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Portugal-EUA: Que fazer?

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Penso ser unânime a opinião de que Paulo Bento falhou redondamente na abordagem ao jogo contra a Alemanha. É também minha convicção pessoal que o seleccionador errou igualmente na convocatória que fez, levando jogadores que pouco se destacaram e abdicando de atletas que se exibiram a grande nível. Seja como for, tudo isso agora é passado, e não quero ser mais uma pessoa que critica tudo e todos a posteriori. Face a todas as condicionantes que resultaram do primeiro jogo (lesões, más exibições, expulsão de Pepe e a habitual descrença que uma goleada provoca), ofereço a minha visão daquilo que seriam as melhores opções a tomar para o encontro de hoje com os EUA.

Justifica-se uma mudança de esquema táctico?

Na minha opinião, não. 90 minutos desastrosos não devem pôr em causa o trabalho desenvolvido nos últimos anos. E se o amigável com a Grécia serviu para alguma coisa foi para perceber que Portugal não está minimamente preparado para jogar em 4-4-2. Poderá fazê-lo em caso de necessidade, mas não como plano A. Dito isto, o que a meu ver se justifica, muito mais do que o abandono do 4-3-3, é a rectificação de quase tudo o que se fez contra a Alemanha, nomeadamente a nível posicional. Os erros clamorosos da selecção portuguesa estão bem explícitos nesta página (sobretudo nas imagens, mais ainda do que no texto).

Quem deve assumir as redes da selecção?

Em circunstâncias normais Patrício devia continuar. Não se pode querer fazer do guarda-redes o maior alvo de críticas num jogo em que todos jogaram pessimamente. Patrício fez um dos piores jogos da sua carreira, é verdade. Mas não merece servir de bode expiatório, sobretudo porque só tem culpas evidentes no último golo alemão e, ainda assim, não no lance em si – a bola era mais difícil do que se diz, quem já foi guarda-redes sabe do que falo – mas sim no pontapé rasteiro que originou a jogada. Contudo, a lesão – partindo do princípio de que existe mesmo – impede-o de actuar. Assim sendo, a aposta mais segura é Beto: um guarda-redes que está motivado após uma das suas melhores épocas a nível individual, coroada com a conquista da Liga Europa. Não havendo Patrício, a escolha é clara.

Face à ausência de Pepe, qual a melhor dupla de centrais?                               

Partindo do princípio de que Bruno Alves não terá uma recaída da sua lesão, penso que o melhor será uma dupla entre ele e Neto. Ricardo Costa é mais experiente mas o jogador do Zenit complementa melhor Bruno Alves, uma vez que é um atleta mais ágil e mais capaz nas dobras. As suas boas exibições pela selecção até ao momento também dão confiança.

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Numa selecção demasiado dependente de Ronaldo, o contributo do melhor jogador do mundo é fundamental. Será que o extremo já ultrapassou definitivamente a lesão?
Fonte: Fifa.com

Será André Almeida a opção certa para substituir Coentrão?

É evidente que não, mas não é menos evidente que é por ele que Paulo Bento vai optar. A convocatória deste jogador foi incompreensível do ponto de vista desportivo, não só porque ele apenas começou a jogar em Abril mas também porque tinha, pelo menos, três laterais claramente à sua frente: Antunes, Cédric e Miguel Lopes (e ainda Sílvio, que se lesionou). De tanto se temer o facto de só haver João Pereira para a direita (e não era verdade, porque também há Ruben Amorim – a capacidade de jogar a defesa-direito foi inclusivamente um dos argumentos que pesaram na hora de o chamar em 2010), acabou por não se questionar muito a ausência de Antunes, uma vez que André Almeida seria, alegadamente, uma boa solução de recurso para as duas laterais.

O problema é que, ao segundo jogo, o recurso passou a ser necessário. E André Almeida não é de todo a opção mais óbvia para uma partida decisiva. A segurança defensiva – o seu ponto forte – ainda não apareceu na selecção: contra a Irlanda entrou muito nervoso e contra a Alemanha repetiu a dose, dividindo com Patrício as culpas no quarto golo e tendo ficado a milímetros de fazer um penálti por mão na bola. A nível ofensivo, receio que não se consiga soltar tanto como Portugal precisa. É certo que estou a torcer por uma grande exibição de André Almeida, mas manteria a minha opinião mesmo se fosse dele o eventual golo da vitória. Penso, portanto, que Veloso é uma solução mais sólida. Apesar de não ser rápido, tem mais experiência, é canhoto, conhece a posição tão bem ou melhor do que Almeida e oferece à equipa a vantagem de bater bolas paradas.

Qual o meio-campo que deve actuar?

Com a derivação de Veloso para defesa-esquerdo, o trio do meio-campo seria óbvio: William Carvalho mais recuado (seria a sua prova de fogo, porque tem ainda pouca experiência internacional e jogar num Mundial não é igual a jogar no campeonato português), João Moutinho e Raul Meireles. Este último está em clara quebra física, mas é ainda um jogador capaz. Terá, contudo, de ligar o meio-campo e o ataque de forma muito mais eficiente do que no jogo inaugural. Já Moutinho, talvez o jogador mais nuclear a seguir a Ronaldo, precisa de exibir-se ao nível a que nos habituou: exige-se lhe critério no passe e inteligência nas decisões. Num jogo em que Portugal vai ter muita bola, todos os lances de ataque organizado terão de passar pelos seus pés, pois é ele quem melhor define as jogadas.

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Miguel Veloso e William Carvalho: o primeiro a lateral-esquerdo, o segundo a médio defensivo – seria este o maior garante de sucesso para a selecção
Fonte: miamiherald.com

O que fazer com Ruben Amorim?

Ora aqui está uma opção válida e verdadeiramente polivalente. Não chega jogar em várias posições, é preciso fazê-lo bem, e Amorim pode ser solução para vários postos (mesmo a lateral-esquerdo a sua entrada no onze seria mais compreensível do que a de André Almeida). Não acho que se justifique colocá-lo a titular – isso significaria a saída de Meireles e o jogador do Fenerbahçe encaixa melhor no futebol de ataque que Portugal terá, forçosamente, de mostrar frente aos EUA. Mas o atleta do Benfica é, sem dúvida, uma boa opção para segurar o meio-campo durante a segunda parte, caso se justifique.

