valia para a economia

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cab Surf

Com as competições paradas para descanso, esta rubrica semanal cobrirá alguns temas menos vulgares mas igualmente interessantes.

Sabias que o surf já contribuiu com cerca de 400 milhões de euros para a economia portuguesa? Exactamente! Devido ao crescimento deste desporto no nosso país, os políticos que estão lá a fazer o seu trabalho (ou não) bem podem agradecer a todos os surfistas. Mas com o que é que será que estes 400 milhões de euros estão relacionados, mais concretamente? Pois bem: por um lado, temos as competições nacionais e internacionais que são realizadas no nosso país e que atraem milhares de turistas. Por outro lado, temos as marcas de surf, que são vendidas a cerca de três milhões de portugueses, o que gera muito lucro. Mas não acaba aqui. Portugal tem um clima bastante bom e excelentes ondas, o que atrai milhares de turistas, principalmente do norte da europa, onde o frio se faz sentir com mais força. Ainda para acrescentar a isto, Portugal é visto e conhecido no mundo do surf como a “Califórnia da Europa”, atraindo ainda mais turistas. Deste modo, percebemos que o factor principal é o turismo, que é proporcionado pelo clima, condições do mar e eventos de surf.

Um dos sítios preferidos dos turistas em Portugal. Fonte:Badalonasurfers.com
Um dos sítios preferidos dos turistas em Portugal.
Fonte: Badalonasurfers.com

Depois de ter feito história na Nazaré ao ter apanhado a maior onda do mundo, Garrett McNamara volta a surpreender. Desta vez, deixou as ondas gigantes para surfar uma onda de meio metro. Mas não é uma onda qualquer. Chama-se gasoline, é formada pelos catamarãs que passam no rio Tejo e pode atingir os 150 metros de comprimento.

José Ferreira a descolar alto. Fonte: Mbasic.facebook.com
José Ferreira a descolar alto
Fonte: Mbasic.facebook.com

É já este sábado que Carcavelos volta a receber o “Cascais surf à noite”. Com novas aquisições, esta edição tem tudo para ser a melhor desde que se iniciou. Desfiles de moda, competições de skate e demonstrações de slackline são algumas das novidades. Mas focando agora o evento principal, o “Cascais surf à noite” é no fundo uma demonstração de tow-out onde surfistas como Vasco Ribeiro, Zé Ferreira e Frederico Morais vão dar um espetáculo de aéreos. O essencial nesta noite serão os holofotes gigantes, para iluminarem as ondas de Carcavelos e proporcionarem a melhor sessão de surf à noite de sempre.

Juventus 0-0 Benfica: 1 de Maio de 2014, Epopeia de Turim

Terceiro Anel

Simplesmente incrível aquilo que o Benfica fez esta noite. No terreno de uma fortíssima Juventus apoiada pelo seu público, num ambiente tremendamente adverso, acabando a partida com nove unidades em campo, a equipa portuguesa logrou atingir, pela segunda época consecutiva, uma final da Liga Europa.

O Benfica entrou muito bem no desafio, conseguindo trocar a bola com qualidade, pondo assim em respeito a equipa da Juventus, que encarou esta eliminatória como se de favas contadas se tratasse. Porém, com o decorrer da primeira parte, o conjunto italiano foi empurrando os encarnados para o seu último reduto, mas mesmo assim não conseguia criar grandes oportunidades de golo. Foi à beira do intervalo que a Juventus esteve mais perto de marcar, mas Luisão (mais uma enormíssima exibição do capitão do Benfica!) salvou a equipa com um excelente corte de cabeça, em cima da linha de golo. De referir algum desacerto defensivo de Markovic, nos primeiros 45 minutos, desacerto esse que acabou por causar acrescidos problemas a Maxi Pereira, que teve pela frente um sempre explosivo Pogba.