E qual o trio atacante a utilizar frente aos EUA?

Não sou um particular apreciador das qualidades de Hélder Postiga, que vem de uma época complicada. Mas, para este jogo, apostaria nele. Hugo Almeida está lesionado e, contra a Alemanha, nem ele nem Éder conseguiram segurar a bola e permitir a penetração dos extremos. Postiga não é um goleador mas está mais rotinado nessa função de servir os companheiros. Caso seja necessário, Éder é sempre um jogador a ter em conta para lançar na segunda parte, uma vez que a sua envergadura física sobrecarrega as defesas. Quanto aos extremos, Ronaldo e Nani estão de pedra e cal. Uma excessiva concentração do adversário na marcação ao primeiro pode contribuir para que o segundo se liberte.

Uma outra solução seria colocar Varela à esquerda, Nani à direita e Ronaldo mais solto no meio. Por um lado seria uma alternativa a considerar mas, por outro, perder-se-ia a tal referência no centro – se Ronaldo jogasse fixo seria mais facilmente anulado e, se viesse de trás tal como gosta, não teria ninguém com quem combinar, para além de que levaria com os dois centrais e ainda com os dois pivots defensivos norte-americanos.

O meu onze seria, portanto, algo do género:

ptfinal

É preciso ter a noção de que, na partida frente à Alemanha, tudo o que podia ter corrido mal correu, de facto. Duvido que isso se repita. Mas, se defendo que não se deve colocar tudo em causa, também sou da opinião de que qualquer resultado e exibição positivos terão de passar pela correcção de quase tudo o que se passou no primeiro jogo: maior rigor defensivo, mais critério ao nível do posicionamento com e sem bola, maior exploração das alas (com a consequente subida dos laterais), apresentação de um futebol fluido e, sobretudo, muita paciência. Portugal é melhor do que os EUA, mas vai ter de prová-lo em campo. Não pode mastigar o jogo em demasia mas também não se pode precipitar. Acredito que esta selecção continua a ser favorita para garantir a passagem à fase seguinte. Nada está perdido, apesar das várias decisões discutíveis que têm sido tomadas.

Açores vs Madeira

cab desportos motorizados

No fim de semana passado, ambos os arquipélagos portugueses tiveram provas para o seu regional. Nos Açores, a prova decorreu na ilha do Faial, no Rali Ilha Azul Além Mar, e foi ganha por Ricardo Moura; na Madeira, a prova foi na ilha da Madeira, com o Rali da Calheta a ser ganho por Alexandre Camacho.

A grande diferença destes campeonatos é a qualidade das máquinas presentes. Nos Açores, o carro máximo é o Mitsubishi EVO IX, um carro fiável mas já com vários anos. Na Madeira, o nível é muito mais alto a nível de carros; durante os vários anos de EVO IX dos Açores já tivemos na Madeira o tempo dos S2000, passagem para o EVO X e agora dos GT. São neste momento cinco os Porsche 997 GT3 que correm no campeonato da “Pérola do Atlântico”. É bem verdade que este tipo de carro seria muito mais difícil de pôr a correr nos Açores, visto que ao contrário da Madeira o campeonato é misto, ou seja, com provas em asfalto e em terra, mas também é verdade que existiriam outras opções para melhorar um parque automóvel açoriano cada vez mais reduzido devido à falta de apoios.

Apesar desta diferença a nível de valor de máquinas, a nível de pilotos o contraste não é assim tão evidente. Se formos a avaliar apenas a atualidade vemos que dois dos principais pilotos portugueses são das ilhas: temos Ricardo Moura, que é tricampeão nacional de ralis, e Bernardo Sousa, que é o único piloto nacional a correr no Mundial (WRC2) que já foi campeão nacional em 2010 (os últimos quatro anos tiveram vencedores das ilhas), sendo que o ano passado os dois pilotos lutaram entre si pelo título. Num passado mais recente tivemos também Gustavo Louro e Horácio Franco, ambos açorianos, a fazerem boas provas no nacional de ralis, e o madeirense Vítor Sá também conseguiu alguns bons resultados nas provas de asfalto.

Os ralis são das melhores formas de mostrar as belezas das ilhas Fonte: 16valvulas.files.wordpress.com
Os ralis são das melhores formas de mostrar as belezas das ilhas
Fonte: 16valvulas.files.wordpress.com

A nível de provas em si cada ilha tem a sua de destaque. Nos Açores, o SATA Rally Açores – disputado no mês passado – é uma das provas principais do Europeu neste momento. Na Madeira, o Rally Vinho Madeira também é reconhecido como um grande rali, mas nos últimos anos tem visto a qualidade das suas listas de inscritos reduzir, pois saiu do Europeu, o que fez com que vários pilotos de renome deixassem de lá passar.

O título do meu texto desta semana pode fazer parecer que vou dar uma resposta entre quem é mais forte, a nível de rali, entre os dois arquipélagos portugueses, mas eu não vou dar essa resposta – apenas pretendo demonstrar um pouco o que se passa pelas ilhas. Apesar de tudo, cada um é livre de o fazer nos comentários.

Nigéria 1-0 Bósnia: Estereótipos trocados

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O RESCALDO

A Nigéria voltou a ganhar num campeonato do Mundo, curando uma sede de vitórias que dura desde 1998 ao derrotar a Bósnia por 1-0 no Arena Pantanal, colocando-se numa situação privilegiada no que à qualificação para os oitavos-de-final diz respeito – basta-lhe empatar com a Argentina ou esperar que o Irão não ganhe à Bósnia para conseguir um feito que não é conseguido desde a última vitória das Super Águias em Mundiais.

O lance do golo que sentenciou o encontro foi ilustrativo daquilo que se passou durante os 90 minutos: Emenike “troca” Odemwingie e faz de extremo, explorando a lateral esquerda adversária com a velocidade, a força e o querer que só assistem aos  audazes para assistir o companheiro que permutara com ele, de forma a que este inaugurasse o marcador.