A chuva apareceu na segunda parte, e em grande quantidade, mas o estoicismo e garra encarnados não desapareceram. Bem pelo contrário! Exceptuando um livre directo de Pirlo, raramente a Juventus criou oportunidades para marcar. E, de facto, o que torna ainda mais épica esta exibição do Benfica é a forma como o conjunto se aguentou, depois da expulsão de Enzo Pérez aos 67 minutos. Com uma total coesão e grande capacidade de entreajuda, a equipa orientada por Jorge Jesus foi sustendo os ataques da equipa bianconera.

Nos últimos minutos, e quando os nervos já imperavam, Ezequiel Garay teve de sair de campo, depois de ser violentamente atingido na face por Pogba, de uma forma involuntária. Benfica com nove jogadores, nove heróis, nove guerreiros. Compensação quase interminável, adeptos italianos incrédulos, elementos da Juventus a pagar bem caro a arrogância evidenciada ao longo dos últimos dias. E depois, enfim, o momento mais ansiado: apito final, 10ª final europeia da história do Sport Lisboa e Benfica, festa entre toda a equipa e os cerca de dois mil adeptos encarnados que marcaram presença em Turim.

Jornada de sonho do Benfica, em Turim. Fonte: Abola.pt
Jornada de sonho do Benfica, em Turim
Fonte: Abola.pt

Como marca negativa, o facto de o Benfica não poder vir a contar com Enzo Pérez, Salvio e Markovic, para a final de 14 de Maio, neste mesmo estádio. Contudo, uma final é sempre uma final, e a equipa portuguesa é a favorita para o jogo decisivo, que será disputado frente a uma boa equipa do Sevilha.

Uma coisa é certa: este Benfica está a viver uma das mais bonitas fases do seu historial. Está em três finais, pode ganhar tudo, tem encantado milhões de adeptos, e merece ser feliz, depois de tanto azar vivido nos últimos anos. E depois temos este lado mágico do futebol que o torna um desporto tão apaixonante: a poderosa Juventus, do alto do seu pedestal, a ser eliminada por um transcendente Benfica, que conta com um plantel de sonho, mas que afinal de contas é uma equipa de Portugal, país sempre demasiadamente desrespeitado pelas instâncias futebolísticas internacionais.

Parabéns, Sport Lisboa e Benfica; parabéns, nação benfiquista; parabéns, Portugal.

A Figura
Jorge Jesus – Depois da contestação de que foi alvo na época passada, o técnico amadorense está a viver uma temporada de sonho, e com todo o mérito. Superou várias tormentas, más exibições, lesões, vendas, e acabou por guiar o Benfica a uma fantástica temporada, independentemente daquilo que aconteça nas três finais que aí vêm.

Fora-de-Jogo
Arrogância italiana – Completo mau perder da Juventus, que nunca esperou não disputar a final da Liga Europa, que ainda para mais se irá realizar no seu estádio. Análise de jogo simplesmente patética de Antonio Conte, que parece ser a única pessoa neste planeta que acha que a sua equipa foi prejudicada pela arbitragem durante esta eliminatória.

O segundo melhor jogador português

Ze Pedro Mozos - Sob o Signo do Leao

William Carvalho é, na minha modesta opinião, o melhor jogador a jogar em Portugal neste momento. Não será difícil de reconhecer, caro leitor, a legitimidade desta afirmação. Pode concordar-se ou não, mas é fácil de entender que esta distinção que livremente atribuí ao jogador do Sporting tem fundamento. Se alguém duvidar basta ir consultar o número de prémios individuais que o jovem de 22 anos já recebeu no decorrer da presente temporada. Para além disso, a regularidade apresentada pelo médio é algo de louvar: não há nenhum jogo em que não tenha sido eleito ou reconhecido como um dos melhores em campo, chegando por inúmeras vezes a ganhar mesmo essa distinção. Mas a regularidade não é o único factor que o distingue dos restantes jogadores do nosso campeonato: a qualidade técnica e a simplicidade com que resolve cada lance são admiráveis para qualquer jogador, sobretudo se o jogador que as possui tiver apenas 22 anos; o posicionamento táctico é irrepreensível e quase incomparável a nível nacional; o seu estilo de jogo, sempre pautado pela calma e segurança com que disputa cada partida sem nunca fraquejar, faz de William Carvalho um jogador de características peculiares e únicas no nosso campeonato.