Esta jogada foi o espelho perfeito do que aconteceu no encontro entre africanos e europeus, no Arena Pantanal: uma força de vontade e uma agressividade dos primeiros a varrer completamente a apatia dos segundos.

A Bósnia pareceu reagir bem ao golo consentido, chegando de forma consequente à àrea adversária nos últimos 15 minutos da primeira parte, mas isso não foi transportado para a segunda, que revelou uma formação com muito pouco critério na sua construção ofensiva e com uma estranha apatia e até desinteresse que, normalmente, não assiste a estreantes em Campeonatos do Mundo, focados que estão em brilhar para mostrar o seu valor e fazer contar cada minuto disputado no maior certame futebolístico. Vai contra aquilo que é normalmente pré-estabelecido, os chavões, os clichés do futebol…

… tal como, aliás, este encontro o foi, revelando uma Nigéria muito bem organizada defensivamente, assumindo um rigor tático impressionante  para uma seleção africana, a quem costumam ser associadas displicências posicionais e ataque sem critério… um pouco à imagem do que foi a Bósnia de Dzeko, Pjanic, Misimovic e companhia, que nunca conseguiram levar verdadeiro perigo às redes contrárias durante a segunda parte em ataque organizado, com excepção à bola que Dzeko atirou ao poste já nos descontos.

Fica, deste encontro, uma lição de que os estereótipos futebolísticos nem sempre são fiáveis e que, felizmente, o futebol ainda pode surpreender, revelando seleções completamente distanciadas da zona geográfica de origem.

Fonte: FIFA
A Nigéria está próxima dos oitavos-de-final da competição
Fonte: FIFA

A Figura:

Emenike – O cabecilha de um grupo terrorista será sempre o mais procurado. Emenike foi, por esse, prisma, o inimigo público nº1 da Bósnia durante 90 minutos. Apesar de, no desenho tático que apareceu nos ecrãs de televisão, ser o ponta de lança da Nigéria, foi muitas vezes o organizador do ataque das Super-Águias, vindo buscar jogo atrás ligeiramente descaído para o lado direito, onde fez, com Odemwingie uma dupla temível, assistindo o colega para um golo e criando as principais situações de perigo da sua selecção.

O Fora-de-Jogo:

Apatia bósnia –  A forma como a Bósnia se apresentou no segundo tempo foi aquilo que mais desiludiu ao longo de todo o encontro. De jogadores criativos como Misimovic ou Pjanic e de futebolistas explosivos como Dzeko ou Ibisevic seria de esperar rasgos individuais que tornassem a noite futebolística de Sábado mais apelativa.

Alemanha 2-2 Gana: Um empate com sabor amargo para os africanos

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O RESCALDO

Com um onze igual ao mesmo que defrontou (e goleou) Portugal, a poderosa Alemanha enfrentou hoje a actual melhor selecção africana: Gana. Uma selecção remodelada, “europeizada” e com um grande rigor táctico. Curiosamente, foram os ganeses a entrar melhor, mandando no jogo e tentando impedir, com linhas altas, que Lahm e Khedira conseguissem pegar na bola na primeira fase de construção do futebol germânico.

Com avançados muito móveis e de difícil marcação (Ayew, Atsu e Gyan), foi o ex-portista a criar a primeira situação de real perigo, com um remate depois de um bom trabalho, ao qual Neuer respondeu com uma grande defesa. Aos poucos, e explorando o contra-ataque quase sempre conduzido por Özil, a “frieza alemã” fazia-se notar, conseguindo chegar à área adversária com três ou quatro toques na bola.

Decorridos 30 minutos o jogo estava a ser, parafraseando o comentador Luís Freitas Lobo, um “xanax táctico”. Volvido um minuto, Neuer voltou a mostrar o porquê de ser um dos melhores guarda-redes do mundo: com um voo lindo, negou o golo a Muntari, que rematou “do meio da rua”.

Uma Alemanha descaracterizada, sem os seus princípios de jogo, estava a ser domada pela teia criada pelo timoneiro ganês, com os seus jogadores a pecar apenas nos excessos de foras-de-jogo em que se deixavam ser apanhados.

Intervalo no Castelão, com muitos adeptos (principalmente os alemães) certamente a estarem tristes por terem pago bilhete para um espectáculo que de espectáculo nada teve. Jogo demasiado táctico, lento e sem pressões, apenas com o conjunto africano a dar um ar da sua graça, embora a espaços.

À entrada para o segundo tempo, o treinador alemão, Joachim Löw, tentou alterar um pouco o rumo dos acontecimentos e fez entrar Mustafi para o lugar do desinspirado (como todo o conjunto germânico) Boateng, numa tentativa de dar mais profundidade ao jogo dos europeus. Por sua vez, o seu homólogo africano manteve tudo igual, satisfeito, certamente, com a exibição e o resultado.

Contra a corrente do jogo, aos 50 minutos, Mário Götze faz, num lance algo caricato, o primeiro golo do jogo: no meio dos centrais, após cabecear a bola como “mandam as regras”, de cima para baixo, esta foi embater-lhe no joelho esquerdo e acabou por fazer o golo. Em resposta ao golo sofrido, o treinador ganês fez entrar Jordan Ayew para o lugar de Boateng. E teve resultados! Um minuto depois, no meio de Mertsacker e Mustafi (que ficaram estáticos), André Ayew cabeceou (sim, esta foi mesmo de cabeça!) violentamente para o golo do conjunto africano. Estava feito o empate e, novamente, o jogo em aberto!

SURPRESA no Castelão! Gana deu a volta ao marcador através do capitão de equipa, Gyan, depois de um fantástico passe de Muntari. Uma vez mais, má abordagem por parte da defesa alemã ao lance.

Como resposta ao golo sofrido, Löw fez imediatamente “saltar” do banco Klose e Schweinsteiger para os lugares de Götze e Khedira, respectivamente. Que banco de luxo!

Klose festeja o seu 15º golo em Mundiais Fonte: Facebook FIFA
Klose festeja o seu 15º golo em Mundiais
Fonte: Facebook FIFA

Continuavam os treinadores a acertar nas substituições, e, cerca de dois minutos depois de entrar, Klose, na sua estreia neste Mundial, fez o golo na primeira vez em que tocou na bola, a desviar a bola para a baliza após um canto, onde, uma vez mais, o Gana demonstrou fragilidades defensivas. Klose tornava-se, então, no melhor marcador de sempre em fases finais de Mundiais, igualando Ronaldo, o Fenómeno. Em 25 minutos, quatro golos… Assim sim!

Os minutos finais foram de grande intensidade, com ambas as equipais já com o meio-campo “partido” e a jogar, essencialmente, através de bolas longas para os jogadores mais frescos em campo.E assim chegou ao fim a partida no Castelão. Sinal mais para os homens africanos que conseguiram anular, devido à sua organização, uma desorganizada Alemanha.

A Figura

André Ayew – O capitão ganês fez o que quis da defesa alemã, composta, inicialmente, por quatro centrais. Jogador a ter em conta, à atenção de Portugal!

O Fora-de-Jogo

Defesa da Alemanha – Com dois golos onde a passividade do quarteto defensivo germânico foi aberrante, o empate foi um mal menor para o conjunto europeu.

Argentina 1-0 Irão: A vitória da individualidade

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O RESCALDO

Uma equipa que quer conquistar o Mundial, outra que quer aproveitar este Mundial. Argentina e Irão encontraram-se na segunda jornada. Carlos Queiroz tinha afirmado que este era o jogo mais importante e mais esperado na história do Irão.

À partida, este parecia um jogo desequilibrado. O Irão tinha mostrado algumas deficiências no ataque quando jogou com a Nigéria, e a Argentina, mesmo não apresentando um bom futebol frente à Bósnia, tem sempre individualidades que resolvem o jogo. Mas se há algo que este Mundial tem ensinado é que os favoritos nem sempre vencem.

O Irão apresentou-se como tinha de se apresentar. A defender, com linhas baixas, oito jogadores na área. É o ponto forte deste Irão, a solidez defensiva que já tinha ficado patente no jogo com a Nigéria. A Argentina tinha o controlo do jogo mas encontrava dificuldades em ultrapassar a defensiva iraniana. O Irão aproveitava as bolas paradas para chegar à área argentina mas sem grande perigo. Ainda assim, o conjunto treinado por Carlos Queiroz acabou a primeira parte a criar perigo após um cabeceamento de Hosseini. O empate ao intervalo era um resultado justo. A Argentina esbarrava na muralha iraniana. Sem ideias, sem as suas individualidades a resolverem o jogo, a Argentina teria de fazer muito mais na segunda parte. Mérito para o Irão, que fechou o caminho a Messi e companhia. Jogou como tinha de jogar, a defender, mas continuava a pecar no ataque.

A segunda parte teve três grandes oportunidades de golo. E desengane-se o leitor se pensa que foram da Argentina. Dos oito homens a defender, o Irão cresceu. Motivados pelo empate, colocaram a postura defensiva de lado e começaram a acreditar em algo mais. Mais livres, mais perigosos, os iranianos usaram o contra-ataque para assustar a Argentina. Três grandes oportunidades que esbarraram em Romero. O guarda-redes argentino foi gigante, impedindo aquilo que seria um choque enorme no Mundo do futebol. A Argentina era uma sombra do que pode fazer. Os argentinos nunca se encontraram em campo e agora viam o Irão a assustar.

Aos 55 minutos aconteceu o caso da partida. Zabaleta tentou cortar a bola e acertou em Dejagah, dentro da área, mas o árbitro nada assinalou. Mais um penálti não assinalado e, curiosamente, são sempre para o lado dos mais fracos. Se tivesse sido na outra área, teríamos ouvido o apito do árbitro. Com o tempo a passar, a Argentina pressionou mais, mas a solidez defensiva do Irão continuava forte. Mesmo cansados, os jogadores faziam tudo para impedir que a Argentina marcasse. E quando não era a defensiva iraniana, era o guarda-redes. Haghighi, que joga no Sporting da Covilhã, mostrava-se intransponível e segurava o empate. Parecia que teríamos mais uma surpresa neste Mundial. Mas enquanto o Irão vale pelo seu todo e não tem nenhuma individualidade, a Argentina tem várias estrelas, entre as quais Messi. E quem tem Messi arrisca-se a ganhar jogos, mesmo não fazendo grandes exibições. E foi isso que aconteceu. Mesmo estando desaparecido durante grande parte do jogo, Messi pegou na bola, já nos descontos, e de longe acabou com as esperanças de Carlos Queiroz em conseguir o empate, levando os argentinos para os oitavos.

Messi resolve Fonte: Facebook da FIFA
Messi resolve
Fonte: Facebook da FIFA

Um balde de água fria para o Irão e um sabor a injustiça. Os iranianos fecharam os caminhos, anularam a Argentina durante vários momentos e até tiveram as oportunidades mais perigosas do jogo. Ficou também um penálti por assinalar, que mudaria a história do jogo. O Irão pode não ter estrelas, mas tem um conjunto que luta até ao fim. Mas a Argentina tem Messi. E quem tem Messi…

A Figura:

Solidariedade iraniana – Onde estava um argentino, estavam dois ou três iranianos. Quando um falhava, outro ia corrigir. A imagem dos jogadores a abraçarem-se depois de cada corte realizado mostra bem como é esta selecção iraniana. Solidária, raçuda e com um espírito de grupo enorme. Queiroz afirmou que a estrela da equipa iraniana era a sua solidariedade e tem razão.

O Fora-de-Jogo:

Alejandro Sabella – Depois de ter falhado a abordagem no jogo da Bósnia com uma táctica estranha, hoje voltou a falhar. Demorou imenso a ler o jogo, demorou a fazer substituições e não arriscou quando tinha de arriscar. Hoje limitou-se a esperar que as individualidades resolvessem e isso aconteceu, mas quando elas não resolverem como será?