William Carvalho é também o segundo melhor jogador português actualmente. Fácil será perceber que o primeiro lugar é defendido pelo melhor jogador do mundo. No entanto, pode não ser tão simples reconhecer que o segundo lugar pertence ao médio-defensivo do clube leonino. Mas repare, caro leitor, não só nas características que em cima enunciei, mas também nos outros possíveis candidatos a ocupar esta vaga. Olhemos para Pepe, Fábio Coentrão ou Tiago, por exemplo. Escolhi estes três jogadores por serem, para além de Cristiano Ronaldo, aqueles que estão a jogar futebol profissional ao mais alto nível nesta altura da temporada. A meu ver, apesar de reconhecer que são todos jogadores de altíssima qualidade, nenhum destes três profissionais tem tantas qualidades reunidas como tem William Carvalho. Nenhum deles fará uma diferença tão grande em nenhuma equipa como faz e fará o jovem jogador leonino.

William Carvalho, formado no clube, é o melhor jogador da equipa e só deve sair pelo valor da cláusula de rescisão  Fonte: ZeroZero
William Carvalho, formado no clube, é o melhor jogador da equipa e só deve sair pelo valor da cláusula
Fonte: ZeroZero

Posto isto, qual deverá ser a posição do Sporting perante as eventuais investidas por William Carvalho ao longo do próximo Verão? Pois bem, aquilo que eu acho que Bruno de Carvalho, cujo trabalho tem sido impecável e incontestável, deverá fazer é tentar segurar o médio português, só o deixando sair caso o clube que o quiser levar esteja disposto a pagar a cláusula de 45 milhões que blinda neste momento a jovem promessa do Sporting. Bruno de Carvalho sempre se pautou por um enorme rigor financeiro, por isso não me admiraria que o presidente do clube leonino seguisse a posição de que sou defensor.

E perguntará o meu leitor por que razão ou razões defendo esta opção. E a resposta mais simples é: porque é aquela que traz mais benefícios. Não acredita? Então veja: se o Sporting vender William Carvalho pela cláusula de 45 milhões de euros, o benefício económico é evidente, sobretudo se se tiverem em conta os mais de oito milhões de euros com que o Sporting já vai contar devido ao facto de ter garantido o acesso directo à fase de grupos da Liga dos Campeões; se o clube leonino segurar o astro português (sim, já o considero um astro) não tenho dúvidas de que a próxima época terá um Sporting a praticar um futebol de uma qualidade extraordinária, sendo William Carvalho um dos principais rostos, senão mesmo o principal, desse Sporting 2014/2015.

Seria para mim uma honra poder contar com William Carvalho no clube do meu coração por mais uma temporada, mas sei que se houver uma decisão em sentido contrário, essa terá sido sempre a melhor solução para o Sporting. Nesse caso, a substituição do médio português seria algo que me preocuparia, mas confio no trabalho de Bruno de Carvalho e de Leonardo Jardim e acredito que o Sporting terá um substituto que, ainda que não seja tão bom jogador como William Carvalho, seja um bom trinco e que imprima uma qualidade necessariamente diferente ao futebol dos leões.

Será inevitável vermos, daqui a poucos anos – ou até, quem sabe, meses -, este jovem médio português a jogar e a encantar nos principais clubes europeus. Por tudo isto, o meu caro leitor não achará estranho que eu sonhe com a possibilidade de ver William Carvalho a jogar e encantar durante mais um ano mas, desculpem-me o egoísmo, no meu clube.

Ayrton Senna: a Lenda Imortal

cab desportos motorizados

Há 20 anos viveu-se o fim-de-semana mais trágico de que existe memória na F1. Morreram o austríaco Roland Ratzenberger e o brasileiro Ayrton Senna.

Senna ainda hoje é considerado por muitos o melhor piloto de sempre de F1. Os seus três títulos de campeão mundial assim o ajudam a coroar e, se não tivesse tido aquele fatídico acidente, talvez mais alguns teria.

O piloto brasileiro é relembrado com emoção em todo o mundo mas, por falar a nossa língua e por ter obtido a sua primeira vitória na F1 em Portugal, na temporada de 1985, é um dos pilotos que mais carinho mereciam e merecem no nosso país, sendo mesmo recordado por quem não acompanha a modalidade.

A 1 de maio de 1994, o mundo chorou quando Senna seguiu em frente na curva Tumburello, no circuito de Ímola, em São Marino, e perdeu a vida.

Ayrton Senna é, e sempre será, uma das maiores figuras da F1 e do desporto mundial, e estes 20 anos sobre o seu desaparecimento apenas fazem provar isso.

Anthony Lopes: Baliza francesa com sotaque português

ligue 1

Pouco se fala, não sendo muitos os que o conhecem, de Anthony Lopes, o guarda-redes português que toma conta das redes do Lyon. Mas a verdade é que o jogador tem dado muitos argumentos para que dele se fale…

Esta tem sido uma época atípica para o Lyon. Habituado aos grandes palcos europeus e a lugares cimeiros da Liga Francesa, o clube francês contou esta época com uma fraca participação na Liga dos Campeões, uma ida até aos quartos-de-final da Liga Europa e, até ver, um quinto lugar no campeonato francês. Os culpados podem ser muitos, mas decerto que não é o seu guarda-redes. Anthony Lopes tem apenas 23 anos e em França não passa despercebido. Está em grande forma e este ano conta com algumas grandes exibições, tendo sido mesmo o salvador do Lyon em muitas ocasiões.

O jovem, de descendência portuguesa e proveniente dos escalões de formação do Lyon, tem vindo a marcar terreno no clube francês desde a saída de Hugo Lloris. Da época 2012/2013 para a presente temporada conseguiu afirmar-se como titular indiscutível no onze de Rémi Garde. E que boa aposta que tem sido!

Fonte: golodeplaca.blogspot.pt
Fonte: golodeplaca.blogspot.pt

Em Portugal, apenas os ouvidos mais atentos já ouviram falar de um jovem português que defende as cores de um grande clube europeu, habituado a jogar contra os melhores. Na minha opinião, a época de afirmação de Anthony Lopes é também um forte argumento para ir ao Brasil. Rui Patrício deve ser certo nas redes de Portugal, mas outras duas vagas ficam por preencher: Eduardo, Ricardo, Beto e Anthony Lopes são as opções. Eduardo já não é o mesmo guarda-redes. Depois da passagem pelo Génova, notou-se uma descida de rendimento do internacional português. Ricardo conta com uma grande época pela Briosa e também poderá ser uma boa aposta para Paulo Bento. Beto defende as redes do Sevilha. A equipa espanhola está a fazer uma boa época, contando com um quinto lugar na Liga Espanhola e com as meias-finais na Liga Europa, e ainda pode vir a conquistar o título da Liga Europa e o quarto lugar na Liga Espanhola. Todos eles oferecem bons argumentos a Paulo Bento. Na minha opinião, acho que está na altura de dar um ar novo às redes nacionais. Anthony Lopes é jovem, mostra que ainda pode crescer mais e seria, sem dúvida, uma das minhas apostas para defender as balizas de Portugal no Mundial deste ano. É pena que talentos nacionais passem tão despercebidos a um país que lá fora conhece Cristiano Ronaldo e pouco mais…

Antevisão: Fase Final II, Divisão Feminina

cab Volei

Nos dias 2, 3 e 4 de Maio terá lugar no pavilhão da Escola Fontes Pereira de Melo, no Porto, a fase final da II Divisão feminina, que irá apurar o campeão nacional e consequentemente o clube que subirá à elite do voleibol nacional.