Força da Tática: A simplicidade Costa Riquenha

força da tática

A Costa Rica era apontada, de forma quase unânime, como a equipa que menos probabilidades tinha de passar a fase de grupos do Mundial 2014. Por um lado, porque se encontrava no grupo da morte com três ex-campeões mundiais – Itália, Inglaterra e Uruguai. Por outro, porque é uma equipa com pouca relevância no panorama internacional (o melhor que fez foi chegar aos oitavos de final, em 1990) e com jogadores maioritariamente desconhecidos ao comum fã de futebol europeu. Ninguém melhor, portanto, para mostrar ao mundo que a organização e o trabalho bem feito dão inquestionavelmente frutos.

Perante as palavras de Mourinho, que afirmou que a Selecção da Costa Rica não iria conseguir fazer uma outra surpresa, o técnico Jorge Luís Pinto foi esclarecedor: “Estou realmente surpreso que José Mourinho tenha dito algo assim. No início, alguns disseram que nem um ponto íamos conseguir. Sabemos que a Itália é uma seleção muito difícil de bater, mas estamos confiantes que iremos conseguir repetir o que fizemos no jogo anterior. Estamos a trabalhar na forma como podemos melhorar a nossa táctica, o jogo com bola, as transições e os erros que cometemos frente ao Uruguai. Vamos jogar ainda melhor do que fizemos frente ao Uruguai“. E, 90 minutos depois, frente a uma Selecção com o valor individual da Itália, tudo se confirmou. Melhoraram em quase todos os momentos do jogo. Sorte ou acaso? Trabalho, responde Jorge Luís Pinto.

O jogo frente à Itália, o melhor da sua história

A Itália no jogo contra a Costa Rica acabou com 11 foras de jogo. Este número revela duas coisas: a existência de uma linha defensiva irrepreensivelmente organizada pelos jogadores centro-americanos e… a incapacidade dos italianos em conseguir contorná-la. Durante a 2ª parte, período em que a Itália esteve sempre a perder, não se verificou uma única oportunidade de golo para a equipa de Prandelli. Estamos, assim, perante uma das principais qualidades desta Costa Rica: a capacidade de apresentar uma linha estável, inteligente, capaz de ajustar perante qualquer descompensação e sem medo de subir no terreno tanto quanto possível para encurtar o campo activo de jogo ao adversário. A linha em questão até é de cinco e o facto de ter mais um defesa do que é usual poderia constituir um factor de dificuldade acrescida (porque há mais um a poder errar no posicionamento), mas como se viu nestes dois jogos não é isso que se passa. Um golo sofrido (de penalty) em dois jogos, com o Uruguai e com a Itália, são dados reveladores.

Fonte: FIFA
Fonte: FIFA

Através das estatísticas oficiais divulgadas pela FIFA podemos constatar que, ao contrário do que se poderia prever, a Costa Rica aparece no Campeonato do Mundo como bem mais do que uma equipa que se limita a defender. O mesmo número de remates e apenas menos dois ataques perigosos do que a Itália são factos que ajudam a entender o sucesso deste conjunto. Mas como? Se é clara a afinação da última linha no momento defensivo, não podemos deixar de mencionar a atitude da linha do meio-campo, altamente pressionante inclusive no primeiro momento de construcção, ainda no meio-campo contrário. Se no 11 que o Uruguai apresentou no primeiro jogo não existia nenhum jogador capaz de organizar e pautar o jogo ofensivo da selecção de Suárez, na equipa italiana existia nada mais nada menos do que Andrea Pirlo. E De Rossi, e Marchisio, claro. Certo é que todos esses médios de grande qualidade não foram capazes de colocar sérias dificuldades ao adversário também devido à intensidade que o meio-campo costa riquenho exerceu. No processo defensivo há apenas a apontar a lenta adaptação à entrada de Cassano que, durante os primeiros 20 minutos da 2ª parte, conseguiu receber muitas vezes entre linhas e, assim, gerar alguns desequilíbrios. No entanto, por algum demérito da Itália, esses desequilíbrios nunca chegaram a constituir realmente perigo. A partir de certa altura um dos três centrais da Costa Rica passou a subir no terreno cada vez que Cassano descia para receber e essa correcção acabou por apagar o nº10 italiano do jogo.

No momento ofensivo, por sua vez, a destacar há sobretudo a simplicidade dos processos. É difícil ser-se assim tão simples, por mais paradoxal que possa parecer. A Itália nunca se encontrou ofensivamente porque optou sempre por caminhos complexos, de difícil exequibilidade ou por atalhos que acabavam invariavelmente por matar a jogada de forma precoce. A Costa Rica, pelo contrário, optou quase sempre pelo melhor caminho e por colocar a velocidade ideal no seu jogo. Estando claramente mais à vontade no momento da transição do que da organização, contrariou a teoria de que todas as transições têm de ser velocíssimas, verticais e exclusivamente através de passes de ruptura e no espaço. Uma transição pode perfeitamente ser feita de forma apoiada, saindo o passe de ruptura a aumentar a velocidade apenas na altura certa, quando foi descoberto espaço por explorar e/ou uma situação numérica de vantagem. De nada vale sair numa transição a toda a velocidade se não existir superioridade numérica ou espacial, pois são essas que geram os desequilíbrios. A base das transições é, aliás, a oportunidade que a perda de bola do adversário gerou e, assim, o número de jogadores da equipa contrária que se encontram desposicionados. Jorge Luís Pinto disse que ia trabalhar as transições e o resultado esteve à vista. Ora através de bolas mais longas à procura de Joel Campbell e da sua qualidade individual (o melhor jogador da sua selecção), ora através de saídas apoiadas sustentadas sobretudo por Bryan Ruiz ou Bolaños com constantes apoios frontais dos seus colegas. Sabendo bem dos seus limites, o segredo desta selecção foi ter a noção de que a simplicidade é o maior trunfo que podia usar. 