Neste fim-de-semana que passou tivemos a disputa entre o CV Lisboa (3º classificado da série continental) e o CS Madeira (representante da Região Autónoma Madeira) pelo último lugar disponível nessa fase final, sendo que Boavista FC (1º classificado da série continental), P.E.L (2º classificado da série continental) e Clube K (representante região da autónoma Açores) já tinham lugar assegurado. Foi um Play-Off sem história; o CV Lisboa venceu os dois jogos pela margem máxima (3-0), rodando quase a totalidade do plantel. Era mais forte, tinha mais ritmo competitivo e cumpriu a sua obrigação. Uma palavra para o CS Madeira, que fez o que podia mas que claramente é bem diferente do clube que foi campeão e habitual da I Divisão do voleibol nacional num passado recente. Votos de um rápido regresso à elite do voleibol português.

Dito isto, fica o que penso de cada equipa para esta fase final, adiantando que me parece a mais equilibrada dos últimos 5 anos!

cvlisboa
Fonte: www.cvoleibollisboa.pt/

 

CVL – Centro de Voleibol de Lisboa
A equipa de Lisboa chega a esta fase pelo segundo ano consecutivo mas é uma equipa diferente. A direcção apostou num treinador (João Correia) que já ganhou esta divisão várias vezes com clubes diferentes (Técnico, CVO, Lusófona) e reforçou-se com jogadoras que, apesar de jovens, têm imensa qualidade e já foram campeãs nacionais (Sara Serrano, Rita Mira, Mariana Veiga, Maria Palma e Sara Junqueira). Salientar também a prestação, até agora, de Joana Gonzalez – nota-se a evolução que esta equipa técnica trouxe ao seu jogo e está uma jogadora mais confiante. Mantendo a sua explosividade, o seu talento natural diminuiu os erros e tem hoje mais e melhores opções. Quanto às aspirações da equipa, acho que podem ganhar mas não são os principais favoritos, o que pode ajudar. A última vitória, frente ao Boavista, foi também a prova de que num bom dia podem bater qualquer equipa.

PEL
Fonte: Facebook do PEL

PEL – Pedro Eanes Lobato
A equipa da margem Sul vem em crescendo. Começou o ano a perder para o outro candidato de Lisboa (CVL), mas a partir de determinada altura passou a ganhar e nunca mais cedeu qualquer jogo. O facto de nunca ter ganho um set ao Boavista pode pesar psicologicamente na equipa quando enfrentar as panteras. Esta é talvez a equipa mais experiente das quatro (Ana Sofia André, Mª Céu, Mónica Junqueira e Tatiana Santos conferem não só a qualidade mas também a experiência de quem já passou por bastantes fases finais). Juntando a estas jogadoras temos Patrícia Brazinha e Joana Caldas, que representam a melhor vaga da formação da região nestes últimos anos. Em termos de aspirações, tem de ser considerado candidato, principalmente pelos resultados apresentados e pelo conjunto de jogadoras à disposição. O facto de jogar o primeiro jogo (sexta-feira) contra o Clube K (equipa com menos ritmo competitivo) pode ajudar.

boavista
Fonte: boavista.blogspot.pt

Boavista F.C.
Jogando com o factor casa (público sempre muito ligado a este histórico da modalidade) e sendo 1º classificado da série continental (desde cedo garantiu a presença nesta fase final e pode gerir todas as variáveis), um histórico da modalidade e crónico candidato à subida nos últimos anos, tem de ser considerado o maior candidato ao título. Tem falhado precisamente nesta fase e o clube está muito envolvido em chegar de novo à I Divisão. Com uma equipa muito alta, a dupla Machado e Nuno Costa dá garantias de que o Boavista chegará forte. A pressão de ser o maior candidato pode ser um factor desfavorável.

Fonte: clubek-voleibol.blogspot.com

Clube K
Desde que desceu da I Divisão, tem também sido o crónico representante dos Açores. Normalmente apresenta algumas jogadoras brasileiras, o que confere uma qualidade superior, e nunca pode ser posto de parte da luta pelo título. 20 jogos, 20 vitórias, 60 sets ganhos e apenas um sofrido na série Açores são um excelente cartão de visita, mas significam também que a equipa açoriana “passeou” nessa fase e que chegará com um ritmo naturalmente diferente do das suas adversárias continentais.