A flexibilidade táctica

Fonte: FIFA
Fonte: FIFA

Este Mundial 2014 trouxe consigo o ressurgimento de uma opção táctica em vias de extinção: os três centrais. À partida uma característica conservadora, utilizada em prol da solidez defensiva, a verdade é que os vários desenhos tácticos que utilizam os três homens mais recuados têm obtido excelentes resultados e, mais, excelentes exibições. A Costa Rica tem optado por um 3x2x4x1 com três centrais, dois laterais ofensivos (que recuam para a linha dos centrais no momento de organização defensiva), quatro médios (dois mais fixos e dois mais móveis, nas alas) e Joel Campbell, sozinho na frente, embora bem acompanhado pelos dois médios alas. A verdadeira virtude deste esquema predominantemente utilizado na América Latina é a sua flexibilidade e a forma como se desmonta em vários sub-esquemas consoante o momento do jogo praticado. Em organização defensiva geram-se duas linhas e aparece um 5x4x1 bem delineado. Pressão alta por parte da linha de quatro (mais o avançado) e colocação bem adiantada por parte da linha de cinco, de forma a evitar o espaço entre linhas (que, a meu ver, ainda é um factor que pode ser melhorado). Em organização ofensiva, por norma, o lateral do lado da bola envolve no ataque dando profundidade e isso faz com que o médio ala desse lado possa procurar espaços mais interiores e apoiar assim o avançado que de outra forma ficaria demasiado só. É também dada uma cobertura ofensiva muito importante por parte dos dois médios centros que procuram sempre gerar uma linha de passe segura e uma saída sem risco para o portador da bola. Este é um dos segredos que faz do futebol costa riquenho tão simples: homens a procurar a profundidade e as desmarcações de ruptura e homens a procurar a cobertura e os apoios frontais. Realce ainda para o lateral esquerdo Junior Diaz, do Mainz, que é quem mais envolve na frente, o que explica o facto de a Costa Rica atacar mais pelo lado esquerdo do que pelo direito.

Qual o futuro?

A uma equipa com o valor individual da Costa Rica não se poderá pedir mais do que o conseguido. Não se poderia, aliás, exigir sequer esta qualificação fantástica que Jorge Luís Pinto e os seus jogadores já conseguiram. No entanto, dado o nível apresentado e dado que terão mais tempo para melhorar ainda mais, nada é impossível nos oitavos-de-final para a equipa centro-americana. Principalmente porque o seu grupo emparelha com o de Colômbia, Costa do Marfim, Japão e Grécia, teoricamente o mais acessível. Depois de ultrapassar o grupo da morte, terá capacidade a Costa Rica para fazer frente a uns oitavos com uma equipa outsider? O técnico, no momento dos festejos, não deixou de sublinhar: “estou feliz mas ainda falta muito. Falta o melhor“.

O Passado Também Chuta: Juan Schiaffino

o passado tambem chuta

Começou o Mundial do Brasil e para além da vergonhosa cachaporra que as autoridades distribuem pela população com o fim de ocultar a pobreza extrema, temos a surpresa da orgulhosa Espanha encher um saco de batatas contra a Holanda. No passado, temos a lenda dos anos 50 quando o Brasil foi derrotado na final do Mundial, também realizado no Brasil, pelo rival vizinho Uruguai. O Rio de Janeiro estava engalanado para a melhor festa; o Estádio do Maracanã rebentava de euforia, mas a bola rolou e o Uruguai escreveu uma das páginas imortais que o Brasil jamais digeriu.

O futebol é um mundo de mitos. Nessa final nasceu ou apareceu um mito chamado Juan Schiaffino. Era um homem sem ofício como se descreveu mais tarde, mas o saber dar pontapés numa bola levou-o para o Penharol. Era filho de imigrantes. Maldini, companheiro seu no Milão, disse que tinha um radar na cabeça, mas além do radar tinha ainda um passe de tira-linhas ao serviço de uma visão de jogo espetacular. Protagonizou, na época, a transferência mais cara do futebol mundial. Chegou a Itália e ficou gravado para sempre nas lendas do Milão. A conquista de três campeonatos sempre foi cara no futebol italiano. No entanto, é no seu Uruguai onde está presente em cada recanto que respira este desporto.

Com o jovem Rivera Fonte: Wikipedia
Com o jovem Rivera
Fonte: Wikipedia

Vencer na catedral de um país como o Brasil, que assume o futebol com religiosidade extrema, leva imediatamente a ser considerado um Diabo. Ainda hoje o Brasil, quando pensa em Schiaffino, tem pesadelos. O curioso do caso é que o seu golo foi o primeiro do Uruguai, mas foi o golo que atemorizou o Maracanã. Pepe, como era e ainda é conhecido, era um jogador primoroso. No entanto, a seleção Uruguaia era conhecida pela garra liderada por Varela. Como em muitos jogos e em muitas equipas, Varela e Pepe tiveram um desencontro. Varela reclamou-lhe mais entrega, mais correr… Pepe, com serenidade, respondeu: “eu corro quando você me passe uma bola ao pé…”.

Instalado em Europa e integrado na equipa do Milão, cedo começaram as comparações, e na década dos 50 o ponto de comparação chamava-se Di Stéfano. Tal como Kopa ou outros, Schiaffino disputou o lugar do argentino Di Stéfano. No entanto, foi humilde e considerava que pelo facto de jogar em equipas grandes as coisas eram mais fáceis. Está considerado entre os melhores dez jogadores de sempre e todas as crónicas falam dele como um arquiteto de fantasias, tanto quando passava como quando goleava. Representou também a Roma. Ganhou uma Taça Latina, três campeonatos italianos e com a Roma ganhou uma Taça UEFA. No seu Uruguai ganhou quatro campeonatos e inundou o Brasil com um mar de lágrimas no Campeonato Mundial de 1950.

Honduras 1-2 Equador: Magia de Valência de olho nos oitavos

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O RESCALDO

No Arena da Baixada, em Curitiba, Honduras e Equador defrontaram-se na segunda jornada do Grupo E. Após a goleada da França por 2-5 frente à Suíça, hondurenhos e equatorianos entravam em campo a saberem que, com uma vitória, chegariam aos três pontos e consequente segundo lugar no grupo, abrindo assim perspetivas para o apuramento para os oitavos de final da competição. Por isso, não foi de estranhar a predisposição ofensiva com que as duas equipas entraram no terreno. Ainda assim, foi sob perspetivas diferentes que Luís Fernando Suárez e Reinaldo Rueda montaram as respetivas equipas: ainda que com um 4x4x2 em ambos os conjuntos, com Bengtson e Costly no ataque hondurenho e Valência/Caicedo a formarem a dupla ofensiva equatoriana, o modo como os dois conjuntos idealizaram a partida não podia ser mais diferente. Durante a primeira parte, foi o Equador a tomar as despesas da partida, apoiado no duplo pivô Minda e Noboa, que procuraram sempre potenciar um dos pontos fortes da equipa do Equador: o jogo pelas alas, com Jefferson Montero e Luís António Valência a funcionarem como principais flechas à baliza adversária. Do lado hondurenho, Rueda optou por um estilo de jogo mais direto, com Boniek Garcia e Espinoza a tomarem as despesas de um modelo que procura sempre o jogo para os dois avançados da equipa.

No primeiro tempo, foi com naturalidade que o Equador tomou conta do jogo. Sempre mais pressionante, com um meio campo de maior intensidade, e com Valência e Montero a privilegiarem o jogo pelas alas, a equipa equatoriana ia dominando a partida, ainda que sem criar verdadeiro perigo. Do outro lado, e com menos argumentos, as Honduras apenas procuravam o contra ataque, sendo que o apoio dos laterais e médios-ala foi fundamental para dar maior profundidade ao jogo ofensivo hondurenho. Depois de uma entrada em jogo mais forte do Equador, que culminou com uma oportunidade flagrante falhada por Enner Valência aos 19 minutos, as Honduras foram conseguindo subir linhas e, aos 31 minutos, após falha de Guagua, chegaram à vantagem no marcador, após excelente finalização de Costly perante o guarda-redes Dominguez. A vantagem durou pouco para os hondurenhos, que, apenas três minutos depois, sofreram o golo do empate. À segunda tentativa, Valência chegou mesmo ao seu segundo golo na competição, com um excelente sentido posicional após lance na direita de Paredes. Num primeiro tempo mais emocionante do que bem jogado, destaque também para a bola enviada ao poste pelo avançado hondurenho Costly, aos 45+2, num lance em que apenas o poste da baliza de Dominguez evitou nova vantagem da equipa de Rueda.

Na segunda parte, assistimos a um jogo mais agarrado: com uma limitação óbvia das duas equipas em colocar um ritmo elevado em campo, apenas alguns lances esporádicos foram a exceção a uns segundos 45 minutos de fraca qualidade. Destaque por isso apenas para um forte remate de Bengtson aos 60 minutos, que foi bem parado por Dominguez, que acabou por se revelar muito importante no triunfo equatoriano. Um triunfo que chegou aos 65 minutos, num livre direto cobrado por Ayozi e que culminou com o terceiro golo na competição de Enner Valência, a figura maior nos dois jogos do Equador no Mundial. Até ao final da partida, o espírito das Honduras não impediu nova vitória da equipa de Luís Suárez, que com apenas um milagre poderá escapar à eliminação na terceira jornada. Quanto ao Equador, não ficou uma imagem tão positiva como na partida contra a Suíça, mas para a história ficou o mais importante: a vitória. E com Enner Valência como figura central.

Enner Valencia a marcar o segundo golo Fonte: Getty Images
Enner Valencia a marcar o segundo golo
Fonte: Getty Images

A Figura:

Enner Valência –  É um avançado que não se esconde do jogo e por isso não é de estranhar que, após duas partidas, seja o único jogador capaz de fazer os equatorianos festejar. Três golos em dois jogos fazem de Valência uma das figuras até agora do Mundial.

O Fora-de-jogo:

Caicedo –  O ex-avançado do Sporting voltou a fazer uma partida mais condizente com o seu real valor. Manteve-se sempre na sombra de Valência e foi claramente o elemento menos do quarteto ofensivo equatoriano. Esperava-se mais do avançado até agora na competição.

Suiça 2-5 França: Temos favorito!

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O RESCALDO

Que recital de futebol! Sete golos, outros tantos por marcar e um massacre francês durante noventa minutos de futebol ofensivo, dinâmico e digno de um Campeonato do Mundo. Ao fim de duas jornadas, a selecção francesa mostra-se ao mundo com uma das sérias candidatas a levantar o troféu no próximo dia 13 de Julho.

As duas nações vizinhas entraram para este jogo com os mesmos três conseguidos na primeira jornada do grupo e, por isso, sabiam que uma vitória lhes garantiria o apuramento para os oitavos-de-final da competição. Didier Deschamps surpreendeu ao deixar Pobga no banco e lançou Sissoko para o seu lugar, encostando Valbuena e Benzema nas alas e deixando Giroud como único ponta-de-lança. No lado suíço, Otmar Hitzfeld premiou o contributo decisivo que Memhedi e Seferovic tiveram na vitória da equipa sobre o Equador e entraram no onze helvético.

Tacticamente, as equipas encaixavam-se uma na outra e, por essa razão, os minutos iniciais da partida foram jogados a meio-campo, num ritmo muito baixo.  Até que chegou o primeiro golo da França e o jogo mudou totalmente de figura. O espectacular cabeceamento de Giroud, à passagem do minuto 17, foi a chave que desbloqueou todo o encontro, tornando-o num dos melhores que este Mundial já assistiu. A partir daqui, a França começou a comandar o jogo e a imprimir a velocidade necessária para quebrar a muralha suíça. Logo após o primeiro golo, surgiu o segundo-apontado por Matuidi- e, com ele, a sentença final para a selecção helvética.

Depois de sofrer dois golos de rajada, a Suíça perdeu-se completamente em campo e a desconcentração passou a tomar conta dos jogadores suíços.  Por seu turno, a França foi aproveitando a inércia do adversário e fez o 3-0 ainda antes do intervalo, através de um contra-ataque mortífero, que culminou com o golo de Valbuena. Antes já Benzema tinha desperdiçado um grande penalidade cometida infantilmente pelo defesa suíço Djorou.