Resumindo, será certamente uma fase final equilibrada, competitiva e emocionante! Para terminar, aqui fica o cartaz do fim-de-semana.

Cartaz  Fonte: FPV.pt
Cartaz
Fonte: FPV.pt

Chelsea 1-3 Atlético de Madrid: os colchoneros vêm a Lisboa!

Está decidido: a final de Lisboa vai ter duas equipas de Madrid. Depois do nulo registado na primeira mão, o Atlético de Madrid foi esta noite a Stamford Bridge derrotar o Chelsea de Mourinho por 3-1 e volta a uma final da Liga dos Campeões quarenta anos depois.

Perante as ausências de Lampard e Mikel (suspensos) e a impossibilidade de utilizar Matic e Salah nas competições internacionais, Mourinho escalou um onze pouco ortodoxo na tentativa de manter a coesão defensiva exibida na semana passada: Schwarzer na baliza; Ivanovic, Cahill, Terry e Cole na defesa; David Luiz e Ramires num duplo pivot; Azpilicueta (!) como extremo direito, Hazard na banda oposta, Willian a dez e Torres na frente. Do outro lado, Simeone apresentou a defesa habitual – Courtois, Juanfran, Miranda, Godín e Filipe Luís -, formou um duplo pivot com Mário Suárez e o capitão Tiago (no lugar do habitual capitão Gabi, castigado); e lançou Arda Turan sobre a direita, Koke sobre a esquerda e Adrián como “vagabundo” no apoio a Diego Costa.

As duas equipas entraram mais preocupadas em não sofrer golos do que em marcar, cautelosas e disciplinadas, e quando o relógio marcava meia hora de jogo o número de oportunidades reduzia-se a uma para cada lado – Koke, aos 4’, atirou à barra num cruzamento-remate e David Luiz, aos 23’, ameaçou Courtois com um pontapé de bicicleta na sequência de um lançamento longo de Ivanovic.

David Luiz, num pontapé acrobático, tentou surpreender  Fonte: UEFA
David Luiz, num pontapé acrobático, tentou surpreender
Fonte: UEFA

O Chelsea tinha mais bola mas atacava de forma lenta e dependente da genialidade de Hazard, sempre muito bem vigiado. Na verdade, o ataque dos blues procurava sempre o lado esquerdo porque Azpilicueta denotava dificuldades em adaptar-se ao seu novo habitat. Incumbido de várias missões ao mesmo tempo – ora aparecia aberto sobre na direita, ora se juntava a Torres entre os centrais, ora dobrava as investidas de Ramires -, o habitual lateral esquerdo mal se viu. Por seu turno, o Atlético, sempre com os laterais muito subidos e com gente dinâmica e criativa na frente – Arda Turan (muito marcado), Koke, Diego Costa e Adrián (o mais apagado) – saía sempre a jogar com mais verticalidade e procurava penetrar na defesa contrária com mais velocidade.

Aos 35’, o primeiro golo chegou. E foi do Chelsea. Ivanovic viu Willian a desmarcar-se de uma ponta à outra da área e endossou-lhe o esférico, o brasileiro, pressionado por dois homens, descobriu Azpilicueta a entrar no espaço e o espanhol cruzou para o compatriota Torres, no meio da área, atirar para o fundo das redes. Pouco depois, Adrián “penteou” a bola para as mãos de Schwarzer num livre de Koke – um prenúncio do que estava para vir. É que o mesmo Adrían acabaria por marcar ainda antes do intervalo: Tiago descobriu Juanfran sobre a linha, fez um passe picado sobre a defesa do Chelsea, o lateral cruzou em esforço e Adrián rematou cheio de intenção para o 1-1.

No segundo tempo, o jogo foi mais vivo porque o Atlético subiu as suas linhas, pressionou mais alto, foi mais intenso e circulou a bola com mais paciência. Koke trocou de ala com Turan, ajudou a anular Hazard e o Atlético acabou por chegar ao segundo aos 54’, num penalty ganho e convertido por Diego Costa. O ponta-de-lança brasileiro (e espanhol) sofreu um toque de Eto’o – acabadinho de entrar para o lugar de Cole – e, depois de algum tempo a ajeitar a bola (tanto que levou amarelo pela demora), lá pôs a sua equipa em vantagem no marcador.

Diego Costa, de grande penalidade, voltou a marcar na Liga dos Campeões  Fonte: UEFA
Diego Costa, de grande penalidade, voltou a marcar na Liga dos Campeões
Fonte: UEFA

O Chelsea reagiu, foi para cima dos colchoneros, e parecia com capacidade para reentrar na eliminatória. David Luiz, com um cabeceamento ao poste, deu esperança aos ingleses. Demba Ba entrou para o lugar de Torres, Raul Garcia substituiu Adrián e, na sequência da primeira longa troca de bola dos pupilos de Simeone em alguns minutos, o Atlético acabaria mesmo por “matar o jogo”: Tiago (novamente ele!) descobriu Juanfran com um passe teleguiado a sobrevoar a defesa adversária, o espanhol cruzou para Arda Turan e o turco, após cabecear ao ferro, encostou para a baliza na recarga: 1-3 e vida muito complicada para os londrinos.

O Chelsea sentiu o resultado e não foi capaz de esboçar uma reacção semelhante àquela que tinha tido quando sofreu o golo anterior. Diego Costa, tocado, cedeu o lugar a Sosa; Willian, que havia perdido influência no jogo da equipa com a entrada de Demba Ba (encostado à linha para que Eto’o e Demba Ba actuassem na frente de ataque, deixou de ser o cérebro), saiu para a entrada de Schürrle. Até final, nota para a entrada de Cebolla Rodíguez, que rendeu Arda Turan, e para um lance, já nos descontos, que traduziu o último fôlego dos blues: uma incursão individual de Hazard que acabou com um remate do belga, frente a frente com Courtois, a permitir ao jovem guarda-redes protagonizar uma brilhante defesa com o pé.

Todos os jogadores do Atlético estiveram a um excelente nível, mas há alguns que merecem uma palavra especial: além de Koke, porventura o principal destaque do Atlético hoje, há que realçar as exibições seguríssimas dos dois centrais – Godín e Miranda -, que Simeone transformou em dois gigantes; de Filipe Luís, que é neste momento um dos melhores laterais do mundo e pode muito bem discutir a titularidade com Marcelo na selecção brasileira; e do “nosso” Tiago, que assumiu a braçadeira com grande compromisso, encheu o meio-campo e foi essencial, tanto nos equilíbrios da equipa quanto nos golos.

Godín e Tiago, os símbolos da experiência neste Atlético  Fonte: UEFA
Godín e Tiago, os símbolos da experiência neste Atlético
Fonte: UEFA

O Atlético mostrou toda a sua fibra nesta eliminatória, foi capaz de dar a volta ao texto quando se apanhou em desvantagem e, sempre fiel aos seus princípios e à sua identidade, derrotou o Chelsea com toda a justiça. De facto, Simeone criou uma equipa na verdadeira acepção da palavra, sem grandes estrelas mas com um espírito de solidariedade e de união fantástico. Os colchoneros reveleram uma maturidade e um carácter enormes e o prémio de vir disputar a final ao Estádio da Luz é mais do que merecido. Foi como underdogs que chegaram à final e é com esse estatuto que entrarão em campo frente ao arqui-rival do Real, mas o nível que atingiram permite-lhes sonhar com o ceptro.

A Figura
Koke – está feito um centro-campista de mão cheia. Como disse Luís Freitas Lobo durante a transmissão do jogo na SportTV, é um médio talhado para o futebol moderno, que está em todas as fases do jogo – transição ofensiva e defensiva; organização ofensiva e defensiva. Procura a bola, procura os espaços, trata a redondinha por tu, é intenso, é rápido a pensar e a executar, é forte, é… um futebolista de eleição. O Atlético vale pelo seu colectivo, mas Koke, em particular, brilhou.