Goleada ao intervalo, a selecção suíça nada mais tinha a fazer no segundo tempo, mas procurou rectificar alguns dos muitos erros cometidos na primeira parte e a entrada de Dzemaili para o lugar do desastrado Behrami estabilizou, embora momentaneamente, as hostes suíças. A França de Deschamps, mesmo entrando para segunda parte mais relaxada e a fazer uma gestão mais serena da partida, não deixou de acelerar, sempre que possível, o seu jogo e o perigo rondava sempre a baliza suíça. Os endiabrados Matuidi, Valbuena e Benzema facilmente galgavam metros no terreno em direcção à área adversária e as oportunidades que iam criando anunciavam os golos que seguiram.

Valbuena apontou um dos golos da França e foi uma das figuras da partida Fonte: Getty Images
Valbuena apontou um dos golos da França e foi uma das figuras da partida
Fonte: Getty Images

Já com Pogba em campo, Benzema voltou a marcar neste Mundial e fez o 4-0. Minutos mais tarde, foi o próprio avançado do Real Madrid, a atravessar um extraordinário momento de forma, que assistiu o portentoso médio Moussa Sissoko para o quinto golo francês. Estávamos perante a maior goleada deste Mundial e, pelo andar da partida, os gauleses pareciam querer alargá-la. Não fossem as duas ou três defesas do guardião suíço, Benzema e companhia podiam ter juntando mais tentos à sua conta pessoal, ainda antes do minuto setenta. Contudo, muito provavelmente a pedido de Deschamps, a França tirou o pé do acelerador e permitiu à Suíça crescer no jogo e mostrar a qualidade ofensiva que a caracteriza.

Num jogo de domínio absoluto por parte da selecção gaulesa, a Suíça ainda conseguiu marcar dois golos nos minutos finais e sair com alguma honra do Estádio Arena Fonte Nova. Antes do final do jogo, destaque para um lance bizarro protagonizado pelo árbitro da partida, Bjorn Kuippers, que apitou no preciso momento em que Benzema desenhava uma obra de arte em forma de golo, que acabou por não contar no marcador oficial. Faltou bom senso ao Sr. Árbitro.

A Figura:

França – Quando se faz um jogo desta qualidade e segurança defensiva e ofensiva parece-me oportuno destacar todo o colectivo francês. Apesar das excelentes individualidades que a enriquecem, esta equipa faz-se notar pelo seu conjunto bastante coeso, que se desdobra muito bem para o ataque e que conta com um leque médios e avançados muitos ágeis e evoluídos tecnicamente que certamente marcarão a diferença em muitos deste Mundial. Temos favorito.

O Fora-de-jogo:

Suíça – Sofrer cinco golos não é só responsabilidade da defesa, mas sinal de elevada desorientação e descoordenação de toda a equipa suíça. A selecção helvética é muito mais do que aquilo que mostrou hoje.

Itália 0-1 Costa Rica: Um hino ao futebol

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O RESCALDO

Um jogo, três nações. Costa Rica e Itália defrontavam-se na tarde desta sexta-feira na Arena Pernambuco, no Recife, mas eram três as nações a discutir o resultado. Atrás do ecrã, a Inglaterra torcia pelo triunfo da equipa que na ronda inaugural lhe havia custado os primeiros três pontos.

Era o grupo da morte: das quatro selecções, três constam na lista de vencedoras do Campeonato do Mundo de Futebol. A squadra azurra (campeã em quatro ocasiões) tinha pela frente a modesta Costa Rica, a fazer a sua quarta aparição na prova, e a surpresa na jornada inaugural alertara os italianos, mas nem por isso o conjunto Cesare Prandelli chegou preparado ao jogo.

Baseada numa estratégia de passes longos entre Pirlo, o construtor, e Balotelli, o goleador, a Itália sofria consigo própria: o médio da Juventus pouco ou nenhum espaço livre tinha, pelo que as ocasiões não surgiam. Foi apenas à meia hora de jogo que nasceu o primeiro lance de perigo iminente, precisamente pelos dois suspeitos habituais, e minutos depois repetiu-se. A partir daí, tocou-se um hino ao futebol.

A partitura eloquente começou a ser construída pela Costa Rica, de nome e táctica, que não perdia tempo para chegar à frente. Foi assim que Bryan Ruiz chegou ao golo, foi assim que o resultado se manteve. E se mudasse seria para aumentar, dado que a selecção da Américas Central beneficiava, ao contrário dos italianos, de todo o seu plantel para encantar os mais de 40.000 espectadores presentes.

Bryan Ruiz, o herói costa-riquenho Fonte: Getty Images
Bryan Ruiz, o herói costa-riquenho
Fonte: Getty Images

O maestro, é certo, estava do outro lado, mas ‘preso’ numa autêntica teia entrosada pelos oponentes. Na Costa Rica não houve um só solo merecedor de destaque: foi sim a orquestra toda quem compôs na perfeição a melodia da vitória, o hino ao futebol. Hoje, La Sele fez história.

Feitas as contas, a Inglaterra junta-se à Espanha nos ‘grandes’ do futebol mundial a dizerem adeus ao Campeonato do Mundo ao fim de apenas duas jornadas, enquanto a Costa Rica passa aos oitavos-de-final e deixa as restantes decisões do grupo para o agora ainda mais entusiasmante Itália vs Uruguai.

A Figura:

Costa-Rica –  Não há outra opção. O colectivo foi a palavra-chave para o sucesso e tão precoce apuramento da Costa Rica para os oitavos-de-final, sobrevivendo assim àquele que era indiscutivelmente considerado o Grupo da morte para, ao cabo de apenas dois jogos, avançar para a fase seguinte. É este o segredo do sucesso numa prova internacional e Jorge Luís Pinto soube transmiti-lo aos seus jogadores.

O Fora-de-jogo:

Dependência italiana de Pirlo e Balotelli – Aos pares não se passa um jogo. Costa Rica e Itália são equipas bem distintas e foi naquilo em que a Costa Rica acertou a 100% que a Itália falhou redondamente: não houve colectivo. A squadra azurra baseou-se em demasia na criatividade (bloqueada) de Pirlo e na potência (omitida) de Balotelli para chegar ao triunfo. Esbarrou numa autêntica teia dinâmica formada por 4,3 milhões de corações.