O Fora-de-Jogo
José Mourinho – se elogiei a postura do técnico português depois da primeira mão porque o Chelsea defendeu muitíssimo bem e nunca se descompôs, hoje devo dizer que a sua estratégia falhou. Com a equipa mais fresca do que a do adversário, jogando em casa e tendo forçosamente de marcar golos, a ideia colocar Azpilicueta a extremo foi um erro. O Chelsea foi mais permeável do que o adversário e não esteve, em nenhum momento da eliminatória, verdadeiramente por cima do Atlético. Exigia-se-lhe algum rasgo para resolver os problemas tácticos que o Atlético lhe impunha e não o teve.

O Benfica das finais

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paixaovermelha

Depois de garantida a presença nas finais da Taça da Liga e da Taça de Portugal, o Benfica joga a cartada decisiva na Liga Europa, frente à Juventus, com vista a mais uma final, a segunda consecutiva na prova. Caso se concretize esse cenário, a equipa comandada por Jorge Jesus tem a possibilidade de, em cerca de 15 dias, jogar três finais. Três títulos! É realmente impressionante, e algo novo no universo encarnado (pelo menos nos últimos 20 anos).

É legítimo afirmar, portanto, que este Benfica é o Benfica das finais. No ano passado, a equipa comandada por Jorge Jesus disputou duas finais (Liga Europa e Taça de Portugal) e, este ano, tem garantidas mais duas (Taça de Portugal e Taça da Liga), podendo ainda disputar uma terceira (Liga Europa). Há relativamente pouco tempo, o treinador benfiquista afirmou que “as finais são para se jogar”, ao contrário que diz o “sábio povo” quando refere que “as finais não se jogam, ganham-se”. Ora, o Benfica do ano passado jogou – e muito bem, diga-se – as duas finais que disputou. Contudo, o “jogar bem” não foi suficiente para que o museu Cosme Damião fosse brindado com duas novas atrações. Ao Benfica deste ano peço, então, que, em vez de jogar, ganhe. Não será nenhum delito garantir que de vitórias morais estamos todos nós fartos. Chegou a hora de vencer.

Nas próximas semanas, o Benfica pode engrandecer o seu museu com a conquista de três troféus  Fonte: planetaslbenfica.blogspot.com
Luis Filipe Vieira e o Museu Cosme Damião podem receber mais troféus esta temporada
Fonte: planetaslbenfica.blogspot.com

Com o Campeonato Nacional no bolso, a pressão baixou consideravelmente no seio encarnado. Aliás, não duvidem, a conquista do 33º título pode ser a chave para desbloquear os restantes troféus. Entre um grupo de jogadores que respira confiança e mostra motivação para fazer história vive uma massa adepta eufórica e expectante em relação ao futuro a curto prazo. Depois de anos a fio em constante depressão, o Benfica renasce como um grande clube – com tudo aquilo a que o título obriga. As provas estão à vista de todos e o sentimento é quase palpável.

Independentemente do resultado do jogo frente à Juventus, o Benfica já disfruta de uma época de sucesso. Todavia, seria de enorme hipocrisia e falta de bom senso desvalorizar a conquista de um troféu europeu, que há tanto tempo procurámos. Honestamente, sinto-me confiante. Não importa o adversário ou o local onde jogamos: este Benfica transmite uma segurança que eu jamais senti.  Mais do que nunca, acredito no grupo, acredito no treinador, acredito na direção e acredito na mentalidade do clube. Acredito, de igual modo, que voltaremos a Turim, que voltaremos à final. E desta vez para ganhar!

P.S.: Por falar em finais, deixo aqui os meus parabéns ao Real Madrid, que carimbou, frente ao Bayern de Munique, uma merecida passagem à final da Liga dos Campeões desta temporada. É justo que o melhor jogador do mundo esteja presente no melhor estádio do planeta.